quinta-feira, 17 de março de 2011

Mãe, você vai ser titia!

Ter irmãos é das melhores coisas da vida. Daniela, Fernanda e eu somos bem diferentes, mas no fundo a gente sabe que por nós somos capazes de tudo. É uma amizade visceral, algo que precede as afinidades, costura o tempo, une as partes. Não temos o mesmo pai biológico. Eu sou filha do primeiro casamento da minha mãe. Mas do modo que tudo foi criado, existe uma teia só, uma genealogia só, uma referência comum pra gente se apoiar.

O Lucas era ainda pequeno quando eu me separei do Evandro, seu pai. Desde então e, possivelmente, desde antes, eu não senti a vontade de gerar novamente. Eu acho lindo a pessoa grávida, vejo um brilho na mulher. É um estado que conecta com a essência, como se Deus estivesse, concretamente, dentro da gente. Mas de algum modo concluí que eu viveria isso uma vez só, uma intensa e única vez. Eu sentia pena pelo Lucas ficar, talvez, sem irmão. Dele não ter essa experiência da paridade, da fraternidade profunda que eu sei como é.

Um período depois da minha separação o Evandro encontrou a Karla. Com o tempo vimos que, além do nome, tínhamos em comum um olhar sobre a vida. Aos poucos viemos rompendo as fronteiras e desfrutando de uma vivência familiar respeitosa e amiga. Ela cuida do meu filho com carinho maternal. Entre nós há uma continuidade para que o seio, para o Lucas, não seja uma coisa partida. Optamos por este caminho. Seguimos firme. Consideramos as crianças acima de tudo. Sabemos o valor que temos na construção de uma pessoa melhor, de uma família melhor, de uma sociedade melhor, de um mundo melhor.

“Mãe, você vai ser titia!”. Ontem a noite era uma voz de felicidade saindo do telefone contando a novidade da chegada de um irmão. A Karla já tem um filho que, para o Lucas, já é como tal. Mas agora o laço se ajusta, o lar se afirma mais, sedimenta sua rede de proteção.

Felicidades à vida do fruto do amor de Karla e Evandro.
Meu coração comemora que o Lucas vai ter um irmão.
Eu serei titia pela primeira vez.
É motivo de celebração!

terça-feira, 15 de março de 2011

Qual o seu tesouro?

É muito simples. Ser adulto é que às vezes complica.

Domingo eu brinquei com o Lucas de Caça ao Tesouro. Nas férias ele aprendeu isto com os filhos da Flavia, da Mel e da Carol, em Rio Bonito de Lumiar. Volta e meia eu via as crianças circulando a casa e o quintal buscando pistas que levariam aos objetos desejados, frequentemente balas, chicletes e chocolates.

Sábado a noite, voltando de uma festa, ele me pediu: “mãe, podemos brincar de Caça ao Tesouro quando chegar?” Era tarde, eu estava cansada, tinha voltado de uma viagem. Prometi que quando ele acordasse a brincadeira já estaria montada. “Então mãe, temos que escolher algo que eu goste muito para você esconder. Os DVDs do Harry Potter! Que tal?”

Achei ótimo que o objeto era fácil de encaixar nos diversos cantos da casa. Passei a noite sonhando o trajeto, os desafios que eu poderia propor para que ele percorresse o seu desejo de achar.

Pista 1: pregada debaixo do pires do café da manhã

"Bom dia Lucas,
Aqui começa a sua Caça ao Tesouro.
Prepare-se para uma aventura emocionante!
Você terá que seguir as pistas para achar os DVDs do Harry.
Para encontrar a primeira, vá escovar os dentes!
Beijos e boa sorte,
Mamãe."

- Ah, mãe, tem que escovar os dentes agora?
- Teeeeem

Pista 2: (mãe, eu não acredito que você colocou a pista aqui!!!) enrolada na escova de dente

"Muito bem, Lucas!
Escovar os dentes depois de comer é muito importante!
Agora, para seguir na busca do seu tesouro, arrume a sua cama."


- Oba! Aposto que tem pista na cama!


Pista 3: no meio dos lençóis


"Que tal agora ter um poema de um poeta que você adora? Advinha qual é? Uma dica: o livro tem uma capa branca e está na sala."

Então:

“O menino ia no mato
E a onça comeu ele.
Depois o caminhão passou por dentro do corpo do menino
E ele foi contar para a mãe.
A mãe disse: Mas se a onça comeu você, como é que
o caminhão passou por dentro do seu corpo?
É que o caminhão só passou renteando meu corpo
E eu desviei depressa.
Olha, mãe, eu só queria inventar uma poesia.
Eu não preciso de fazer razão.”


...

Pista 9: no bebedouro

"Agora que você já tomou café, escovou os dentes, arrumou a cama, leu um poema do Manoel de Barros, molhou as plantas e fez um desenho lindo, esta é sua pista final. Os DVDs estão dentro de um objeto que a gente coloca na cabeça, e tem jeito de carnaval."

Era um chapéu rosa de corações brancos que eu usei de fantasia e ele adorou! Era a gente vestindo a brincadeira, fazendo a farra sem nenhum disfarce. Dentro dele tinha um menino mágico, um tesouro escancarado que a vida me deu.

Na caixa dos DVDs, uma mensagem final direcionando ao dever de casa. Mãe má? Ele amou! Era um texto do Pinóquio para ler e conversar o passaporte para a esticada na cama com pipoca e guaraná.

Dá para entender o que aconteceu, não dá?

As tarefas foram realizadas com enorme motivação. Sua euforia aumentava ao perceber que as atividades cotidianas podiam ganhar o ar da molequice. Era fácil. Era bom. No meio da rotina e das ordens, na maioria das vezes chatas demais, estávamos jogando com a nossa capacidade de ter prazer com as coisas simples da vida.

Uma meta a alcançar.
Um prazo pra terminar.
Um objetivo pra realizar.
Qual o seu tesouro?

(Não pense! Diga o que vem primeiro à sua mente!)

Quer se tornar um gerente?
Quer namorar pra se casar?
Quer cuidar de gente?
Quer ser um rock star?

Que tal começar a brincar?

quinta-feira, 10 de março de 2011

Voraz

O amor quer sair pela minha boca
com sua voracidade louca.
Bicho vivo,
faminto, rastejante, arteiro
me morde primeiro para andar livre
sendo o que ele é:
instinto, entranhas, vísceras, sangue escorrendo.

O amor pode até me matar.
Vive sem mim,
mas não vive sem se saciar.

quinta-feira, 3 de março de 2011


Pessoas não são descartáveis,
Se negue ao desperdício.
Por uma ecologia do ser: