quinta-feira, 30 de abril de 2009

Risoto-poema-etílico

Chama-se risoto-poema-etílico
Quando o gosto e o efeito vem de dentro
Do poema que se come,
Que se bebe
E se brinda.
Se o verbo é ingrediente
Que derrete a palavra
Que se engole
É à alma que alimenta.
Então digere
E evapora.
Sai voando pensamento
Casam: fato e elemento,
Peixe com gaivota,
Palhaço e bailarina.
Casa o homem com seu sonho,
Casa o nosso coração.
No altar da meia-noite
Duas mulheres
Aromam o escuro do mundo.
Desfazendo amarguras
Com cheiro de versos
Comungam com o universo
de lápis e colher na mão.


Poema meu e da Jac

Um rei ventou dentro de mim

Menino do vento
Me soprou histórias de ser quem é
Velha alma amiga
Te levo comigo toda vez que respirar
Te carrego no olhar por onde se conhece tudo -
O mistério que não é mistério, de simples que é:
O homem no seu lugar
A mulher descendo do altar
E um encontro no começo de amar.
Viva a vida!
E nós que a deixamos entrar
Pedindo licença em língua, pele e palavra
Viva voar sem asas
E viver as brasas das noites e das manhãs.
Menino de ar...
Corre pelo mundo
E se um dia precisar de abrigo
Tem a paz que você me deu.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Menina-Anjo (Para Jac, um anjo no Divã)

Era uma menina que seduzia a infância e se agigantava
Só para não caber em si
Uma menina-anjo que extrapolava
E amadurecia em cada parto:
Tinha dor, tinha prazer
E um Deus que transformava.
De repente havia a mágica-palavra-expressão
Para mostrar ao mundo que a imensidão a habitava,
Urgia,
Nascia,
E se registrava.
A menina virava profeta
E no divã do mundo
Ela curava.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Intimidade

Entra aqui, dizia-me ele
Passeia pelo meu caminho com bombas e tempestades
E eu contando uma história de início, meio e encruzilhada
Doida pra tirar o disfarce.
O meu papel é de autora, eu pensava
Escolhia as palavras
Quando o que eu queria era abraçar
Tem coisas que só o silencio
Ou a poesia repentista que recebi
Mais uma vez que eu vi a magia detrás capa e me apaixonei.

Acordei com Manuel de Barros
Brincando com gravetos, formigas e peões
Vi um conto de fadas de um menino, um rei e ilusões
Com uma princesa para salvar o amor.
Corri pra me confessar
Versos, por favor, me acolham!
(Porque esta é a função do padre, e não a de julgar)
E me absolvi.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Alguma loucura

No outro há sempre algum espanto. É quando se pensa que com toda delicadeza seja possível contornar os seus gestos nas paixões alegres de Spinoza (é o meu egoísmo). Até que surge uma verdade sem maquiagem e na forma ereta a penetrar a tal imagem que se fez.

Há uma sabedoria profunda em aceitar o humano nu e tão cheio de arestas: uma aprendizagem necessária, dura e eterna.

(Desejo alguém com todo seu pavor e chego até a querer engoli-lo para digerir a mim mesma.)

(Sou bem esquisita. Segundos atrás havia vontade de sair e dançar. De repente me acometeu uma preguiça de demonstrar que a vida é alegre. Vou dormir abraçada na solidão.)



