quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Para 2011

  • Poesia
  • Acertar tomadas: micro-ondas e ar condicionado
  • Bike no aterro aos finais de semana
  • Amar expandido
  • Listinha de TO-DOs ao chegar no escritório
  • Caminhar todas as manhãs
  • Jantar mais vezes na minha varanda
  • Ensinar ao Lucas a patinar. Patinar junto
  • Livros ao deitar
  • Aproveitar mais a minha avó
  • Desenhar colorido, cortar, colar, pintar e bordar
  • Reconhecer melhor o que vale a pena investir energia
  • Lançamento dos livros em abril
  • Aceitar melhor meus defeitos
  • Estudar mais sistematizado
  • Decolar o trabalho de poesia nas empresas
  • Brincar: Playmobil, Ligue 4, Harry Potter, ratoeira e todos os brinquedos que se tornarem preferidos do Lucas
  • Viajar para uma praia bem linda
  • Dançar
  • Visitar minha irmã em Vitória. Estar mais com as minhas irmãs
  • Ajudar: meu filho, família, amigos, vizinho, qualquer pessoa na rua, os que trabalham comigo e, principalmente, a mim própria
  • Deixar o Lucas viajar sozinho pela primeira vez: colônia de férias
  • Evoluir no trabalho de coaching
  • Encontrar um amigo diferente a cada 15 dias
  • Mais saraus
  • Menos culpa
  • Ajustar meu manjericão, que tá quase morrendo
  • Vida simples
  • Aprender a cozinhar um prato diferente por mês. Convidar os amigos para comer
  • Muito amor!
  • Poesia: sempre.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Ano novo: Rio Bonito

"O homem trança. O rio destrança"
Mia Couto

Rio Bonito é uma cidade que tem um rio percorrendo
a areia em volta dele
as pedras pra gente sentar conversando.
Estarão lá a Mel e a Flavia
amigas de infância
famílias juntas.
A gente var falar muito enquanto nossos filhos brincam
o ciclo estampando as fotografias
o amor confirmando tudo:
a passagem água do tempo
a margem mudando ao sabor das correntezas,
profundos ventos que não temos controle nenhum.
Não pega celular
não tem internet
a conexão possível é com a Era quando a terra sabia mais
arava a alma e todas as outras comidas
arejava o ser.
Vou sentir uma saudade danada da Jac,
que tinha sua ida progamada,
mas mudou porque seu cão adoeceu.
Mas está certo:
o universo tem a sua sabedoria e estou velha de mais pra duvidar.

Cuidemos todos da nossa passagem:
peito aberto
gentileza adentrando sentimentos
colo pra tudo que vem
flores para o ano que se anuncia
vida plena
rio seguindo fluxo de mar.
Amar. Amém.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Conclusão

Casa aberta, palavras, poemas
uma música dançando movimentos
sinfônica de ser.
Nenhum dia me faltou esperança ou houve redenção às modas:
neste ano 2010 os tempos estão loucos
os homens ataviados
difícil demais.
As confusões dos homens não são mais do que as minhas
desatando os nós arduamente,
despindo o passado para que haja invenção.
Eu finco ante a vida sempre arrumada
pronta a navegar ombros largos
recostar meu rosto cansado por noites, sonhos, barriga, respiração.

É no corpo que o amor acontece,
é na pele.
Tudo que se pensar sobre ele não resiste ao toque, ao peso, aos líquidos.

O amor ferve por dentro e
segue tecendo a humanidade sem temor nenhum.
É Deus em eterna feitura
Ofegando meu ritmo
Incitando meu texto.

O amor não tem regras:
obedeça-te.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

O toque

Houve um dia, um silêncio. Observei movimentos. Um corpo entregue a outro corpo pelas mãos, deixando que estas lhe imprimam força e direção.

É preciso estar delicado para ouvir um toque: não um empurrão, não uma forte pressão, mas um toque. Mãos leves, simples, precisas num contato que deve falar: comunicação.

Corpo com corpo: em si e no outro.

Não há no mundo cena mais bonita de ser vista. Os corpos em relação dançam ritmos, sensações, sentimentos, formas diversas. Eles se sabem sem palavras e ensinam caminhos. Livres, os corpos são a expressão do universo.

O toque me disse ser esta unidade mínima do encontro. O primeiro suspiro, a primeira respiração que se funde com o outro. Está certo, há um passo antes: o olhar, que pode até ser mais intenso do que o toque. Mas aqui não falo de intensidade, falo de toque: sua temperatura, pressão, textura e outras qualidades que ele pode adquirir.

O encontro humano é um campo infindável de possibilidades. Ao entregarmo-nos a ele na dinâmica dos corpos, tudo se transforma. Quero dizer com isto que é preciso responsabilidade. Perceber contornos, sinais de acolhimento e pedidos de socorro é a consciência que todos devemos desenvolver para entrar no contato com outro corpo.

Num exagero profundo e comprometido afirmo: a nossa responsabilidade conosco e com o mundo começa na nossa maneira de tocar e ser tocado. O corpo é a casa da alma. Toda renovação se inicia por ele: nossa carne. Se de pele somos feitos dentro e fora, se este é o tecido que a tudo costura, devemos tomá-lo como quem respeita a vida humana e acredita no amor.

domingo, 31 de outubro de 2010

Dançantes por natureza

Movimento da vida:
Palavra que transita livre
Inscrita no corpo
Escrita na poesia.

Estão nascendo os primeiros escritos da minha vivência na Escola e Faculdade Angel Vianna.

A turma tem um blog com o mesmo nome deste post: DANÇANTES POR NATUREZA. Lindo, não?

Sigamos dançando.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Revelação

Uma mulher inteira, interna, sem centro.
Uma mulher que vive no sentimento.
Eu vi Deus em mim:
Dentro.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Peguei no blog do Bê

“Flor que primavera sempre,
brota imaginada,
imagem e nada,
tudo possível,
encantada,
vem cá ver,
pra acreditar...”
Bê Sant Anna


O Bê é um amigo mineiro + poeta + músico + profissional de comunicação e agora + pai que me chamou esta semana no skype pra contar como tinha sido bom sentir a sua Beatriz mexer na barriga da mãe.

Conheço o Bê:
+ no virtual do que no real
+ no coração do que na aparência
E muito + no íntimo do que um tanto de gente que eu vejo todo dia, porque a gente se comunica pela língua sagrada da poesia.

É uma experiência
É bom
Tem amor

Foi por isso que quando ele me contou este fato tão cotidiano da realidade gestacional que eu disse essas coisas:

"Gostaria de ter sido dita assim,
desde pequena,
desde barriga,
desde antes concebida...
será que fui?

Se não fui, agora vou dizendo,
pra ver se eu me lembro,
pra ver se a memória criada tem a mesma validade.

Adoro ser uma flor desse jeito germinada.

Quando eu estiver sem água, me rego de você.
Quando eu estiver linda, te enfeito, me faço um buquê."


É A POESIA PURA E MAIS NADA.

É TÃO BONITO QUE SÓ PODE SER VERDADE!

E foi por isso que preparei este texto mesmo antes dele postar,
porque eu sabia que ele ia escrever ISSO,
eu sabia que ele não ia perder ISSO,

ESTE ACONTECIMENTO LINDO QUE A POESIA É.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Estréia do meu cantor


CORAÇÃO, CORAÇÃO, CORAÇÃO!

Meses de ensaio, idas e vindas, desejo, preguiça, compromisso, medo, sono, foco, persistência, displicência, disciplina... quantas coisas a gente aprende numa aula de música, hein? Quantas a gente aprende sendo mãe?

É chegada a hora:
Foto, filmagem, família, ansiedade
Ele acelerado e eu ali, cara a cara para se ele esquecesse a letra.
Qual nada...
Primeiros acordes
Entrada perfeita
Tudo melódico naqueles olhos brilhando
Sorriso de canto
Corpo pouco a pouco balançando.

CORAÇÃO, CORAÇÃO, CORAÇÃO!

Uma alegria na qual não caibo
Aplausos, vibrações
Abraços, emoções
Ser mãe é merecer o paraíso!

A música?
Vilarejo, Marisa Monte.
Dá pra segurar?
Foi lindo demais!

terça-feira, 26 de outubro de 2010

A gente estava lá

Via SMS:

25 out, 2010 6:25:05 PM (de Karla Natal para Carla Vergara)
Adélia tá soltinha aqui no meio da livraria. Esta ela e seu amor feinho! Mto fofo! Vc vem? Vou guardar seu lugar até qdo der

25 out, 2010 6:25:54 PM (de Carla Vergara para Karla Natal)
Já tô aqui dentro garantindo o meu lugar e o seu. Vem logo! Bjs


Este post não é só meu, é também da Karla Natal, que estava comigo na Travessa do Leblon para o lançamento de A DURAÇÃO DO DIA, novo livro da Adélia Prado. Combinamos de escrever juntas sobre a delícia que foi escutar esta linda poeta falar.

Minha primeira idéia era fazer um início e um final e, deixar o meio para a Karla rechear. Só que este formato não deu tão certo porque a Adélia é poética demais pra chegar na gente do mesmo jeito. O texto da Karla e o meu estavam inteiros em si, porque a poesia dela nos completa de modo particular, fez uma gestalt nas nossas almas, dá pra entender?

Então vai ser assim: o meu texto e depois o dela. Vai ficar enorme, mas é o tamanho que a gente precisa pra se expressar.

Primeiro eu:

Ela (Adélia) estava muito simples quando a vi da primeira vez, muito sentadinha no café, cotidiana. Carregava a vida nas ancas, os olhos cheios de rugas e poesia. Observava uma coisa que lhe mostravam, uma coisa que eu não vi o que era. Estava atenta, fazendo bem o que disse minutos depois:

“A poesia é maior que o poeta
A obra é maior que o artista
É melhor mesmo nem conhecê-lo, é sempre uma decepção
O meu cotidiano?
Eu tenho que falar isso? O meu cotidiano não interessa...”

O que mais ela disse? Coisas de uma sabedoria ancestral:

“Eu tive uma experiência poética: a beleza através da palavra. Algo assim: É TÃO BONITO QUE SÓ PODE SER VERDADE! É uma convicção interna de que algo que é maior que você existe. Mas não é isso que eu estou falando aqui, é uma experiência, é vital, é sangue e ossos.”

“Jung teve a coragem de dizer que religiosidade é um instinto, uma vontade de descansar em algo maior, deitar no seguro. A poesia é religiosa neste aspecto, ela religa a um centro de significação e sentido, à transcendência.”

“O poema verdadeiro é sempre novo. A experiência com a beleza é sempre nova. A arte faz isso e, se você dá um passo a mais, cai na mística.”

Então ela lembrou um poema de Augusto dos Anjos que eu não me lembro qual é. Vamos ver se a Karla, que vai escrever este post comigo, anotou. E citou um trecho do poema Tarde de Maio, do Drummond, que a deixou neste estado de “NOSSA, COMO É BONITO ISSO!” :

“Como esses primitivos que carregam por toda parte o maxilar inferior
de seus mortos,
assim te levo comigo, tarde de maio”


Disse ainda:

“A poesia é a linguagem por excelência, é a síntese. Diz-se num poema o que numa prosa pode levar páginas e páginas.”

“O poeta expressa o que cada um sente mas não consegue articular. Se o poeta sofre? O sofrimento do poeta é negar-se a isso.”

