quinta-feira, 27 de maio de 2010

Declaração

"Mulher, ai, ai, mulher
Sempre mulher
Dê no que der"
Vinícius de Moraes e Antônio Carlos Jobim

Todos os poemas que escrevi
Eu vou mostrar
Para que se acalmem as palavras de amar .
Meu amor em versos
Pelo universo que é gostar.
O desejo fluindo nos verbos que não tem fim nem fundo
É o mundo que eu construo sem medo e sem ressalvas.
As noites que dedico à minha alma
Não tem os limites e os contornos
Do espaço delimitado pelo corpo:
Vem do infinito humano
Que se cria a cada dia,
Em cada passo -
Uma coragem de nascer constantemente
Ao lado do bem amado.
Eu vivo a poesia assim, dilacerada,
Rompendo os óbvios estereótipos
Com uma intimidade declarada.
Uma mulher apaixonada
Cumpre a sua função
De estar constantemente grávida de si.
Reproduz, por seduzir,
Nas águas desaguadas,
Os filhos que decide conduzir por seus caminhos.
Carinhos, cuidado,
A mulher se dedica,
Em ausência de pecado,
Às crianças-imagem-e-semelhança
Da esperança que deseja ser.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

A dona do carnaval

Chego do recital com a poesia dominando
O corpo, a alma, as mãos agitadas para confirmar o fato:
Viver a poesia é um ato consumado que eu repito sem cansar de repetir.
Escrever, ler, dizer
A poesia em suas diversas formas
Doma-me sem chicote
Sacode a poeira
Rompe a minha rotina
Todo dia dá a volta por cima!
Não adianta eu me esconder no calendário dos compromissos
Dos sonos não dormidos.
Ao cansaço eu não obedeço
Por sonhos entrego meus dedos ao lápis, ao teclado
Indo ao encontro do chamado maior que é registrar
Ponto a ponto
Os encontros das palavras
Com os sentimentos vivenciados.
Tem gente que vê novela
Não sai de frente da TV
Tem gente a espreitar a janela
A vida dos outros
Os problemas com os quais não tem nada a ver
Enquanto eu me entrego à esta festa delirante.
Sou amante dos versos, verbos, adjetivos, pronomes
Das sentenças particulares e universais
Das fotografias e filmes substanciais.
Minha vida
Minha fantasia
Meu carnaval.
Se chegue, meu povo, que o bloco está passando!
A poesia é abre alas
Do meu enredo principal.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Poesia viva

Ontem fui assistir pela terceira vez "A Natureza do Olhar", espetáculo em que Elisa Lucinda e Geovana Pires dialogam como Álvaro de Campos e Alberto Caeiro respectivamente. "Notas para recordação do meu mestre Caeiro", texto escrito por Álvaro de Campos, confirma a reverência deste ao poeta natural, que ao passar pela vida vendo as coisas, descreve de uma forma essencial e quase infantil as sensações humanas. Ele diz: "eu sou uma sensação só minha", ao ser provocado à uma auto-definição. Sobre o amor, escreve:

O amor é uma companhia
Já não sei andar só pelos caminhos
Porque já não posso andar só
Um pensamento visível faz-me andar mais depressa
E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo
Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo
E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar
Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas
Mas se a vejo tremo, não sei o que
é feito do que sinto na ausência dela
Todo eu sou qualquer força que me abandona
Toda a realidade olha para mim como
um girassol com a cara dela no meio.

(em Poemas Inconjuntos)

Pois sim..

Dormi com este poema, acordei com ele e, neste embalo comunico a todos que nesta quarta-feira tem recital na CASA POEMA. Eu e outros alunos da Elisa Lucinda, Geovana Pires e Daniel Rolim falaremos poemas da Elisa. Na sequencia será realizado um bate-papo gostoso sobre viver de poesia.