Uma cor que me convém

Bermudas brancas, tenho três.
Uma delas é marfim, mas o conceito é o mesmo, mais adiante eu explico.
A primeira tem bolsos do lado, por isso uso para caminhar, uma vez que tenho que levar chave do carro, protetor solar, identidade e um din-din para a água de coco.
A segunda é bem antiga, herdada da minha irmã, mas parece nova. Uso muito no pós-praia, porque bate no meio da coxa. Normalmente com camisetinha colorida, biju e chinelo. A combinação perfeita é com uma camiseta rosa bem “cheguei”, de malha canelada, e um conjunto de colar e brinco vindo de São Luis. Colar de flores amarelas, de crochê. Eu fico um vibrante jardim!
E por fim há uma mais comportada, que chega quase no joelho. Faz o estilo mais casual e fica muito legal com azul, tipo look iate clube.
Já ia me esquecendo: tenho um shortinho branco de linho, que se fixa na cintura por uma corda amarrando. Este é o mais curto de todos. Quando uso, tô abusando!
Agora voltando ao conceito: uso branco na parte de baixo para realçar as cores da parte de cima. Acho que branco cumpre mais esta função que o preto e, no meu caso, dada a proporção do esqueleto, fica bem mais equilibrado.
Calças brancas, tenho quatro: duas de trabalho e duas mais despojadas – uma delas de brim e a outra de tecido mais fino, com stretch, e preciso usar meia calça por baixo para não encabular.
Tenho saia branca também, uma só. E um vestido que desce justinho até a cintura e depois vai abrindo. Estende-se até a curva entre a coxa e a batata da perna. Este é bem praia, bem verão, e usei no último reveillon.
Já ia me esquecendo, até porque nunca usei, da mais recente aquisição de vestimenta desta cor: um outro vestido. Lindo! Super “chique”, embora natural, com um tecido que lembra renda, com paetês furta-cor bordados ao longo, dispostos aleatoriamente. Seu decote faz um lindo colo, valoriza a saboneteira com uma alcinha bem fina e geometricamente distribuída na forma oval.
E as calcinhas, são quase todas brancas. Facilita diante de tudo que descrevi acima, mas até para amar prefiro esta cor. Tenho muitas de algodão, sem costura, para não marcar. Várias da marca Liz. As de renda, eu adoro: marcam presença na hora do amor.
As blusas brancas são incontáveis, de todos os estilos e jeitos de me vestir.
O branco para mim lembra o novo, a estréia, a possibilidade...
Eu acho muito charmoso e tem muita personalidade!

sábado, 18 de abril de 2009

O meu amanhã chegou

Há tempos no peito os signos: os anjos me preparavam. Mas só na ressaca da morte é que há a confusão. O que eu vejo? Uma nova ordem, uma permissão, uma passagem muito estreita para uma futura amplidão. O pé sangrando e as lágrimas, o corpo jorrando água, a alma buscando uma paz.
Uma ciranda de cura se dá. Algumas magias e forças rasgadas de seios doando de si. Me falta ainda muita razão e o ar para respirar. Várias imagens, muitas mensagens, algum conforto. Um caminho será preciso e uma mão pra me amparar.
O Homem vibra diante do fato: não tem jeito, não tem ato, e eu resisto por me entregar. Quanta culpa pra me livrar, quanta dor por medo de errar... Me abrigo nos colos e vivo uma loucura cercada de amor. O agudo se faz tão grande que é preciso lavar a louça, arrumar a casa e correr ao mar pros braços da mãe. Saio simples de manhã, vejo as marcas no coração, e as pegadas que sei que irei dar.
Num mundo rondado por máscaras é longe o lugar da razão. Amar não é um luxo, mas a condição mais simples que há. Cuidar não é um espanto ou um tormento - e eu aceito. Carrego no fundo do peito um orgulho do meu valor. Temo o dia de amanhã feito quase não crer na guinada. Olho a cria, sinto minha força acuada e busco por meio de sonhos alguma direção nessa estrada.
Vejo o momento adiante com alguma compreensão. Eu prometo: recebo a vida e a minha condição. Mais uma noite à frente com suas energias e bênçãos. Tudo claro, dia raro: o meu amanhã chegou.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Primeira impressão

Amei o teu corpo no meu
O beijo na sacada
A minha alma encontrada
Amei teu olhar chegando perto
Passeando pela minha fala
De encantar multidões
Amei o avesso do início
O refletido
O sentido parido
(o pré-sentido)
E o trajeto escolhido
Amei o conceito
O não entendido
E o meu defeito que nos uniu: humanos e naturais
Amei, então, o concedido.
Amo o desejo de reencontro
Teu comigo
Meu comigo
E de todas as lembranças com suas possibilidades
Amo o tempo e suas verdades
O caminho a ser traçado
E coragem de viver.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Ressaca

Tem momentos de mim que só são permitidos para algumas pessoas
Possuem acessos cujo critério pouco-a-pouco reconheço
São lugares de voz fraca
Força fraca
Olhar cheio, a transbordar.
Eu diria que são momentos coração
Onde a sociabilidade pouco importa
O ridículo descortina-se majestosamente
Fazendo a humana essência crescer
Aparecer
E vencer.
(nem que seja à tapa!)