“O poeta é o cavalo do santo.”
ISSO É UM POEMA, NÃO É ADÉLIA?

“A pessoa é tocada pela poesia onde a humanidade dela é confirmada. A poesia humaniza pela beleza.”

Entre essas palavras, alguns poemas foram lidos por ela, pela atriz Cassia Kiss e pelo poeta Ramon Mello. Eu vou colocar aqui o poema com o qual ela concluiu a conversa:

Mulheres
Ainda me restam coisas
mais potentes que os hormônios.
Tenho um teclado e cito com elegância
Os Maias, A Civilização Asteca.
Falo alto, às vezes, para testar a potência,
afastar as línguas de trapo me avisando a velhice: “Como estás bem!”
Aos trinta anos tinha vergonha de parecer jovenzinha,
idade hoje em que as mulheres ainda maravilhosas se processam
ácidas e perfeitas como legumes no vinagre

De qualquer modo se o mundo acabar a culpa é nossa.

E depois, quando eu fui pegar o autógrafo no meu A DURAÇÃO DO DIA e no do Lucas QUANDO EU ERA MENINA, ela ainda dedicou! Perguntou a idade dele e afirmou a saudades no neto. Tão avó, tão feliz da vida quando eu disse que o primeiro poema que eu decorei foi ENSINAMENTO! Pode isso? Ela feliz? Imagina eu?!

“Carla, que a poesia seja sempre sua fiel companheira. Com carinho, Adélia Prado”
- SERÁ!

“Para o Lucas ficar amigo da Carmela e do Alberto. Muitos beijos da Adélia Prado”
- JÁ É!

Concordo com você, Adélia: “Meu bem supremo é o lugar onde sonhar é a máxima vigília”. Sonhei te conhecer e realizei.

Agora a Karla:

A Carla enviou por email aos amigos o tal evento de lançamento na segunda. Eu li logo pela manhã e torci pro dia durar pouco e me colocar logo de frente pro espetáculo lindo e simples que é ouvir Adélia Prado.

Eu tinha terapia no horário marcado, mas não senti culpa em desmarcar...tinha certeza do que estava fazendo, já que já tinha tido meus momentos de ‘tietisse’ em outras oportunidades.

Meu vô, de quem eu sinto saudade há quase 2 anos, me deu embrulhado pra presente a coleção inteirinha da poeta – eu estudava sua obra na escola da Lucinda e eu cheguei em casa tão maravilhada, que ele quis que eu não deixasse de ter por perto nenhuma linha assinada por ela.

Ele me deu um tesouro e se referia tão docemente a dona dos livros que me comprou, como D. Adélia – que podia ser uma vizinha, uma amiga da família...foi então que contei a Carla que esse foi o primeiro livro que meu vô não me deu, mas não tinha tristeza nisso, tinha poesia, a tal da experiência poética, arrebatadora e que eu soube entender.

D. Adélia é simples e eu me peguei desejando muito ser assim também. Eu já não me lembro o que foi que ela citou sobre Augusto dos Anjos, porque especialmente ontem, estava mais atenta ao que é ingênuo, puro e cotidiano. Ela disse: ‘eu só falo português e não leio em outras línguas’. ‘Eu não tenho muita habilidade com computador, escrevo a lápis e o Zé passa pra mim’...

Perto dela todos os outros parecem sobrar, gritam em seu exagero, é excesso. Aos 27 anos e eu querendo cuidar pra envelhecer na medida do necessário, ser bonita e dona, como a minha D. Adélia.

Eu de novo:

Agora é depois do almoço quando eu estava com duas amigas contando: como é que a gente finge que o mundo continua igual depois de encontrar Adélia Prado, hein?

A gente não finge
O mundo não volta
A gente fica com ela dentro da alma
Cheia de poesia e beleza
Com muita vontade de ser melhor.

domingo, 24 de outubro de 2010

Devoção

Amanhã tem Adélia Prado autografando seu novo livro A DURAÇÃO DO DIA, na Travessa do Leblon.

Eu não devia dizer isso aqui porque a verdade é que eu queria que não fosse ninguém. Queria que estivéssemos lá apenas ela e eu, íntimas, numa prosa de fim da tarde com cafezinho, sem hora, sem pudor, desejo presente, toda entrega possível.

Não, mentira, queria ficar com ela em silêncio, olhando. Observar como ela se move, as expressões do seu rosto, a roupa que ela usa, os modos como mexe no cabelo e come.

Pensando bem, gostaria que Adélia não me visse. Talvez eu não consiga ficar diante dela, me sinta estranha, pensamento vazio. Eu não saberia o que dizer diante da sua sabedoria, da essência poética que ela produz.

É melhor mesmo que vá muita gente e eu fique anônima. Publico este post torcendo para que um monte de gente que gosta dela leia e esteja lá pedindo a assinatura, para que a minha vez passe sem ela me perceber.

Não preciso que ela diga nada olhando pra mim. Ela já diz muito quando estou em silêncio e com dor.

"Não há culpados para a dor que eu sinto. É Ele, Deus, quem me dói pedindo amor como se fosse para eu ser Sua mãe e O rejeitasse.
Se me ajudar um remédio a respirar melhor, obteremos clemência, Ele e eu.
Jungidos como estamos em formidável parelha, enquanto Ele não dorme eu não descanso".
Consanguíneos, Adélia Prado em A duração do dia.

É a companhia de Deus está mulher.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Ressurreição

Aboliu-se do direito de exercer-se mãe.
O dever, que nasceu quando o filho lhe rompeu o ventre,
era fardo, forte demais.
Mais fácil abandonar as dores soltas
deixá-las trôpegas pelo caminho em busca da própria cura.
Um filho,
por primeiro e para toda a vida,
te vasculha as entranhas: não tem jeito.
Não são todas que conseguem carregar pela vida as imagens partidas de si.
Suas lentes tontas não juntam
não tocam
não cuidam.

Mas a vida é esta possibilidade viva de se ter outra mãe
Nascer de novo sem morrer, tantas vezes
até que se tenha alegria.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Dorotéia, a centopéia

Por dias mais criança no dia das crianças, e nos outros também


Dorotéia, a centopéia, nasceu num livro de Ana Maria, foi assunto da hora de dormir com meu filho por alguns dias e, ontem ganhou formas coloridas de cartolina unindo três gerações. Vó Sônia, Lucas e eu, muito intensos na tarefa, recortamos corpo, pernas e sapatinhos, colamos, pintamos e desenhamos até que tivesse vida esta personagem de ficção.

Foi tão alegre a sua feitura, tão comemorada a sua chegada, que Dorotéia não se furtou de se exibir para as visitas que chegavam pelo dia das crianças. O bolo de chocolate na mesa e lá estava ela se provando nascida, me mostrando mãe. Era uma testemunha não ocular da nossa viagem, pois que seus ângulos estavam fartos em traduzir os olhos que se debruçaram para a sua produção.

Eu mais uma vez alfabetizada no brincar-vocabulário que se aprende no cotidiano da maternidade e me torna íntima da menina que deixei de ser por força da idade, mas não da imaginação.

Hoje, logo depois do almoço, recebi a seguinte ligação:
- Mãe, posso levar a Dorotéia dobradinha na mochila pra casa do meu pai?

Pensam que eu disse sim? Mas é claro que não! Como eu poderia cortar a nossa ligação sem ao menos uma despedida? Um aceno de mão? Mas achei fofo que meu filho tenha reconhecido o nosso umbigo, mesmo sem registro de certidão.

Veio a inspiração: não há melhor poesia do que a vivência onírica de um filho. Nada é melhor do que um livro, um brinquedo construído, as cores espalhadas na mesa da sala e a força da criação.

Dorotéia vai ficar exposta na feira de livro da escola: nós unidos a ela, em eterna gratidão.

Dorotéia, a centopéia
Ana Maria Machado
Coleção Batutinha

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

É tanta coisa boa que resolvi fazer um post!

Não é raro abrir aqui no blog um post para recomendações de trabalhos bacanas dos amigos.
Cada coisa boa acontecendo! Muito bem:

1) Sexta agora, dia 08/10, 20h, show do Mauro Aguiar na Sala Baden Powell (Av. Nossa Senhora de Copacabana, 360)


Conheci o Mauro de uma forma muito moderna: ele me adicionou no facebook por ter visto poesia nas minhas aparecências na Internet. Depois de aceitar, descobri que ele é um grande compositor e cantautor! Comprei o seu disco Transeunte e vi que a coisa era muito mais séria do que eu pensava.... Quando ele me perguntou o que eu tinha achado o melhor do CD, escrevi uma coisa que depois foi para sua página no myspace sob o título "Opiniões sobre o transeunte que me deixaram nas nuvens":

"O melhor do CD é o CD todo. Quero dizer com isso que a sequencia de músicas, a mudança dos ritmos e temas dá uma cadência deliciosa de se escutar. Existem surpresas: você não espera que de repente apareça um fox!
O que sinto é que você respeita muito o ritmo que a ideia vem, como se a poética viesse primeiro e se vestisse de palavras e melodias. Daí você fica transparente e honra o nome dado ao trabalho.
A tua poesia é linda, vasta e farta. Dá vontade de ficar por perto pra se aquecer nas dobras e aproveitar as sobras! Passear pelos tantos universos que você apresenta.
As vozes femininas escolhidas se casam perfeitamente com as músicas... e se você pede que eu eleja uma, não farei apenas pela beleza explícita, mas por ter me caído justa e certa, na medida do que eu sinto: "os olhos da cara" é demais!!"


Pra completar, o show de sexta vai ter participação de Guinga, Paula Santoro e Cecília Stanzione. Imperdível!


2) Sexta que vem, dia 15/10, Gallo Absurdo, as 22h no Calabolço, em Vila Isabel (Felipe Camarão, 130).


Gallo absurdo é uma banda de rock instrumental realmente surpreendente. Foi surpreendente ainda mais porque conheci o Lula Washington tocando MPB no violão e, só depois, ouvi o que ele era capaz de fazer com uma guitarra junto com os outros gallos: um absurdo!


3) Larissa Sarmento é uma das Mulheres de Caio, peça em cartaz no IBAM de quinta à sábado as 21h, no Humaitá (Largo do IBAM, n.01, Rua Visconde Silva)


Mulheres de Caio é uma adaptação de 4 contos de Caio Fernando Abreu: O Príncipe Sapo, Creme de Alface, Os Sobreviventes e Dama da Noite. Tem poesia, delicadeza, humor e apresenta uma visão dramática do mundo moderno através do olhar do autor gaúcho, considerado por muitos como um “fotógrafo da fragmentação contemporânea".

Larissa, além de atriz, é uma grande poeta. Quem a viu dizendo poesias em uma roda aqui em casa, ou em recitais na Casa Poema, sabe do que eu estou falando...


4) A exposição "Volte Sempre" da Julia Miranda fica em cartaz até 31 de outubro no Paço Imperial, Sala 8b, pátio interno, Praça XV de Novembro, Centro.

Como eu conheci a Julia? A Ana Carneiro, que está trabalhando nos projetos gráficos dos meus livros, nos apresentou por skype - porque ela mora em Londres - e agora ela está fazendo as ilustrações do meu livro O PALHAÇO E A BAILARINA.


