quinta-feira, 28 de maio de 2009

Movimento novo

Eu estava prestes a entrar no banho
Quando ele adentrou para contar a novidade
Interrompeu-me para mostrar o movimento recentemente aprendido
O gira-volta de corpo subitamente sentido
Como descoberta fenomenal.
Olhou-me nos olhos e fez a “estrela”
Que brilhava mais do que qualquer outra no céu.
Filho, você é minha constelação
Ilumina cada passo que eu dou
Desvenda-me em maternidade.
Com sua pouca idade
Foi quem até hoje
Mais me ensinou
Tudo que sou se acelerou com a tua chegada
E renasce a cada estréia tua.
Sinto-me nua
Despida de defesas
Em meio a correnteza deste amor incondicional.
Em qualquer tempo-espaço-sideral
A cena do teu palco
Será sempre a principal.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Cores em mim

"Eu ando pelo mundo prestando atenção
em cores que eu não sei o nome
Cores de Almadóvar
Cores de Frida Kahlo, Cores"
Esquadros, Adriana Calcanhoto

Eu gosto muito de me ver colorida!
Ponho roupa de uma cor e meu corpo todo vibra no seu tom.
Escolho a cor de acordo com o humor que quero me dar de presente naquele dia
E sei quais delas que me caem bem.
A luz de uma cor provoca um certo reflexo nas pessoas
De modo que não posso usar amarelo se quero ficar reclusa
Não posso usar marrom de quero reluzir
E abuso do rosa se estou em dias para amar.
Se quero atiçar, lanço mão do vermelho e combino com assessórios dourados: é fatal.
Quando estou nublado por dentro é cinza minha vestimenta,
E há uma certa malandragem no verde
Porque “despretensiosamente” combina com meus olhos
Realçando a felinidade do seu contorno.
As cores ditam os tons dos meus discursos do dia
Dos meus encontros da noite...
Por isso as des-uso até na lingerie.
Sou arco-íris na personalidade
Todas as corem me intervém
Me vestem por dentro e por fora.
Cada cor que eu uso
Também me namora.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Poesia e vento

A palavra venta
E a escrita se apruma
Me convidando pra velejar.

Eu, na minha forma de mulher vento
De mulher nuvem
De mulher mar
Toda envolta em seios
E beijos de amar
Me solto na dança das ondas
E das pernas de enroscar.

Líquidos-língua
Pele que encosta
Tempo que ensina um corpo caminho, e eu aprendo:
Registro ventanias
Brisas no rosto
Noites de luar e lençóis
Com banho quentinho bem de manhã.

Eu quase não quero acordar
Mas a palavra chega
Nem pede licença
Me seduz e me traz um poema...

Luz no meu coração
Não tenho como negar
Ao sono, peço perdão
Palavra vai ventar.

Centro de Tradições Nordestinas

Este sábado fui à “Feira dos Paraíbas”, em São Cristóvão. O local passou por uma reforma há cerca de dois anos e agora se chama “Centro de Tradições Nordestinas”. Um grande pavilhão, composto de pequenas lojinhas, uma ao lado da outra, para todas as direções. Entre as fileiras, pessoas se aglomeram ao redor de duplas de repentistas, restaurantes típicos e um palco central.

Ao redor vê-se rapadura, queijo coalho, tapioca, cachaça e toda sorte de comestíveis. As carnes de sol penduradas, tais como roupas no varal, causam uma sensação de que não apenas estão ali os artigos, mas também as tradições na forma como o produto é comercializado. CDs e DVDs parecem pular de gôndolas e prateleiras, gritando – está aqui o verdadeiro coração do norte-nordeste! As músicas tocam confusas, todas ao mesmo tempo, mas ninguém parece se incomodar. Além de comer e ouvir, pode-se também vestir blusinhas, vestidos e decorar a casa com todo tamanho de toalhas de renda branca, colorida ou bordada.

No largo corredor que leva ao palco principal, restaurantes decorados estão dispostos em seqüência. As churrasqueiras elétricas ficam à vista, exalando o cheiro da carne queimando. Os garçons nos abordam entregando panfletos e falando das virtudes da casa, tentando conquistar o freguês. Após olhar alguns deles, intuitivamente sentei, pedi o cardápio e uma cerveja.