Então:

VIVER DE POESIA
Recital de Poemas de Elisa Lucinda
Data: 26 de maio (quarta-feira)
Horário: 20h
Local: Casa Poema - Rua Paulino Fernandes, 15 - Botafogo
Tel: ( 21)2286-5977 / (21)2286-5976
Entrada Franca - evento sujeito à lotação

A NATUREZA DO OLHAR
Até 25 de julho
Teatro SESI (Rua Graça Aranha, 1 – centro – RJ)
De sexta a domingo as 19:30

Grande beijo, Carla

quarta-feira, 19 de maio de 2010

E o kiko?

Quem é mãe como eu sabe a luta que se trava com joguinhos eletrônicos e TV para que o rebento realize suas atividades rotineiras: banho, jantar, escovar dentes etc - e ainda ter sempre o velho e bom diálogo.

Pois bem: tiranamente proibi a entrada de DS e PSP na minha casa. Mesmo sendo chamada de doida radical, estou super, super feliz com esta decisão. Entretanto, recentemente a NET aqui de casa voltou ao ar (pasmem: ela pifou há uns meses e eu não fiz a menor questão de concertar – até que - meu filho, desesperado, ligou pro pai, meu ex-marido, que saiu em sua defesa acionando o reparo para que ele “voltasse à vida”). Desde então a minha hora do jantar foi seguindo o seguinte trajeto:

- Oi Lucas, mamãe chegou :-) !
- Ah... ah... ah...
- Lucas, tá na mesa, vem jantar :-)!
- Ah, mãe, depois deste desenho...

Então gente, na NET tem desenho atrás de desenho, com durações de ininterruptas meias horas.

- Lucas, vem agora.
- Ah, mãe, você é chata - resmungo, cara feia, blá blá blá...

Depois de alguns dias nesta lenga, resolvi largar de mão, jantar sozinha. Quando ele teve fome, sentou-se a mesa. Aproximei-me dizendo:

- Então, Lucas, como iremos chegar num acordo?
- Que acordo, mãe?
- Mamãe chega em casa e quer conversar com você, jantar junto, brincar e tudo mais.
- Hum... não sei...
- A mamãe está ficando chateada porque você só quer ficar na TV, entendeu?

Daí veio a ilustre pergunta deste pequeno menino de mim nascido:

- E O KIKO?

Mães e pais deste Brasil varonil: o que retrucar diante desta célebre resposta-indagação que deixa a gente torta, tonta e ao mesmo tempo radiante por tamanha sagacidade?

Fui ao banheiro pra rir sem ser ouvida e não perder o respeito. Voltei assumindo a posição:

- O Kiko é o seguinte:

Nem mais preciso relatar pra este post não se alongar demais de perder sua graça. Sei que está complexo educar neste mundo cibernético e áudio-visual. Os pequenos prazeres já são outros nestes tempos que são outros. Como identificar o que é essencial sendo invisível aos olhos? Como não se perder nesta aprendizagem sentimental cotidiana que nos arrebata de trabalho, tarefas e cansaços pra fazer frente aos valores fundamentais do olho no olho, conversa fiada à mesa se estendendo depois da sobremesa e coleta dos elementos raros pra se educar depois e mais sobre o que nos nutre à alma e o coração vida a fora?

Perguntas sobre as quais venho, dia-a-dia, construindo teorias, sendo ora adulta e ora menina, para ensinar, doce e firme, a arte de conviver.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Composição

Ainda estou sem palavras
Tem momentos em que a poesia apenas paira
As sensações no entorno, esvoaçantes.
Quem me dera um fogo de terra pra ancorar meu barco agora
Pra chegar sem queimar a largada.
Todo dia, recriada
No eterno parto de partir pro fato
Eu sinto dor e lastro.
Como é lento desenvolver
Os membros rompendo
O tronco
A mente
A alma sendo maior que a gente
Mais forte que o coração pode bater.
Gritos, sussurros
Uma flor no meio de tudo
Sem pai, sem mãe, sozinha
Exalando sua essência criança pequenininha
Na esperança de florescer mais, mais forte, mais colorida
Perfumar a vida com suas variâncias de pétala nascida,
Uma flor que precisa de água, comida, carinho, futuro
Seguro pra morrer tranqüila.
Sobra - tudo me sobra.
Sobretudo a coragem.
Sobretudo o medo.
Equilibrar-me tênue neste enredo
Tornou-se o diário desafio
Desfiladeiro da vida
O fio que me une a mim, a Deus e ao meu filho
Por onde passam todos os líquidos
E todos os segredos.