5) E para quem estiver em Salvador, tem 3 HORIZONTES na Caixa Cultural

3 HORIZONTES é um espetáculo do meu querido Cadu Cinelli e seu grupo OS TAPETES CONTADORES DE HISTÓRIA: lindo, delicado, emocionante!



"Temos a arte para não morrer da verdade."


Friedrich Nietzsche

sábado, 2 de outubro de 2010

A ambiquidade organizacional

Publico aqui o prefácio do livro A AMBIGUIDADE ORGANIZACIONAL, do grande mestre da psico-sócio-análise italiana GIUSEPPE VARCHETTA.

Quem me apresentou o Pino, que é o Varchetta dos mais chegados, foi o Marco Dalpozzo, com quem venho tendo trocas profissionais profundas relacionadas à vida das pessoas no mundo do trabalho, além de uma amizade muito bacana.

É um prazer e um sinal dos novos tempos que este livro esteja chegando no Brasil. Pino trata os temas organizacionais com a poesia necessária para que o ser humano seja visto da forma apropriada: com sangue, suor, amor, beleza, angústia e toda a sua ambiguidade.

O lançamento deste livro será no dia 04/10 (segunda-feira) no Instituto Italiano de Cultura do Rio de Janeiro, 18h, na Sala Italia, Av. Antônio Carlos, 40 4º Andar - Centro, Rio de Janeiro.

No mesmo dia será realizado um encontro aberto a todos os interessados entre ele e a professora Sylvia Vergara, minha avó com todo orgulho! As informações para quem quiser participar deste encontro são:

Data: 04/10
Horário: das 10h às 12h
Local: UFRJ – Campus Praia Vermelha – Salão Moniz Aragão do Fórum de Ciência e Cultura (av Pasteur, 250)
Realização: Human Focus e Instituto de Psicologia da UFRJ
Entrada Franca!

Va benne! Ao prefácio escrito pelo Marco Dalpozzo:

A Fronteira da Autorrealização

É com honra que escrevo estas palavras para apresentar a última obra de Giuseppe Varchetta. Ele representa uma importante escola de estudos, pesquisa e contribuição no estudo das organizações modernas. G. Varchetta foi diretor de Desenvolvimento Organizacional e Diretor de Recursos Humanso na Unilever Itália ao longo de 30 anos até o início de 2000, para depois dedicar-se plenamente ao estudo e pesquisa organizacional. Cofundador da escola de psicossocioanálise italiana (Ariele), Varchetta se aprofunda vocacionalmente em interpretar, de forma inovadora, como a realidade e a vivência do ser humano e das organizações evoluem no tempo. Pouco conhecido aqui no Brasil e de relevante importância na Itália, apoiar a publicação deste último trabalho de G. Varchetta representa a mínima contribuição pessoal em testemunhar no Brasil esta experiência com a esperança de aproximar ulteriormente duas realidades, a italiana/europeia e a brasileira, que seguramente têm muito em comum e a aprender uma com a outra.

G. Varchetta é um denso e generoso pesquisador que desfruta da rara capacidade de estudar, se aprofundar em uma ideia e vivê-la no dia a dia organizacional seja como executivo e hoje como consultor. Sua perspectiva traz sempre um rico esforço de inovação na pouco explorada vivência emocional das pessoas nas organizações. Seus estudos e aplicações trazem novidades na relação indivíduo–organização, uma leitura pioneirística e visionária do que acontece. Ele enxerga a estética e a heurística do ser humano trabalhando. Quem teve a oportunidade de acompanhar a evolução de sua pesquisa ao longo de sua experiência humana no trabalho (veja bibliografia do autor), teve a possibilidade de adquirir uma leitura evolucionista das angústias humanas e seus impactos em nossa mais ampla realidade social. G. Varchetta encontra uma intuição ao percorrer a realidade organizacional. Com ela concebeu ao longo de anos de pesquisa teórico-prática sempre extremamente generosa um filho conceitual, originário e original, que nasce e transforma o pensar e a perspectiva organizacional.

Neste último trabalho G. Varchetta prospecta a definição e o conteúdo de uma possibilidade da existência humana da autorrealização. Após um complexo caminho evolutivo, estamos experimentando a escolha do por que somos o que somos e fazemos o que fazemos. Organizações defensivamente utilizadas hoje nos deixam impotentes frente às máquinas inteligentes que fragilizam as paredes burocrático-culturais das instituições. Seres humanos despreparados em sentir com os próprios corações são chamados a interpretar a realidade com sentimentos próprios, podendo libertar-se dos trilhos de um percurso educacional moral, pouco cientifico e imposto, podendo enxergar-se humanamente e criativamente ambíguos. A experiência da ambiguidade retomando os clássicos da escola latino-americana (José Bleger) representa uma experiência primordial como nos mostra e explica G. Varchetta. Uma experiência natural e biológica do ser humano, que nos ajuda a reaproximar nosso mundo interno com o externo e podendo assim descobrir-se muito mais tortuosos e complexos, amplos e misturados com infinitas possibilidades de caminho a escolher. O autor nos mostra como o ser em busca de sua natural expansão requer um trabalho composto de saber fazer, uma dor e esforço de parir e de querer ser deste mundo com uma presença única e original: a autoria.

Temos o desafio de nos transformarmos em seres humanitários, conscientes da experiência global em um planeta finito e nosso. A contribuição do autor é marcante em expor intensamente mais uma fronteira existente, mas não ainda claramente enxergada: de como nós indivíduos componentes desta humanidade, habitantes da mesma casa e detentores dos mesmos direitos e deveres, precisamos, em primeiro, transformar a nós mesmos e as organiza-ções nas quais atuamos, em ambientes mais conscientes de nossos mistérios, originalidades e ambiguidades.

Após a leitura desta sofisticada obra, experimentei a vontade de narrar mais uma estética da realidade organizacional que acontece densa e não ouvida e que pode mover ou bloquear as pessoas fazendo. Os resultados das empresas são feitos de olhares, sorrisos, sofrimentos, medos, desejos, vidas vivas, únicas e belas. Aprender a contá-las com a coragem desta ambiguidade admissível é uma oportunidade de dar um salto na compreensão de nós mesmos e construir organizações mais saudáveis e sustentáveis.

É fundamental, ao terminar esta introdução, agradecer as pessoas que traduziram e contribuíram na releitura desta obra não fácil. São elas: Bruno De Nicola, que tem curado a tradução do italiano; e Carla Vergara e Daniel Karrer, que com sua aprofundada releitura em busca do efetivo sentido e significado das palavras, conseguiram dar a exata dimensão de quanto o autor se esforça em comunicar e que a barreira linguística, às vezes, pode comprometer a qualidade.

Rio de Janeiro, Outubro de 2010.
Marco Dalpozzo

sábado, 11 de setembro de 2010

Influência, amor e outras divagações sobre o Caio

“Venha quando quiser, ligue, chame, escreva - tem espaço na casa e no coração, só não se perca de mim. O que tem me mantido vivo hoje é a ilusão ou a esperança dessa coisa, "esse lugar confuso", o amor um dia.”
Caio Fernando Abreu


Caio Fernando Abreu me dá grande liberdade. Tão íntimo ele se torna, tanto me entorna que, por vezes, penso que fui eu que escrevi seus textos numa tarde clara de mim, quando posso ver o que só haveria de ser visto sem lucidez. Ele AMA - e amor é o que sinto gota a gota no espreguiçar das horas em que não consigo me expressar de tanto que amo sem cessar.

É justo com o amor que se estarreça sobre ele. Que para ele exista um caminho direto de ser dito, vivido, experimentado. É certo que a vida se amplie em seu nome, por tudo que ele é de profético na vida do homem.

Eu não acredito na não capacidade de um homem amar. Ou não aceito. Amar é tão humano quanto nascer com o sangue correndo nas veias. É essencial, existencial, fundamental, natural feito acordar, comer, movimentar, respirar.

O amor tem muitas formas e é preciso que nenhuma delas seja respeitada para que se ame sobremaneira, sobre todas as coisas, sobretudo.

É de uma nudez assustadora o que Caio fala. Cada palavra vai encontrando uma espécie de casa na nossa alma. É doido porque ele chega num nível de esclarecimento da própria dor sem perder um tico de garra de ser feliz. Sabe o peso de transgredir, mas não arreda o pé.

Está certo: cada texto segue o seu caminho no leitor que lhe dá uma chance. Quanto a mim, eu tenho esta imagem do Caio conversando comigo, acolhendo as minhas inquietações, segurando a minha mão para juntos cantarmos nas estradas da vida.

E tem mais: toda vez que eu leio o Caio me toma uma gana de escrever feito ele: frases longas e pouca pontuação para não atenuar a angústia de se confessar. A poética dele se agarra na minha, abocanha os sentimentos que estavam adormecidos nos cantos e os arranha de palavras, os beija com força.

Há muita paixão no jeito que viveu a vida. Só de saber que ele existiu eu me sinto menos só neste século XXI, nesta casa, neste corpo, nas minhas escolhas. Eu acho a minha loucura saudável e deixo de ter saudade da minha ignorância pessoal. Liberto sonhos. Fico verborrágica, pluri, intra. Fico EU, aproximando o que por vezes quero cegar.

A vida é quente no Caio. É hot. O frisson que ele me causa sempre que eu derramo os seus textos sem ressalva é o que desejo e realizo.

domingo, 5 de setembro de 2010

Construção do amor

"Cada olhar que cruzo, cruza em mim um arrepio e um pensamento “será você?”. Mas como saberei te reconhecer? Há dias que eu nem me reconheço... faltará uma metade, um terço? O quanto de mim carregaste com você? Falta um quarto, um quintal com certeza! Ainda falta nossa casa e quanta beleza por reviver... Ajustamos nossos relógios invisíveis e penso às vezes que meu ponteiro me desapontou. Chegarei atrasado, ao nosso encontro marcado meu amor?

Passo dias a pensar como serás. Não existirá passa-tempo mais desejoso, mais ansioso do que a construção do amor. Serás filha de Iemanjá? Te encontrarei na beira-do-mar? Me encontrarei na beira de chorar? Com que roupa estarás? Como serás que te vestes? Com que olhar te despes? Com que imã me imanta? Serás doida? Serás santa? Como investes o teu tempo? Para quem chega os teus tormentos?

Minha alma se lança, meu olhar de tanto rodar fica sem fôlego e sem sossego.
Ainda terás muitos anos para se esconder? Ainda terei muito engano por me deter?"

Este poema não é meu. Aliás, ele é meu, mas foi escrito pela minha grande amiga Jacqueline Gagliardi. Eu ando com muita preguiça de escrever, então, sigo lendo, conversando e, vez ou outra, sinto minha alma capturada, como se outros proferissem as minhas próprias palavras.
Visitem este ANJO NO DIVÃ.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Insight

Poucas coisas comunicam mais do que o silêncio.

"Nós somos medo e desejo,
Somos feitos de silêncio e som,
Tem certas coisas que eu não sei dizer..."
Lulu Santos e Nelson Mota

Inside.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Notícias

Minha poesia está dormindo um sono bom. Não tenho ímpeto de escrevê-la, nem pressa. Afastei-me um pouco da urgência de registrar e me deixo mais tempo convivendo com tudo dentro. Sinto como se os versos pudessem reduzir o que cresce no meu peito. Sinto prazer por tudo que sinto e uma vontade de não deixar escapar nada.

Bons amigos. Poucas palavras.

Meu corpo está em conforto neste momento recostado de alma.