Ali fiquei, jogando conversa fora, num clima bem descontraído. Lá pelas tantas, vejo o garçom que me serve no trabalho sentado numa mesa próxima. Fui ao seu encontro e o cumprimentei, sem perder de vista meu filho que saía correndo atrás de um vendedor de brinquedos de plástico. Todo orgulhoso, ele me apresentou a mulher e a filha. Após trocarmos algumas palavras e sorrisos, fui retornando, pensando com meus botões – que bom tê-lo encontrado por aqui!

Depois de comer a típica carne de sol com macaxeira, queijo coalho frito, dirigi-me à atração que reunia nordestinos, nortistas, cariocas e alguns turistas. A banda de ritmo “Brega”, tal como se classifica o estilo musical que tocava, fazia com que muitos dançassem. Alguns se entreolhavam e sentiam-se constrangidos com as letras recheadas de vocabulário de ”baixo calão” e com a coreografia dos bailarinos repletas de movimentos um tanto sensuais.

O fato é que os verdadeiros anfitriões pouco se importavam com os diferentes olhares sobre a sua verdade. Com sorrisos largos, espalhavam-se em movimentos e revelavam através do olhar o conforto do retorno à casa. Os mais desavisados poderiam ver ali a música “brega”, a dança “vulgar” ou a palavra “chula”. Outros mais atentos viam a alegria de um povo que, mesmo longe de casa, luta para manter suas tradições e orgulha-se de sua origem.

Ficava tarde, criança com sono, hora de ir. Olhei ao redor e me despedi. Fui para casa refletindo: o quanto a vida é diversa e rica para aqueles que sabem a ela se entregar; o quanto é importante estar aberto ao novo, ao diferente, ao inusitado; o quanto é prazeroso experimentar o mundo livre de preconceitos; o quanto nos falam os olhares, os movimentos do corpo e as manifestações de um povo. Foi um instante intenso de alegria e prazer.

Escrito em - 03/04/2006

domingo, 17 de maio de 2009

Desobediente

SEXO MUDA TUDO!
Foi nesta constatação, comigo mesma,
Após tantas divagações sobre o tema
Tantas conversas com intenções
Que eu cheguei neste sábado à noite

Mais uma vez sozinha
A rolar sobre a cama com a cabeça colada nele
A pulsar sobre a cama por causa dele.
O rapaz de olhos-gato
Por quem mil poemas tenho criado
Por quem tenho me interessado sem nenhuma temperança.
- O rapaz é comprometido, zifia... Já repeti para a minha cabocla mais de um milhão de vezes!
Mas a minha brincadeira não cessa
Já que o objetivo confessa que não muda por estatuto
Assim minha água transborda sem que eu possa conter
E eu volto a dizer
No intento de me convencer:
- SEXO MUDA TUDO! Repara o caminho que cê ta fazendo... tá se metendo em melê!
Avisos em vão...
Meu coração não escuta
Transforma “não” em “por que não?”
Almoço em encontro
E-mail em carta de amor
Qualquer sinal dele em vontade louca de me ver
E me despe de todo pudor de pensamento.
Tormento de moça solteira
Sorrateira ao interpelar-se no outro
Ao entrar com o mínimo de fresta
Nesta porta supostamente fechada
Mas de fato aberta.
Essa vontade de sexo...
Essa usura pela carne que por séculos e séculos falsamente se privaram as mulheres
Essa puta minha que não se aquieta
Não se conforma com a esfera espiritual da existência e desce no inferno
Na humanidade animal.
Ignorei todos os alertas de:
“O SEXO MUDA TUDO”
Eu quero mais é que mude
Entrei
E desobediente que sou:
Eu dei!

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Para Jeri

Na terra do paraíso
Toda hora é hora de paraisar
De dia, de noite e a pé
Com bicho geográfico e menino
Correndo na beira do lago
No rastro do vento.
Terra de leme e de sol
De anzol e de vela
De café na janela
Risoto e vinho
E forrozinho até de manhã!
Fonte de amigos e cantoria
Jeri tem Bob Marley por Larissa
até por onde a duna curvar de não ser mais morro
No beijo da areia com o mar.
Jeri tem pedra furada
Peito encontrado
Tatajuba e caranguejo
Mangue seco e desejo
De mais uma gelada.
Capoeira de praia
Poeira da noite
Kalango em ponta de pedra
Lual pro amor embalar
Caminhada na estrada do azul
De sempre e mais voltar.