Aos amantes da solidão

Na maioria das vezes eu não sei. É um vasto que me habita bem no centro, justo na referência. Eu puxo o fio e o novelo é longo. Nesse desenrolar é que brotam as palavras. É feito ilha onde elas nascem, com margem de praia longe. Eu fico sentada numa pedra molhando os pés no mar. A vida passa e eu mergulho, sem nem saber nadar. Se me bate o desespero, uma verdade me salva: somos todos sozinhos – duas pernas, dois braços, mãos e pés cheios de dedos e um pensamento sem fim. Esta é a minha imensidão: um pensamento sem fim – e desejo a solidão a modo de ter medo de nem desejo mais ter. Até que algo me dói, o corpo dá sinal, por via de uma lágrima ou de falta de sexo. O caminho faz volta e as mentiras que eu conto me fazer rir. Ainda hoje contei que adormecera antes do tempo, só pra me proteger. Eu invento, casulo, esquento, me estico... e só depois eu volto a pertencer.

Diário em oração (Por mim, por Clarice e Chris & Dom)

Acordei nua: pele e útero. O dia foi perdendo a densidade e não fora possível vestir-me depois de ter bebido até ficar idiota. Cantei alto, uivei no corpo e, graças a Deus me protegi te terem me penetrado sem preparo. Depois de conhecer Lóri e Ulisses e me compreender no absurdo anteparo (da vida), o que quero é dor sem razão: só profunda, só nos poros. Dor de chão e de choro, até esvaziar. Já vi gente que encara o ciclo da morte de frente, mas pintando para vivê-la ainda maior, sobrepondo qualquer possibilidade de humilhação com coragem de abismo... por essa me acometi. Se um dia eu me unir a Deus, por modo de saber quem sou, eu me autorizo a viver um sexo que nunca soube: para sorrir de alegria funda e fraquejar de amor delicado. Eu me rendo, eu me rendo... Repito mil vezes pra conseguir, tentando perder a cólera no caminho de me aceitar. A minha loucura não passa. Às vezes me cega de ver o miúdo da vida, mas mesmo assim, dou graça. Tenho medo de ficar normal, parar de sonhar estranho e não perceber a ligação entre o mundo e eu. Ainda bem que sou mãe: tenho função e o meu umbigo com a santidade. Amém.

O peito às voltas e um coração que não descansa pela floresta da madrugada

“Só a alma atormentada pode trazer para a voz o formato de pássaro”
Manuel de Barros

O peito às voltas e um coração que não descansa pela floresta da madrugada. Desejo uma queda de 25 metros para a vida sorrir pra mim: uma queda em água seguida de cachoeira e meu corpo passear sem esforço. Sou vasta de palavras que buscam preencher o espaço entre minha fantasia e eu. Existem fatos: sorrio mais do que a maioria - ser alegre é uma referência. Vivo a pele, o peso e o líquido com intensidade. Gosto de sexo pela manhã, de noite e de tarde, sendo capaz de passar horas nesta ocupação (me enrosco no corpo do outro e desfruto do seu universo e do meu – amplidão). Adoro conhecer o mundo mas me apego demais ao meu leito e, mesmo sem leite, continuo amamentando, então quase não saio daqui. Tenho medo, choro verdadeiramente com dificuldade e não sei o que pode acontecer se estabeleço limites.
Vim à vida para a maternidade e tenho a ilusão de que tudo nela segue o processo de concepção, geração, parto, desenvolvimento, maturidade e morte. Tive várias mortes que não controlei, algumas delas por suicídio. Nasci algumas vezes por querer e cresci de forma natural ou forçada, outras vezes sequer percebi e já estava com desenvoltura e espanto. Tenho vontade de que a noite seja um útero de me refazer, o que poucas vezes atinjo. Há mentiras que me servem, caem bem no meu repertório de sobreviver dentre as verdades que descarto. Há verdades que eu adoro e me apego. Ambas (mentiras e verdades) compõem um eixo de eu navegar e me sustentam num caos em equilíbrio sem concentração. Quando a escrita me acontece nada interrompe, nem o que há por fazer: é uma ordem.
Sinto-me sozinha demais: por dificuldade de saber quem eu sou, quem são os outros, e que podemos conviver sem sermos uns os outros - isto é só uma hipótese que há tempos investigo, ainda sem conclusão. Nas horas em que divago: procuro mensagens no celular, leio textos na Internet, vejo fotos de momentos que de amar, tudo muito rápido e sem profundidade. Temo fortemente a hora de ver grande e de perto, vôo alto ou passo rente às trevas, me queimando só na superfície... e eu odeio a superfície porque ela não me satisfaz.
Me visto colorida e na moda, como desordenadamente, durmo mal se estou ansiosa, falo de forma descompensada e vou na paralela. Sonho com freqüência e me lembro: uma dádiva. Não avisto o ponto de chegada, e É CHEGADA A HORA, eu sinto! Eu sinto e vejo, tudo em volta me diz. Que diabos será quem eu sou? Que anjo me dará a mão? Este ano até na igreja fui e orei, mesmo sem fé. Invejo a crença alheia e só confio na poesia: só nela e nem em mim. Estou com vontade de parar a vida e desfrutar de um ócio profundo e terno: virar caramujo, hibernar e, então, feito caule, crescer pro futuro numa diferente tonalidade. Eu quero ser um sol e amanhecer bem de tarde, só depois de espreguiçar. Desejo preocupar só com as coisas que valem à pena. Mas o que vale à pena? Qual a essência? Repito a pergunta com a um mantra, no sentido de decifrar. Eu penso que só respondo se relaxar, eu penso sem relaxar, eu penso e não respondo, eu penso só, eu penso, penso.. e o peito às voltas, um coração que não descansa pela floresta da madrugada onde me acho nitidamente acordada, a procurar o amor.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Eu quero viver exatamente o agora e tecer o amanhã com fios de amor