Minha poesia está virando borboleta, para que eu possa voar com suas asas.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Vivendo a vida, ensaiando a morte

Sally é minha avó não por força hereditária, mas porque seu filho tornou-se o meu outro pai quando eu era ainda menina. Uma avó que não veio pronta, dizem as histórias que eu escuto. Foi preciso tecer o fio genealógico com o tempo. Mas lembro firme que, no dia do meu casamento, a nossa linhagem já estava certa, estampada no seu sorriso, na sua maquiagem.

Certa vez, não faz muito, levei Sally comigo para Parati. Era feira de literatura, grande festa que há por lá. Caminhamos por entre as pedras. Tomamos cachaça. Ouvimos o que se passa na imaginação dos escritores. Fazia graça encontrar os amigos na sua companhia, porque ela é engraçada mesmo. Logo se enturma, dá os seus conselhos, mas com enorme discrição. É uma presença delicada, que nos chega pelo coração.

Outro dia ouvi desta avó a seguinte lição: “A gente deve se integrar a vida. Eu tive os meus percalços, mas sempre desejei ser feliz. E fui.” Entendi o que já tinha entendido: que ela agora se doa por nada. Profere ensinamentos como que vai deixando um pouco de si nos nossos sentimentos.

Ontem, regada de vinho, ela ensaiava morrer. “Eu vou me sentar, sentirei a morte vindo pelo meu corpo e a deixarei entrar, tomar conta de mim. Toda relaxo para ir. Lá chegando, no outro plano, serei recebida por muitos amigos. A primeira pessoa que encontrarei será o meu amado marido”. Representou com o seu corpo ao modo de quem bem entende o ciclo. O que poderia parecer macabro, veio em largas risadas comigo.

Às vezes peço que ela venha ficar com meu filho: uma alegria para mim e para os dois. Casa cheia das histórias que eles criam. Eu colho estes frutos depois.

A canja que ela sempre fez foi o meu único alimento possível na gravidez.

Assistimos juntas ao jogo da copa na arquibancada de plantas no quintal da minha mãe. Meu filho alisava sua pele marcada por 82 anos de memória feliz. As veias já saltando enquanto ela explicava que aquelas eram as provas de uma vida transitória, que terá lindos caminhos astrais. Ela sabe que o planeta humano é apenas parte dos trajetos universais.

Uma mulher precisa vestir-se de si” - é a frase que eu intuía há alguns dias e que agora encontrou o seu lugar na velhice-criança que ela tem. Sally ensaiava a morte como quem autoriza a própria partida, por bem ter vivido a vida. Na minha lembrança, antes de ir, ela se deixa de herança. Amém.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Mais poesia do encontro com Elisa Lucinda

Tudo que é bom deve se repetir.

Neste clima, eu e minha querida turma da Casa Poema faremos mais um recital de poemas de Elisa Lucinda, seguido de um delicioso bate-papo com ela.

Dia: quarta-feira (09/06)
Horário: 20h.
Local: Casa Poema - Rua Paulino Fernandes, 15 - Botafogo
Tel: ( 21)2286-5977 / (21)2286-5976

Entrada Franca!

A casa agradece a doação de livros de poesia novos ou usados.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Declaração

"Mulher, ai, ai, mulher
Sempre mulher
Dê no que der"
Vinícius de Moraes e Antônio Carlos Jobim

Todos os poemas que escrevi
Eu vou mostrar
Para que se acalmem as palavras de amar .
Meu amor em versos
Pelo universo que é gostar.
O desejo fluindo nos verbos que não tem fim nem fundo
É o mundo que eu construo sem medo e sem ressalvas.
As noites que dedico à minha alma
Não tem os limites e os contornos
Do espaço delimitado pelo corpo:
Vem do infinito humano
Que se cria a cada dia,
Em cada passo -
Uma coragem de nascer constantemente
Ao lado do bem amado.
Eu vivo a poesia assim, dilacerada,
Rompendo os óbvios estereótipos
Com uma intimidade declarada.
Uma mulher apaixonada
Cumpre a sua função
De estar constantemente grávida de si.
Reproduz, por seduzir,
Nas águas desaguadas,
Os filhos que decide conduzir por seus caminhos.
Carinhos, cuidado,
A mulher se dedica,
Em ausência de pecado,
Às crianças-imagem-e-semelhança
Da esperança que deseja ser.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

A dona do carnaval

Chego do recital com a poesia dominando
O corpo, a alma, as mãos agitadas para confirmar o fato:
Viver a poesia é um ato consumado que eu repito sem cansar de repetir.
Escrever, ler, dizer
A poesia em suas diversas formas
Doma-me sem chicote
Sacode a poeira
Rompe a minha rotina
Todo dia dá a volta por cima!
Não adianta eu me esconder no calendário dos compromissos
Dos sonos não dormidos.
Ao cansaço eu não obedeço
Por sonhos entrego meus dedos ao lápis, ao teclado
Indo ao encontro do chamado maior que é registrar
Ponto a ponto
Os encontros das palavras
Com os sentimentos vivenciados.
Tem gente que vê novela
Não sai de frente da TV
Tem gente a espreitar a janela
A vida dos outros
Os problemas com os quais não tem nada a ver
Enquanto eu me entrego à esta festa delirante.
Sou amante dos versos, verbos, adjetivos, pronomes
Das sentenças particulares e universais
Das fotografias e filmes substanciais.
Minha vida
Minha fantasia
Meu carnaval.
Se chegue, meu povo, que o bloco está passando!
A poesia é abre alas
Do meu enredo principal.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Poesia viva

Ontem fui assistir pela terceira vez "A Natureza do Olhar", espetáculo em que Elisa Lucinda e Geovana Pires dialogam como Álvaro de Campos e Alberto Caeiro respectivamente. "Notas para recordação do meu mestre Caeiro", texto escrito por Álvaro de Campos, confirma a reverência deste ao poeta natural, que ao passar pela vida vendo as coisas, descreve de uma forma essencial e quase infantil as sensações humanas. Ele diz: "eu sou uma sensação só minha", ao ser provocado à uma auto-definição. Sobre o amor, escreve:

O amor é uma companhia
Já não sei andar só pelos caminhos
Porque já não posso andar só
Um pensamento visível faz-me andar mais depressa
E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo
Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo
E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar
Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas
Mas se a vejo tremo, não sei o que
é feito do que sinto na ausência dela
Todo eu sou qualquer força que me abandona
Toda a realidade olha para mim como
um girassol com a cara dela no meio.

(em Poemas Inconjuntos)

Pois sim..

Dormi com este poema, acordei com ele e, neste embalo comunico a todos que nesta quarta-feira tem recital na CASA POEMA. Eu e outros alunos da Elisa Lucinda, Geovana Pires e Daniel Rolim falaremos poemas da Elisa. Na sequencia será realizado um bate-papo gostoso sobre viver de poesia.

Então:

VIVER DE POESIA
Recital de Poemas de Elisa Lucinda
Data: 26 de maio (quarta-feira)
Horário: 20h
Local: Casa Poema - Rua Paulino Fernandes, 15 - Botafogo
Tel: ( 21)2286-5977 / (21)2286-5976
Entrada Franca - evento sujeito à lotação

A NATUREZA DO OLHAR
Até 25 de julho
Teatro SESI (Rua Graça Aranha, 1 – centro – RJ)
De sexta a domingo as 19:30

Grande beijo, Carla

quarta-feira, 19 de maio de 2010

E o kiko?

Quem é mãe como eu sabe a luta que se trava com joguinhos eletrônicos e TV para que o rebento realize suas atividades rotineiras: banho, jantar, escovar dentes etc - e ainda ter sempre o velho e bom diálogo.

Pois bem: tiranamente proibi a entrada de DS e PSP na minha casa. Mesmo sendo chamada de doida radical, estou super, super feliz com esta decisão. Entretanto, recentemente a NET aqui de casa voltou ao ar (pasmem: ela pifou há uns meses e eu não fiz a menor questão de concertar – até que - meu filho, desesperado, ligou pro pai, meu ex-marido, que saiu em sua defesa acionando o reparo para que ele “voltasse à vida”). Desde então a minha hora do jantar foi seguindo o seguinte trajeto:

- Oi Lucas, mamãe chegou :-) !
- Ah... ah... ah...
- Lucas, tá na mesa, vem jantar :-)!
- Ah, mãe, depois deste desenho...

Então gente, na NET tem desenho atrás de desenho, com durações de ininterruptas meias horas.

- Lucas, vem agora.
- Ah, mãe, você é chata - resmungo, cara feia, blá blá blá...

Depois de alguns dias nesta lenga, resolvi largar de mão, jantar sozinha. Quando ele teve fome, sentou-se a mesa. Aproximei-me dizendo:

- Então, Lucas, como iremos chegar num acordo?
- Que acordo, mãe?
- Mamãe chega em casa e quer conversar com você, jantar junto, brincar e tudo mais.
- Hum... não sei...
- A mamãe está ficando chateada porque você só quer ficar na TV, entendeu?

Daí veio a ilustre pergunta deste pequeno menino de mim nascido:

- E O KIKO?

Mães e pais deste Brasil varonil: o que retrucar diante desta célebre resposta-indagação que deixa a gente torta, tonta e ao mesmo tempo radiante por tamanha sagacidade?

Fui ao banheiro pra rir sem ser ouvida e não perder o respeito. Voltei assumindo a posição:

- O Kiko é o seguinte:

Nem mais preciso relatar pra este post não se alongar demais de perder sua graça. Sei que está complexo educar neste mundo cibernético e áudio-visual. Os pequenos prazeres já são outros nestes tempos que são outros. Como identificar o que é essencial sendo invisível aos olhos? Como não se perder nesta aprendizagem sentimental cotidiana que nos arrebata de trabalho, tarefas e cansaços pra fazer frente aos valores fundamentais do olho no olho, conversa fiada à mesa se estendendo depois da sobremesa e coleta dos elementos raros pra se educar depois e mais sobre o que nos nutre à alma e o coração vida a fora?

Perguntas sobre as quais venho, dia-a-dia, construindo teorias, sendo ora adulta e ora menina, para ensinar, doce e firme, a arte de conviver.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Composição

Ainda estou sem palavras
Tem momentos em que a poesia apenas paira
As sensações no entorno, esvoaçantes.
Quem me dera um fogo de terra pra ancorar meu barco agora
Pra chegar sem queimar a largada.
Todo dia, recriada
No eterno parto de partir pro fato
Eu sinto dor e lastro.
Como é lento desenvolver
Os membros rompendo
O tronco
A mente
A alma sendo maior que a gente
Mais forte que o coração pode bater.
Gritos, sussurros
Uma flor no meio de tudo
Sem pai, sem mãe, sozinha
Exalando sua essência criança pequenininha
Na esperança de florescer mais, mais forte, mais colorida
Perfumar a vida com suas variâncias de pétala nascida,
Uma flor que precisa de água, comida, carinho, futuro
Seguro pra morrer tranqüila.
Sobra - tudo me sobra.
Sobretudo a coragem.
Sobretudo o medo.
Equilibrar-me tênue neste enredo
Tornou-se o diário desafio
Desfiladeiro da vida
O fio que me une a mim, a Deus e ao meu filho
Por onde passam todos os líquidos
E todos os segredos.

