quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Ao Jayme

Certo dia você me disse que eu corria um grande perigo. Que eu era o tipo de pessoa que, bem no meio da guerra, por entre as balas se entrecruzando, poderia parar para pensar no porque do conflito. Alertou-me: nessa hora não reflita, lute.

Como eu queria uma de tuas metáforas pra me salvar agora... “Estás num ano Teflon”, na mesma ocasião, “nada cola”.

Sinto-me órfã de interpretar meus acontecimentos com mais esta lembrança. Sol, estrelas, planetas, em nada creio a não ser nas possibilidades que dão de elaborar histórias de me compreender. Verdades porque me cabem. Mentiras porque não se provam? Certas porque me consolam. Todas minhas.

Saudade de mim pela tua boca naquela mesa farta da tua linda sala. E depois do cafezinho íntimo feito o mapa do meu filho. Nestes dias escuros, precisava tanto daquela lua nova de me renascer!

A guerra está bem no meio, os tiros, as trocas, a mesquinhez humana a toda prova junto comigo e sem maquiagem. As palavras de depois da sessão: conceituais, autorais e para nossa apresentação - ainda estão na minha caixa de entrada. Meus poemas e teus textos de “homem interrompido” – segundo a tua fala.

Este escrito nem era pra ser este, mas o teu tamanho me dominou. Teu tamanho que me cobre agora por intuição de querer ser feito você: dos altos da economia, sair no meio da banda - criar o meu próprio bloco e juntar essa gente toda que eu venho conhecendo por obra do acaso.

Tua calda de cometa ainda vibra aqui: na praia do Leblon, num café do centro da cidade, no Moreira Sales, nas casas de quente fogão, no meu CD que traz de volta a tua voz doce e certeira – e que é agora a minha oração.

O fim do ano que chega, o tal balanço. A minha vida de 2009 daria um livro por dia. A minha solidão: essa imensa leitura. O nosso encontro: caminho de paz.