“A Criança Nova que habita onde vivo
Dá-me uma mão a mim
E a outra a tudo que existe
E assim vamos os três pelo caminho que houver,
Saltando e rindo
E gozando do nosso segredo comum
Que é o de saber por toda parte
Que não há mistério no mundo
E que tudo vale a pena. “
Alberto Caeiro / Fernando Pessoa

Enquanto não há o que dizer de tanto sentir, conto que muito aprendi. Respeito a hora matutina, ainda escuro, quando não avisto o ponto de chegada. Carrego no ventre uma humanidade inteira: engravidei de visões e não posso abandonar os filhos na travessia – este Homem haverá de mudar e este mundo será outro. Perdi os contornos, desmancho sem controlar, justo eu que careço de limites. Benditas as palavras que me cercam, se não eu ia evaporar...
Eu quero viver exatamente o agora e tecer o amanhã com fios de amor. Me achei de ser tecelã de uma teia forte e fluida. Aprumei de incluir na batalha cada lágrima, toda angústia das coisas inomináveis e os apertos no coração. Os sorrisos são meus guias pelo gosto da essência que tem – de criança. Eu concentro, olho dentro: tanta coisa! Carrego em mim toda confusão de um fato perto da morte: um filme que passa, sem início e sem final, mas pleno de sentidos para um aprendizado súbito.
Com as pessoas que costurei e emprestei meu estampado, com aquelas que cozinhei e alimentei o meu trajeto, está no peito alguma marca, uma lembrança, uma força de continuar a entregar todo meu tesouro a cada instante. Descobri que a presença é um presente raro que eu sei dar - depois de muito me esquivar entendi, e por isso sou capaz de passar horas a fio a conhecer universos e sabendo de mim.
Desejo uma gente que se reconhece por apenas olhar: nenhuma palavra traduz seu valor a não ser a palavra amor, que não se pode reduzir.
Cada poema: uma flor nascida inesperadamente num seio de pedras. Um milagre que não se entende e se confia como amuleto. Um poema com palavras, sem palavras, feito abraços, leitos ou lares de abrigar os sonhos altos. Eu quero sonhar sonhos altos pra voar em balões.
É hoje o dia, é esta a hora, o que é preciso está dentro: os encontros são de minha responsabilidade e fruto da minha coragem pra ir além dos alicerces. O meu coração pulsa e posso sentir a curva de transmutar logo adiante em mim. É triste o instante de respirar, mas há esperança por unir-me ao Deus criança que passeia naquela aldeia por onde Caeiro andou. De tudo que existe, as coisas concretas de me apegar são: meu filho me chamando pra brincar, mate gelado na geladeira, chorinho na praça e tapioca, desejo de viagem e alguma fome. De tudo que insiste em ser relevante, só uma coisa importa: viver exatamente o agora e tecer o amanhã com fios de amor.