Certo que sou poeta e esta é a única segurança
Neste sendo tenho ofício, propósito
Fim, meio, início
Processo, ritmo, forma, conteúdo - tenho tudo.
Tenho nada porque nada é meu
Cada palavra é de si e segue rumo ao coração de alguém que tem ofício, propósito, fim, meio, início, processo, ritmo, forma, conteúdo
Que tem tudo - e nada, feito eu.
Nada temos sozinhos
Temos nada se ficamos escondidinhos atrás da porta
Vivendo vida morta
Sentindo pavor.

Na alegria ou na dor eu canto
Preenchendo os espaços de espanto
Com os meus projetos de amor.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Mais presente

Este ganhei do amigo David:
Poeta de mão cheia
Peito aberto
Papo reto
Entre palavras que fazem curvas no meu coração.

Voz forte
É vento norte ao dizer poesias
É mastro
Macho
Homem-grande-criança
É maduro e, ao mesmo tempo, esperança.

David chora, comemora
Ri, extrapola
Elabora a cada verso escrito
Revela de um jeito lindo sua face oculta
Sua metade aberta
Seu gomo
Seu caldo
Seu bagaço.

Tudo é insumo pra fazer suco
Neste mundo que se chama dia-a-dia
Tudo é verso de fazer palavras
Neste universo que é a poesia.


A sua cara

Conheci-a lisa.
Fios queimados
pela teimosia
de ser outra fisionomia.

Mas aí veio a fada negra,
Lucinda, clareando as idéias,
e vários alunos assumiram seus cachos.

Fiés da nova doutrina: não há cabelo ruim!

Surpresa que a vida não revela.Ela quase quebrou!
Mas seu nome salvou o caso, o cabelo, a casa...

Bambu bom dobra no vendaval mas não quebra,
só enverga!

Hein Vergara?
E voltou cacheante
com brasileira cara.

David Lima

Visitem suas lidas palavras combinadas em poesia e prosa em : http://desatano.blogspot.com/





domingo, 2 de maio de 2010

www . voce tem que publicar os seus poemas.com .br

Este poema foi escrito no guardanapo da Gol lineas areas durante o voo Rio Brasilia no ultimo dia 25.09.2007 pelo meu amigo Nelson Kestenberg, logo após nosso encontro no aeroporto.

"Foi mais ou menos assim:
Acordamos na mesma hora
Fomos para mesmo lugar
Marcamos com pessoas diversas,
E por força do acaso, nos encontramos
Os destinos diferentes
As idéias iguais
Os momentos guardados na memória
WWW.VOEGOL.COM.BR

O sorriso sem graça dos outros
E a poesia a juntar nossas vidas
- Você vai mesmo no nosso encontro de poesia
- Ele é um dizedor de poesia
- Ela é uma poeta de caligrafia cheia
- Cê tem que publicar suas poesias
O café quente a despertar nossos dias
Cotidiano, reunião, email,uma foto do meu filho,
Um papo, um poema, duvidas, dilemas, quantos problemas
WWW. VOEGOL.COM.BR
Meu Deus estão chamando o meu vôo
E ela desconversou, ficou sem graça, mais insisto
Vou com os meus pensamentos repetindo
Você tem que publicar os seus poemas
É muito egoísmo deixa-los presos no papel
Lembro-me do poema do escritor israelense (Amoz Oz), que dizia:
“ Quando eu era pequeno queria ser livro quando crescesse.
Não um escritor de livros, livro mesmo.
Gente se pode matar como formigas.
Escritores também não são tão difíceis de matar.
Mas livros, mesmo se os destruímos metodicamente,
Sempre há chance de sobrar algum,
Nem que seja apenas um exemplar
A continuar sua vida de prateleira, eterna, discreta e silenciosa em uma estante esquecida de alguma biblioteca remota de qualquer cidade do mundo.
Quando eu era pequeno eu queria ser um livro”
Por isso poeta amiga te digo
WWW . VOCE TEM QUE PUBLICAR OS SEUS POEMAS.COM .BR"

Nelson Kestenberg

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Amigo Nelson, eles estão chegando.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

João Caetano Pimentel Vargas

João é um querido cuja historia de amizade comigo tenho orgulho de contar.

Na simplicidade de um chorinho de praça, onde adoro lindas manhãs, vi este rapaz num banco, em si, tecendo ao violão.

Num convite imediato e sem receios
dei meu telefone e e-mail
com dia e hora marcada.

Foi então que sua viola - dona de espaços - habitou a minha sala.
Foi então que sua voz - senhora dos tempos - conquistou meu coração.

Mas a surpresa ainda me aguardava
Com ares de um vento bom
Cantando pelas palavras
Veio um Sopro de inspiração

Cores, formas, gostos e sonhos
Tudo toma vida em suas palavras
O sopro vira vento e a gota vira mar
É nesse mar que me lanço sem medo
Mar de água clara, onde Carla navega
Suas velas são levadas pelo sopro da poesia
Do lampejo fugidio da inspiração
Surge em forma de palavras
Essa estranha forma de prazer
É nesse mar que eu quero morrer
Um dia desses, sem pressa, dormindo
Depois do sonho acordar sorrindo
Na sua poesia me perder.


João Caetano Pimentel Vargas

João dedica palavras como quem ama sem desespero
Constrói castelos com seus versos, nos quais eu posso habitar
João me agrada por inteiro com este poema sincero
Trafego em suas palavras, qual nado em ondas de mar.

Obrigada, João.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Merda!

Confesso que batizar este post me causou certa timidez.
Não que eu não use esta palavra no meu dia-a-dia: eu uso, mas com certa precaução.
Penso que hoje tenho os motivos por fazer anúncios lindos. Explico:
Desejar MERDA no teatro é o mesmo que desejar boa sorte às estréias que virão.

“Esta expressão, que pode ser considerada um mantra, uma espécie de ritual usado pelos atores antes de suas apresentações. A expressão “merda” usada no teatro surgiu na França. Um ator iria apresentar a peça mais importante de sua vida, estava nervosíssimo, pois na platéia estariam os mais importantes críticos da cidade. No percurso de sua casa ao teatro encontrou muitos obstáculos. Primeiro, deparou-se com um incêndio, teve que desviar e acabou se perdendo. Como quem tem “boca vai a Roma”, conseguiu chegar ao teatro. Na porta do teatro para completar suas asneiras, pisou em um cocô. Entrou, atuou e saiu muito feliz com a melhor atuação de sua vida.” (Fonte: http://recantodasletras.uol.com.br/artigos/953424).

ENTÃO, VOALÁ!

Merda para Elisa e Geo!
Minhas queridas mestras da poesia que trarão Fernando Pessoa aos palcos cariocas. A NATUREZA DO OLHAR é desses momentos de se ver para dentro ao se desbravar as alegrias e tormentos deste incrível poeta português.




Merda ao Cadu e sua tropa tecelã - os Tapetes Contadores de Histórias!
Anseio para ver estes 3 HORIZONTES romperem a minha paisagem pelas lindas imagens das suas palavras teatrais.


Queridos amigos trazendo a essência da vida pela sua profissão.
Maio é o mês desta gente brilhar outra vez .
Vibra o meu coração.

BOA SORTE PRA VOCÊS!

Serviço:

A Natureza do Olhar
De 08 de maio a 25 de julho
Teatro SESI (Rua Graça Aranha, 1 – centro – RJ)
De sexta a domingo as 19:30

3 horizontes
Espetáculo adulto dos Tapetes Contadores de História – contos de Marqueritte Yourcenar
Maio
Teatro do Jockey
Sexta e sábado 21:30h – Dom 21h


PS: consultem diretamente as fontes de informaçõa sobre estes espetáculos:
http://www.escolalucinda.com.br/
http://www.tapetescontadores.com.br/

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Com licença poética

"Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou."

Adélia Prado

Com licença poética, Adélia,
Hoje cada palavra tua saiu da minha boca, do mesmo modo com que crio os meus poemas: um tanto tonta, de tão lúcida.
Andam juntas uma mulher forte e uma menina delicada como que fazendo o ciclo da vida, o cio feminino: giro para iluminar, acendendo estrelas à quem se põe ante o céu; choro despetalando a rosa, desejando "o bem me quer" no final - Quanta vida há em mim.
Reviro o rosto contorcendo o corpo sem perder o ritmo: a musica não pára e vive linda em sua cadência.
O céu é mar, mas transcendendo em capricórnio, bato as patas sobre a terra como quem exige o que é seu.
Falta fogo, falta ar. A caminhada está longe de acabar, mas a lua é farta, a água sobra e os recursos do planeta sabem trilhar as necessidades.
Oh, Adélia, me confesso como quem pede conselhos a uma velha sábia. Converso contigo de modo tão íntimo que me sinto dona de ti! Tomo este poema pondo tua assinatura na minha, tua sina na minha dor!
E desdobrada a cada dia, como em toda fase que se inicia - eu amo a tua poesia e declaro aqui este amor.

terça-feira, 20 de abril de 2010

A-dor-essência

"Quase entendo a razão da minha falta de ar
Ao escolher palavras com que narrar minha angústia,
eu já respiro melhor.
A uns, Deus os quer doentes,
a outros quer escrevendo."
Adélia Prado.

A missão:
SABER O QUE É HUMANO NESTE TERREIRO.
Bicho que urra, uiva, arde
E ainda diz que o amor é possível – a paz.
Caminho leve pelas manhãs
O sol invade
Cheia de responsabilidades, cumpro a suposta função
Enquanto a doida grita
Rebela, alucina.
Cadê a força da camisa?
A delicadeza?
Uma voz grita: PÁRA!
Te acalmas!
O tempo não é remédio santo?
Os segundos viram gotas na minha testa:
Uma a uma.
Um buraco me atropela no meio da simples alegria,
Me arrasta das belezas vividas
E do que posso e desejo ser:
Uma inteira em si.
Onde está a pequena que brincava nas flores de bom dia e,
Seria capaz de deixar pegadas na areia ao fim da tarde?
As ondas batem me tecendo aos poucos
Me rompendo o rosto sem voz e sem cor.
Em que caminho há de desaguar toda esta fumaça que me impede de olhar às claras o óbvio desta identidade infantil?
Alguém poderá suportar?
Perguntas destemidas,
Respostas descabidas,
Sonhos, imagens e passagens são a minha bagagem
Soterrada por uma violência
De noite vazia e sã.
Rios, navios pelos quais insisto navegar
Nesta vida-mar de frutos, filho, concreto
Verdade, dignidade -
Questionando se existe o abraço maior
Um certo Deus a mais que eu.
Sentir é fim ou meio?
Morrer é triste ou ato contínuo?
Sou esta russa-montanha
De mulher que ama
Nos becos da rua
Prestes a tornar-se grande menina
Nascendo de si por parto de sentir-se farta e aberta
De uma vida incerta do outro que já me vê adulta:
Velha ou antiga demais.
A pomba voa
A roda gira
Eu tonta e escrevendo sobre cada relevo
Apinhando os trevos
Os quadrados
As quinas
Numa saia branca e vermelha
A desenhar o trajeto.
Canto, conto
Historias sem sentido
Caminhos sem setas
Redemoinhos
Sopros de ar.
Perco-me no incerto
De mãos dadas à poesia
Ao colo deste enredo
Só possível nas palavras ditas ao pé do ouvido
Toda nua
Soletrando as digitais.

Poesia viva

Há histórias que merecem ser contadas. Pois sim:

Certo dia,
virei toda poesia -
para casar de vestido branco
com um poema varão.

Surgi delicada pelo meio das palavras
Rompendo a arte com a vida
Por uma varinha mágica
Numa lente de condão.

Neste meu retrato, de fato
Eu me casei pontual
Livre feito um vento lírico
Viva como um coração.

CLICK:

CASAMENTO
(Para Carla Vergara)

A poesia é a mulher do poema!
Lhe dirão os meninos
Que de ti nascem e crescem todos os dias.

Essa mulher lírica,
Num incesto profundo,
É amiga, amante e mãe do mundo.
Ama
Seduz
E nutri
O sentimento.
E para não arrebentar
O seio
O sexo
O coração
O útero
Faz versos e vento,
Como quem promete vida e sorte
Aos meninos do mundo.
Que um dia se chamarão poema
Só para casarem com ela.


Lengenda:
Mulher casando por imaginação.

(Fotógrafa: Jacqueline Gagliardi: http://anjonodiva.blogspot.com/)

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Paz e amor

Paz é uma sensação de leveza acompanhando todos os meus sentimentos,
até mesmo os de profunda tristeza.
Amor é inclusão o inteiro do outro
no centro da minha inteireza.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Gratas surpresas

"Risco", o suplemento de poesia lançado no último sábado no Prosa & Verso*, que será editado uma vez por mês por Calixto Azevedo.
A página inteira do Segundo Caderno* de hoje anunciado a Poesia Completa de Manoel de Barros.

A poesia está de volta ao diário
Nos nossos jornais
Vibrando altiva no noticiário.
Cotidiana, ela mostra sua serventia
Sai da coxia e diz: vive a alma humana
Corre sangue por entre a matéria.
Poesia também é coisa séria!

* Porsa & Verso e Segundo Caderno pertencem ao Jornal O Globo.

sábado, 10 de abril de 2010

Feliz aniversário

Há um ano acordei repentina com o desejo de realizar um blog. 10 de abril de 2009.

Fato precedente: encontrei uma amiga no samba do Centro Cultural Carioca. Pelo meio da conversa ela me perguntou:
- Você leu o meu texto sobre as mulheres?
- Não, você me manda por email?
- Não será preciso. Ele está publicado no meu blog. Dá um Google no meu nome que será fácil achar.
Ao chegar a casa: fiz a busca, li o texto e, logo em seguida, escrevi para ela já encantada pela facilidade deste encontro.

Coisa mais precedente ainda, além de constante e fruto dos falatórios de poesia em rodas, festas, reuniões de trabalho, casamentos, aniversários etc.. Muitos amigos me sugerindo publicar um livro e eu, pisciana e preguiçosa, me perdia elaborando todas as etapas necessárias a esta realização.

Uma origem: há cerca de cinco ou seis anos fui assistir ao espetáculo “Parem de Falar Mal da Rotina”. Ao final, Elisa Lucinda, poeta e atriz do monólogo, comunica que possui uma escola de se aprender a “falar poesia sem ser chato”. Saindo do teatro, procurei sua produtora, anotei telefone e endereço e, logo no dia seguinte estava ao encontro do meu primeiro poema decorado, o ENSINAMENTO, de Adélia Prado:

“Minha mãe achava estudo
a coisa mais fina do mundo.
Não é.
A coisa mais fina do mundo é o sentimento.
Aquele dia de noite, o pai fazendo serão,
ela falou comigo:
"Coitado, até essa hora no serviço pesado".
Arrumou pão e café, deixou tacho no fogo com água quente,
Não me falou em amor.
Essa palavra de luxo.”


Aprendi que sim, a poesia é a linguagem do sentimento, a única capaz de expressar como eu vivo – já que o ascendente também é peixes – e minha matéria é sonho, imagem, paisagem, imaginação. É água que derrama sem freio, sem receio e espalha a minha palavra me fazendo andar.

Outro dia uma grande amiga me disse: “você está inaugurando uma nova forma de ser uma mulher livre”, frase que muito me marcou. É verdade que vivo poeticamente, sem fronteiras entre o corpo, a alma e a mente, com um feminino vibrante e uma garra pungente. Sei lá o que há de novo nisso. Sei que sentir às vezes é dolorido, agudo, sofrido, mas eu não abro mão. Há uma beleza nisso, um gozo, algo que esgarça as minhas possibilidades humanas, engrossa a minha espessura de acolher a mim e ao outro nas vivências cotidianas.

Escrever não é minha escolha, é uma obrigação. A minha causa é ver um mundo mais humano, pessoas olhando-se mutuamente, respeitando as suas diferenças e encontrando-se nas suas essências.

Publicar rotineiramente é também uma exposição. Um poeta sabe que todo poema é autoral. (Neste ponto relato uma falsidade: nem sempre o poema do dia é o poema daquele dia – querendo dizer com isso que misturo poemas velhos e novos, despistando um pouco a minha vida cronológica). Um poeta também sabe que nem tudo que é autoral não é inventado – pois a fronteira entre a realidade e a fantasia, pelo menos na poesia, está longe de existir.

Confesso que há algo muito prazeiroso em escrever sempre. Trata-se da não linearidade na produção poética, isto é, criar poemas bons alternandos com poemas "ruins" - o que me absolve de ter que ser uma boa poeta e apenas ser poeta - como deve ser na arte e na vida.

Recebo os comentários no blog como prova de amor e respeito. Como um carinho que eu adoro.

Sobre dizer as minhas poesias, o silêncio de depois é das coisas mais gostosas que existem - são mergulhos profundos dos quais não se pode, rapidamente, retornar.

Um resgate do meu primeiro post: “Carrego no ventre uma humanidade inteira: engravidei de visões e não posso abandonar os filhos na travessia – este Homem haverá de mudar e este mundo será outro. Perdi os contornos, desmancho sem controlar, justo eu que careço de limites. Benditas as palavras que me cercam, se não eu ia evaporar... De tudo que insiste em ser relevante, só uma coisa importa: viver exatamente o agora e tecer o amanhã com fios de amor.”

http://misticasfemininas.blogspot.com/2009/04/eu-quero-viver-exatamente-o-agora-e.html

Um futuro, agora mais confiante e sendo ajudada pelas pessoas queridas: vou aprumar dois livros, um adulto e um “infantil”.

Este ano nascerá.

MÍSTICAS FEMININAS,
10 de abril de 2010

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Constituição

(Escrever é um desejo se realizando secretamente pelo meu inconsciente,
pois a palavra ela chega lá bem mais fácil do que eu.)

A poesia me pega pelas mãos
Vai me guiando pelas entranhas
Vasculhando minhas heranças.

Uma mulher mora lá
Uma mãe mora lá
Uma garra mora lá.

Uma fome, um choro, uma vontade
Uma espera difícil de se morar.

Velas brilhando, cheiros, dança
Brincadeiras de criança
E alguma estupidez.

Sonhos, lembranças
O que eu sei e o que eu não sei
O colo de Deus mora lá
E o mais profundo abandono.

Clarice Lispector mora lá
Adélia Prado mora lá
Manoel de Barros, Pessoa e Gullar.

Moram tantos amigos,
amores, paixões
Dias de festa,
tempestades e trovões
Que a minha paz não sossega:
Tece, borda, se entrega
Contrai, se assusta e não se nega a formar as minhas místicas:
As minhas místicas femininas.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Refiro-me à chuva

Hoje o Rio fechou, sucumbiu, desmaiou nas águas de abril. Ainda hoje teremos mais chuvas, choros, atrasos que retardam a vida e o nosso pão de cada dia - escondem a alegria de ser carioca revelando lixos, becos, morros e tristes enredos.

O Rio está sem palavras, sem luz, sem calçadas. O povo sem casa, colchão, quentura, candura - sem dignidade.

A Natureza?
Sim, a natureza humana – que constrói, assola, aterra e não vê mais a cor da água, do verde, da terra – está cega, surda e muda de si.
Precisa o absurdo para ver?
Precisa gritar para ouvir?

A minha palavra é sincera: mexeu com o Rio, mexeu comigo
O desabrigo me incomoda
O caos me toma as lágrimas, me soma as forças – fazer o quê?

Criança em sinal é problema meu
Nariz escorrendo é problema meu
Moleque com cola é problema meu
Essa água toda jorrando podre o descaso humano me pergunta – fazer o quê?

Dói em raiva gente inteligente que vê o seu trabalho sem implicação
Dói triste, agudo, pequeno.
Não é sereno ver o barco afundar, a banca desbancar, as cores fechadas varrendo as almas para longe das próprias estradas.

Em matéria de poesia,
Que não serve para absolutamente nada (salve esta parte de Gullar!),
Dever cumprido.
E agora: fazer o quê?

sábado, 3 de abril de 2010

Alegrias recentes

Ver a obra completa de Manoel de Barros decorando as livrarias. Possuir o caderno de anotações I e aprender que “o homem civilizado quer retardar o primitivo”, porque o “beijo de língua é um sinal de volta ao bicho, que lambe antes de fazer”.

Viajar para São Paulo com tempo bom e sem atrasos.

O sorriso da Paloma visitando a minha casa.

Confirmar comicamente a teoria Freudiana, na Casa dos Budas Ditosos.

Trabalhar com prazer de dever cumprido, de desejo se realizando.

Desejar, secretamente, ter mais um filho.

Ser abraçada pela minha varanda durante as refeições.

Receber notícias de um amigo que retorna ao lugar onde vivemos as emoções do nosso início bonito.

Saber que no domingo de páscoa almoçarei com a Jac, a minha experiência mais livre de dizer como eu sinto. O meu colo mais distante e unido.

Dançar uma salsa bem calliente com um cubano desconhecido– sem pudor. Descobrir um lugar escondido: no andar debaixo de uma casa amarela, um estúdio do mais puro rock´n roll - e cantar.

Viver, cotidianamente, a beleza de ser mãe do Lucas.

Ler no blog da Dani Torres maravilhas sobre o meu blog. Saber que a saudade da Dani Dantas é do mesmo tamanho minha: gigante.

Escutar o que o silêncio tem me ensinado a casa instante.

Tomar um banho, pegar minha bolsa e, partir para horas a fio dentro dos cinemas do Rio.

Conversar sem hora marcada.

Acordar de um sono tranqüilo.

Ser beijada.

Amar e ter dito.

O prazer do texto chegando, pedido para ser escrito.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Condição Humana

No meio da semana,
Vinho e prosa de chão de sala.
Do meu pão de cada dia faz parte a liberdade dos inconscientes postos,
Das mulherices,
Das caras filosofias que traçam o prumo da vida.
Por medo de metrô
E desejo de prolongar a viagem
Sigo de ônibus
Ora com as poesias, ora com os jornais, pensando:
O que tem pra hoje além de esperar o meu amor chegar?
Planos de lugares
Planos pro jantar
Plano de maternidade e pro meu céu de estrelas.
O sorriso da minha cria não tem preço,
Mesmo quando ele não gosta de mim.
Ser mãe e ser bicho abrigo
É sentir umbigo e água de parto até o fim dos tempos
É rastejar e glorificar nesta andança
Que chamam evolução.
Vendo uma entrevista sobre disco voador pensei:
Está certo – o universo é grande demais
Deve ter ser usando mais que 5% de si.
A vida é grande, meu Deus e eu, confusa.
Não fosse a poesia
Viveria morta.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Feita de relações

Continuo recebendo títulos: poemas a serem escritos.
A poesia, que sempre me veio pronta e concluindo, agora marca um encontro:

Ela me sinaliza a roupa
Ela me ensaia o tom
Aceito.

