Esta foto representa o fio da minha
vida. Eu me reconheço neste corpo de menina, hoje mulher, mas ainda menina. Olhando
esta imagem esses dias, vi a minha mão direita dobrada, bem dobrada, quase
fechada. Há algum tempo, nas minhas investigações corporais, reparei que frequentemente
tenciono esta mão, e este braço, e este ombro. Eu sempre disse que sofria de
uma tendinite causada pelo uso intensivo do computador, e que ela, esta
tendinite, era também a responsável pelas dores de cabeça que às vezes sinto, uma
dor que começa pelo lado direito do pescoço, e que na semana passada me apertou
o coração. Mas hoje, agora, observando esta foto, tive a certeza de que não, de
que esta é uma dor cuja história se inicia muito antes de eu saber digitar. Pois
bem, este cabelo, aí estou com ele, desarrumado, despenteado, e me acho linda
neste desformato. É a moldura mais perfeita para este olhar fundo da minha alma.
A menina desta foto tem um olhar maduro, um olhar com alma que eu tive desde
menina. Então este corpo e este olhar são a minha composição mais essencial,
por isso chamei esta foto de “fio da minha vida”. As pernas firmes, os cabelos soltos,
aliás, meio presos meio soltos, e este olhar, e esta mão, e este corpo exposto
para a vida, em pé, ereto, com curvas e meus trajetos pessoais. Eu amo esta
foto como amo o meu passado a ponto que querer ser criadora de
futuros, do meu. E ter este olhar amoroso para tudo que existe em mim é o que
firma o meu lugar na existência.