A minha palavra quer correr o mundo sem pressa. Chega de manso o meu dom e, sussurra.
Escuto o silêncio ensaiando a novidade.
Aquela usura que eu tinha está descansando.
A minha filha sendo parida dentro d´água pela calma das mães das sábias.
Entra delicada e faz minha alma lavada.
Neste teia em que sou tecida – o outro na minha vida– vou sendo criada.

domingo, 21 de março de 2010

Sobre títulos

Estou sentindo
a grande coragem de dizer: eu te amo.
Faltou lhe falar
Da leveza deste sentimento,
Pelo meio das palavras que trocamos.

.
.
.

De poeta pra poeta: obrigada, David.

sábado, 20 de março de 2010

Por vir

Sempre me ocorreu chover as palavras e, ao final, dar título ao poema.
O título é aquele trecho que apreende o poder do texto e que, na maioria das vezes, vem de pronto, como um ponto, um resumo da cadência astral.
Nem sempre os itens do batizado estavam explícitos, mas o título é, digamos assim: o maestro, aquele que prepara o coração para o ritmo, harmoniza os meus pontos ambíguos, e transpira o todo unido.

Acontece que no meu processo escrito, tem havido uma subversão: tenho parido títulos ainda sem poemas nas mãos – assim:

“Estou sentindo”
“A grande coragem de dizer eu te amo”
“O que faltou lhe dizer”
“A leveza de um sentimento”

Que venha agora o enredo
O lastro da criação
Uma vida natural.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Transparente

Mãe, você está apaixonada?
Sim, estou - e nisto reside uma alegria imensa.
A novidade
O nascimento
É este amor sem ressalvas
O transito que tem no meu corpo
Este sentimento.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Celebração

Trinta e quatro verões
Trinta e quatro versões
A mãe, a neta, a filha,
A mulher que trabalha e que faz comida,
A que vibra,
A que estica o sentimento nas palavras vivas.
Um dia de sol
Um dia de bem
Um dia de dizer sim, quero, amo, beijo, abraço, amasso, desejo.
Passo para o sonho
Lembrança de nascimento
Fermento, futuro,
Ciclo, sol, azul,
Dança, coração batendo,
Alma fervendo neste Rio de Janeiro lindo
Nesta casa minha
Nesta força simples
De ser quem sou.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Natural

Tenho pêlos, pentelhos, cachos no cabelo
Peito, poros, bunda, joelho
Pintas, cravos, preguiça, desejo.
Tenho fé, força
E nenhuma disciplina.
Não gosto de rotina, nem de piscina.
Amo o mar, Iemanjá, mergulho
Céu, sobremesa
Minha sobrancelha é torta
Minha língua, solta
E minha pele fala muito mais do que eu.
Eu me arrumo:
Maquiagem, cheiro, roupa certa
Mente aberta
Sorriso frouxo, abraço largo
Pronta para o encontro:
Enfeito, te espero
Sonho: beijo, beijo, beijo...
Sou mulher, o que se pode esperar?
O que eu quero desta vida
É alguém para amar.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

TO QUOTE OR NOT TO QUOTE?

O tema não é inédito, mas já que agradou, eu vou evoluir. Quem quiser surfar do início, leia o “TO BE OR NOT TO BE?”.

Notícia para as mulheres: VOCÊS NÃO ESTÃO SOZINHAS. Várias amigas me ligaram perguntando se a tal conversa esquisita com a pessoa surtada que gerou o post para o blog moderninho eram elas. Conclusões: 1) o meu blog é moderninho; 2) vocês estão surtadas; 3) podemos ficar tranqüilas pois o evento é coletivo, ou seja, a culpa é: dos homens, dos filhos, dos pais, do trabalho, do Obama, do mundo – menos nossa! Como eu não sou de negar informação, o post sobre a surtada-reflexiva, que sou eu, chama-se “Sexo e Fluxo” e está no blog “Desbancando Balzac”, das minhas amigas Bia e Sofia.

Pois bem...

Recebi de uns amigos outras historinhas super divertidas sobre as redes sociais, o que significa que elas funcionam e que eu, decididamente, preciso aprender a ganhar dinheiro com isso. Mas ao invés de relatá-las agora, gostaria de falar de algumas tiradas muito marcantes que li no Facebook. Porque você sabe: nada melhor do que aquela escapadela para o Facebook quando: o trabalho está um porre, seu filho está te enchendo, a novela não desenrola, o BBB só tem gente estranha, está passando “Pegadinhas do Faustão” ou você acordou apontando o dedo e repetindo: ”Internet, minha casa”. Todos artifícios para disfarçar minha curiosidade antropológica, claro...

“Mulher amiga, só faça um corte moderno e curto se for capaz de conviver com um shitake gigante na cabeça enquanto espera o cabelo crescer. Nem sei se uso shampoo ou shoyu...” R.M.

Me identifiquei particularmente com este pensamento. Quem me conhece pessoalmente sabe porquê. R.M., eu te agradeço por esta oportunidade tão intensa de eu me reconhecer, dialogar com a minha identidade, me ver mesmo.Você foi muito, mas muito mais eficiente do que aquela técnica de psicologia irritante na qual o terapeuta fica repetindo - na sua cara - exatamente o que você está falando, sendo que você está no meio da crise. Sabe qual é, né? Valeu! Me economizou várias sessões. Fora que você sabe, com maestria, se divertir com a própria situação, assim como eu. Amei.

“Eu podia estar dormindo (afinal, a essa hora amanhã deverei estar tocando), devia estar postando coisas interessantes (afinal, segunda eu volto a trabalhar), mas vou começar a reforma na minha fazendinha...” V.A.

Esta afirmação nos diz sobre a nossa incapacidade de sermos razoáveis e coerentes - qualidade que eu admiro profundamente em mim, e em você também V.A.. Mais uma vez me sinto compreendida e acolhida. Este pensamento me fez refletir e aceitar, de bom grado, todas as vezes que eu recusei a minha própria organização em nome de uma bobeira qualquer, seja ela no mundo virtual, ou no real. Chego a voltar no tempo e me perdoar por todas as vezes que matei aula com a minha amiga M.Q. (foi mal, mãe!). Mas eu confesso que até agora não alcancei essa coisa de fazendinha no Facebook. É doido isso. Já parou pra pensar?

“Querido diário, hoje soltei um pum” D.S.

Querido D.S., obrigada por parte da inspiração do post que me rendeu mais acessos no meu blog. Quem diria, hein? Tenho certeza que quando você soltou este pum, não sabia que me seria de grande valia, se não você teria pensado em Royalties ou coisa assim. Agora, uma perguntinha (e eu já devia saber isso, visto que sou psicóloga): por que será que essas historinhas de pum mexem tanto com a gente? Caramba! É o trecho do texto que mais me fez rir ao escrever! Quem tiver respostas criativas sobre o tema, por favor comente. Anyway, eu agradeço!

“Minha Nossa Senhora do Biquíni de Lacinho: só faltam 5kg. Conto contigo. Tamo juntas.” P. P.

Este pensamento me deixou muito mal, e ao mesmo tempo muito bem, e ao mesmo tempo muito curiosa e esperançosa no que tange ao bem coletivo também – e eu adoro este estado de diversidade temperamental. Primeiro porque eu jamais vou ficar bem num biquíni de lacinho. Acreditem, já sofri muito com isso. PORÉM, eu me libertei de tal maneira que me sinto super a vontade de abrir aquela latinha de cerveja – inclusive na praia - e COMO FELIZ, aqueles salgadinhos fritos, salaminho com limão, pernil fatiado etc, usando o meu biquinão. Por fim, eu acho muito interessante essa capacidade das pessoas criarem artifícios para atingirem seus objetivos: Nossa Senhora do Biquíni de Lacinho, da Escova Progressiva, do Bumbum Durinho e por aí vai. Fato é que P.P. criou uma santa que está sendo muito eficaz no alcance das suas metas no projeto “Filé de Borboleta 4ever”, que ela se empenha desde que decidiu dar aquela radicalizada pra melhor na sua vida. Sem dúvida esta santa será útil também para centenas de milhares de mulheres que freqüentam as praias desse mundão. Ela deve estar trabalhando como ninguém neste verão. Trata-se de um serviço de utilidade pública global.

“Todas as mulheres vasculham o email e o celular dos homens” C.T.

Caro Sr. C.T., já ouviu falar em compulsão a repetição? É um tipo de neura que faz você ficar reproduzindo as mesmas situações ao longo da vida, sendo bem sucinta e já pedindo desculpas ao nosso amigo Freud pela falta de rigor na conceituação. Está achando que eu vou dizer que as mulheres têm isso e por isso ficam vasculhando freneticamente o email e o celular dos machos? Não, não, não. Este definitivamente não é um problema da espécie-fêmea. Hum... como posso dizer isso sem causar nenhum trauma...
Pode ser, Sr. C.T., que o neurótico seja você. Deixa eu explicar melhor: mecanismos construídos ao longo do seu desenvolvimento podem ter acarretado uma forma de se relacionar apenas com mulheres que apresentam este comportamento. Tipo quebra-cabeça, quando duas peças se encaixam, sacou? Parece que você não daria conta de mulheres mais seguras, entende? Se você curte isso, beleza, siga nesta vibe. Conheço gente que passa uma vida assim. Se não, corra para a terapia. No caso específico deste pensamento, eu vou fazer uma sugestão, só pra não achar que foi totalmente à toa que aquela mulherada queimou sutiã na praça há um tempo. “Todas as mulheres que ME circundam vasculham o email e o celular dos homens”. Pensando bem, você também não deve ser flor que se cheire, hein Sr. C.T.!

“Da série E.T. tb é cultura: Wadi - são córregos de água muito fortes que cruzam as auto-estradas de Oman. São formadas por água das chuvas que descem as montanhas. EU TO PRESO A 4 HORAS NUMA PORRA DESSA!!!!! “ E.T.

Veja bem a complexidade deste pensamento: 1º) ele me faz sentir que o mundo é, realmente, uma aldeia. Eu me transportei para Oman. 2º) E.T. não só registra a sua experiência, mas traz conceitos, educa, promove o desenvolvimento cultural de seus leitores. 3º) ele expressa seus sentimentos de uma forma muito clara e intensa. Isto é sinal de maturidade. 4º) Tive a oportunidade de dar feedback para E.T. segundos depois que ele escreveu (porque eu estava online), evitando que a imagem de que ele não sabe escrever corretamente se propagasse. Porque este "a" é com "h", quer dizer é: "há". Não bastasse isso, 5º) fiquei sabendo que E.T. aceitou um convite profissional para morar neste lugar. Isto me leva a crer que desconheço absolutamente as razões das pessoas tomarem certas decisões na vida. Sendo que sou psicóloga e profissional de Recursos Humanos só me resta uma constatação: tenho muito o que aprender.

TRANSIÇÃO PARA O MOMENTO DA REFLEXÃO.
(Se bem que eu estou achando desnecessário depois de todos estes comentários... mas enfim, preciso resgatar o meu charme de intelectual):

A fronteira entre o real e o virtual existe apenas na nossa cabeça.

Nada mais concreto do que o desejo de se expressar, a construção de um pensamento, as pessoas se conectando, o tempo passando na frente do computador. Nada mais real do que as boas gargalhadas que viemos dando.

Ampliado o espaço da idéia, da criatividade. Conexão.

Estas ferramentas e sua forma de usar estão capturando a nossa criatividade no exato momento em que ela acontece, e mais, que ela segue seu caminho no mundo.

Os indivíduos, com toda a sua intensidade emocional, ganham espaço num contexto que, ate então, era muito mais exclusivo para alguns privilegiados. Estamos tendo a possibilidade de dialogar e nos reconhecermos na nossa essência humana.

Tempo. Espaço. Indivíduo. Relação. Comunicação. Conceitos que estão aumentando de importância e devem aceitar sua condição de permanente reconstrução. As ciências humanas precisam despertar e vibrar com todas estas possibilidades de evolução e se aproximarem da vida que pulsa no trabalho, nas redes, nos grupos, no amor.

A vida vive e é veloz.

domingo, 24 de janeiro de 2010

No tempo

Se o teu olhar onírico um dia encontrar-se com o meu, deita no meu colo.
Tenho poemas para te adormecer e sonhar.

Supersincero@send.we

- Aproveita que hoje eu estou SUPER SINCERA, pode perguntar.
- SUPER SINCERA?
- Isso! Pode perguntar!

Silêncio no MSN, até que eu...
- Quer responder, então?
- Sim, manda.
- É o jogo do SUPER SINCERO, topa?
- Topo.
- Ok mesmo????
- Ok!
Tempo de elaboração de pergunta inteligente.
- Qual a alegria mais delicada que você sentiu no ano que passou?
Tempo de pensamento.
- O nascimento do filho de um amigo meu.
(Fato: ele quer ter um filho, que bonitinho. Eu quero uma cerveja, urgente.)
- Mais uma?
- Manda.
- O que você fez no dia anterior do dia em que acordou pensando: putz, fiz essa merda de novo!
Tempo de pensamento.
- Preciso te informar de uma regrinha adicional: não vale responder “eu nunca me arrependo de nada do que eu faço”.
- Putz... me quebrou essa... Ah, sei lá...
- SUPER SINCERO, lembra?
- Ah, bebedeira, essas coisas... saí, bebi demais... fiz merda...
- O jogo do SUPER SINCERO é assim: você precisa contar exatamente ESTA merda que você fez quando bebeu demais, entendeu?
- Entendi...
Silêncio
Silêncio
Silêncio

- E então?
- Ah, eubebimuitodaíquebreiaportadeumaboateeosegurançamebotoupraforaeeucaínochão.
- Nossa! Adorei!
- Não acredito que você adorou isso...
- Isso não, adorei a sinceridade! Se eu estivesse contigo, daria um tapa na sua cara pra você cair na real. (Eu adoraria fazer isso, juro.)
- Você não faria isso.... não é o que eu imagino sobre você...
- Ah... e o que você imagina sobre mim? (Quem poderia perder esta deixa???)
- LINDA, SINCERA, DELICADA, CARINHOSA, AMIGA, SÉRIA, DELICIOSA...
(Será que ele entendeu que é o jogo do SUPER SINCERO???)
(O que acontece entre estes pensamentos e a ação de pegar o telefone, a ponte aérea e vir me ver???)

- Então..., por que você não ligou, não veio, não pegou a ponte aérea, aceitou um convite pra jantar, passar um fds no Rio de Janeiro??? (Eu com 15 anos aproximadamente - e já me sentindo ridícula)
- É que eu...

O resto desta frase, quanta mulher poderia completar...
Tempos de MSN, fast relations, virtual intimacy.

Seria tão bom pão-pão, queijo-queijo
Olho no olho
Beijo no beijo.
Eu que gostaria tanto...
Escrevo aqui.


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quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

To be or not to be?

Outro dia eu estava no taxi voltando da balada, atormentada por pensamentos inglórios – ah... queria tanto ter um namorado, ficar em casa, ar condicionado, vinhozinho, DVD (você sabe do que estou falando, certo?) – e num ímpeto incontrolável eu disse, ao descer da viatura: “moço, se você pegar um passageiro entre 30 e 45 anos, solteiro, pode deixar aqui em casa”. Ou seja: surtei.

Ele e uma amiga que estava comigo quase morreram de rir. Eu, mais vaidosa do que nunca por conta dessa tirada sagaz na madrugada, já me animei de colocar o pensamento no Facebook pra alegrar os internautas de plantão. Subitamente fui acometida por uma paranóia total... mas o que será que vão pensar de mim, blá blá blá, ti ti ti – e reprimi. Tudo bem, agora estou fazendo bem pior escrevendo isso aqui, mas tem um contexto, um propósito, uma discussão (charme de intelectual):

E-MAIL:

Você teve um encontro, ou melhor, um desencontro com o gato. Já no trajeto de casa você começa a elaborar aquele email: frases de efeito, figuras, hyperlinks. Você resgata o passado, traz conceitos, revive diálogos, propõe um caminho e registra tudo no digital. Você deu um tapa na cara dele, mas não quer terminar. O email tá pronto. To send or not to send?

Você apresenta o projeto para o cliente e pensa: foi sucesso, arrebentei! Todo mundo sorriu, fez cara de que gostou e você já se prepara para redigir a renovação do contrato. No escritório, atualizando o “enviar e receber” cai aquela mensagem: agradecemos a entrega do projeto. Entraremos – ou melhor – estaremos entrando em contato caso haja uma nova oportunidade de trabalho. Você não agüenta. Clica no reply e freneticamente digita: VOCÊS SÓ PODEM SER BIPOLARES. Você precisa decidir entre perder o cliente para sempre ou manter a saúde do seu estômago: To send or not to send?

Você chega no trabalho feliz e contente e corre pro inbox. Tem uma mensagem de um sujeito mal amado, de outro departamento, para o seu chefe, com cópia pra torcida do Flamengo, esculachando o seu projeto. Você recorre a emails anteriores, busca todas as datas, pessoas e elementos incoerentes pra provar que o seu trabalho é simplesmente o máximo. Monta, então, aquele email-dossiê, com cópia pra torcida do Fluminense, que é mais selecionada. To send or not to send?

FACEBOOK:

Você conhece um carinha super legal. Conversa a noite toda, carinhos, olhares, histórias da infância, sonhos profissionais. Você dá pra ele. Naquele instante você: quer casar, mudar, ter filhos e cachorros correndo pela casa, café da manhã Doriana (vocês são ricos e trabalham pouco). Vão embora “tão apaixonados que esquecem” de trocar telefone. Você chega em casa e corre... Pra onde? Pra onde?... Pro Facebook. Ele tem perfil. Passa um dia e ele não te cutuca, não te deixa massagem no seu inbox e muito menos te add. Você quer fazer contato mas ouviu, desde a infância, que é preciso deixar o homem tomar a iniciatva. Você também ouviu que não devia dar na primeira noite, mas isto você esqueceu. Dedinhos coçando, e aí: To add or not to add?

Você entra o Facebook e, na página principal, você encontra o seguinte pensamento: "hoje, às 8:37 da manhã, soltei um pum. Não foi barulhento, mas fedeu. Eu estava no elevador com apenas um amigo meu, sou seja, só poderia ter sido eu". Ah??? O que leva uma pessoa a compartilhar tal experiência com 948 amigos? O que te levou a aceitá-la como amiga tua? Decisão: To comment or not to comment?

BLOG:

Você sai com uma amiga que está NAQUELES dias de reflexão. Ela te conta umas histórias mega esquisitas sobre relacionamento, sexo, amor, energia vital. Você pensa: ela pirou. Só que as paradas que ela te contou são cômicas de tão doidas. Você não agüenta e escreve um post pro seu blog moderninho – absolutamente baseado em fatos reais. Do jeito que ela está surtada a amizade pode ficar abalada. Então, To post or not to post?

MSN:

O seu relacionamento está uma droga (sendo super conservadora na palavra). Aquele lindo, gostoso, inteligente e sagaz rapaz está online. De vez em sempre ele te dá aquela scaneada, mas você é fiel, jamais faria isso. Mas naquele dia, justo naquele dia que ele está de jeans, camiseta branca e All Star azul, você pegou um SMS super esquisito no celular do maridão. E agora: To talk or not to talk?

Uma parada que eu custo a acreditar, mas tem gente que jura que é possível. Você está há meses teclando com ele. Neste processo vocês flertaram, namoraram, casaram, tiveram cinco filhos, se divorciaram e agora estão se reconciliando (um com o outro), sem nunca terem se visto. Um dia você acorda e diz: ENOUGH! To block or not to block?

TWITTER:

Vixi! Ainda não conheço está ferramenta a ponto de criar ou reproduzir histórias sobre ela, mas que tal pensar que: você vai pro sambinha, dá de cara com o Jesus traindo a Madonna e deseja, soberanamente, jogar este furo de reportagem no global – com link pro videozinho que você fez via celular, e colocou no YouTube? Viagem essa historinha, mas dá um desconto e considera a questão, vai. To twit or not to twit?

AGORA:

Vamos resgatar algumas perguntinhas básicas. Peguei umas da Laure Guy, educadora infantil que as coloca pro Grégoire Bouillier – o cara que terminou com a Sophie Calle por email e gerou aquela exposição animal que ta rodando o mundo (uau, esbanjando cultura!):

1. Dê um título para essa história.
2. Quem é o herói da história?
3. Qual é o elemento perturbador?
4. Como o herói quebra o pacto?
5. Como ele decide resolver seu problema?
6. Dê outro final para a história.

Tá bom, vou simplificar: QUAL O ELEMENTO COMUM DESSA COISA TODA?

Do jeito que a nossa cabeça está a mil, ações frenéticas nessa cibernética, tenho certeza que haverá uma infinidade de elementos comuns que vão brotar na mente brilhante de cada um que resolver refletir a partir deste singelo texto. Vou deixar o meu registro aqui, porque gente que é pessoa não pode faltar com opinião (retornando ao propósito e resgatando o charme intelectual):

As redes sociais vêm provocando uma transformação significativa o nosso jeito de se relacionar, em várias dimensões. A partir delas, as formas de comunicação se ampliaram, cresceu o número de conexões entre indivíduos e grupos, abriram-se novas possibilidades para que a nossa identidade cresça e apareça.

Entretanto, as questões humanas permanecem absolutamente fundamentais. Desejo de pertencer, encontrar um amor, conhecer um amigo legal, dialogar; sonho de ter um trabalho sendo desenvolvido, visto e reconhecido; possibilidade de criar, copiar, recriar. Necessidade de SER.

Os sentimentos de medo, dificuldade de entendimento, alegria, ansiedade e apaixonamento - entre outros mais - são os mais essenciais possíveis.

Muita gente tem propagado a ideia de que as redes sociais tornam as relações mais frias e distantes. Eu prefiro que elas seja vistas como POSSIBILIDADE e não como defesa, assim como as N outras coisas mais na vida que podem ser usadas como escudo pra gente não entrar em contato com a gente mesmo e com o outro.

As máscaras sempre existiram. Até quando se olha olho no olho, elas podem estar lá.

O coração pulsa constante, mesmo em frente do computador.

Existe sangue nas veias daquele que digita, navega, checa mensagens, entra nos sites, viaja na conexão.

A internet pode vir por uma máquina, mas está cheia de emoção.