Certo que sou poeta e esta é a única segurança
Neste sendo tenho ofício, propósito
Fim, meio, início
Processo, ritmo, forma, conteúdo - tenho tudo.
Tenho nada porque nada é meu
Cada palavra é de si e segue rumo ao coração de alguém que tem ofício, propósito, fim, meio, início, processo, ritmo, forma, conteúdo
Que tem tudo - e nada, feito eu.
Nada temos sozinhos
Temos nada se ficamos escondidinhos atrás da porta
Vivendo vida morta
Sentindo pavor.

Na alegria ou na dor eu canto
Preenchendo os espaços de espanto
Com os meus projetos de amor.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Mais presente

Este ganhei do amigo David:
Poeta de mão cheia
Peito aberto
Papo reto
Entre palavras que fazem curvas no meu coração.

Voz forte
É vento norte ao dizer poesias
É mastro
Macho
Homem-grande-criança
É maduro e, ao mesmo tempo, esperança.

David chora, comemora
Ri, extrapola
Elabora a cada verso escrito
Revela de um jeito lindo sua face oculta
Sua metade aberta
Seu gomo
Seu caldo
Seu bagaço.

Tudo é insumo pra fazer suco
Neste mundo que se chama dia-a-dia
Tudo é verso de fazer palavras
Neste universo que é a poesia.


A sua cara

Conheci-a lisa.
Fios queimados
pela teimosia
de ser outra fisionomia.

Mas aí veio a fada negra,
Lucinda, clareando as idéias,
e vários alunos assumiram seus cachos.

Fiés da nova doutrina: não há cabelo ruim!

Surpresa que a vida não revela.Ela quase quebrou!
Mas seu nome salvou o caso, o cabelo, a casa...

Bambu bom dobra no vendaval mas não quebra,
só enverga!

Hein Vergara?
E voltou cacheante
com brasileira cara.

David Lima

Visitem suas lidas palavras combinadas em poesia e prosa em : http://desatano.blogspot.com/





domingo, 2 de maio de 2010

www . voce tem que publicar os seus poemas.com .br

Este poema foi escrito no guardanapo da Gol lineas areas durante o voo Rio Brasilia no ultimo dia 25.09.2007 pelo meu amigo Nelson Kestenberg, logo após nosso encontro no aeroporto.

"Foi mais ou menos assim:
Acordamos na mesma hora
Fomos para mesmo lugar
Marcamos com pessoas diversas,
E por força do acaso, nos encontramos
Os destinos diferentes
As idéias iguais
Os momentos guardados na memória
WWW.VOEGOL.COM.BR

O sorriso sem graça dos outros
E a poesia a juntar nossas vidas
- Você vai mesmo no nosso encontro de poesia
- Ele é um dizedor de poesia
- Ela é uma poeta de caligrafia cheia
- Cê tem que publicar suas poesias
O café quente a despertar nossos dias
Cotidiano, reunião, email,uma foto do meu filho,
Um papo, um poema, duvidas, dilemas, quantos problemas
WWW. VOEGOL.COM.BR
Meu Deus estão chamando o meu vôo
E ela desconversou, ficou sem graça, mais insisto
Vou com os meus pensamentos repetindo
Você tem que publicar os seus poemas
É muito egoísmo deixa-los presos no papel
Lembro-me do poema do escritor israelense (Amoz Oz), que dizia:
“ Quando eu era pequeno queria ser livro quando crescesse.
Não um escritor de livros, livro mesmo.
Gente se pode matar como formigas.
Escritores também não são tão difíceis de matar.
Mas livros, mesmo se os destruímos metodicamente,
Sempre há chance de sobrar algum,
Nem que seja apenas um exemplar
A continuar sua vida de prateleira, eterna, discreta e silenciosa em uma estante esquecida de alguma biblioteca remota de qualquer cidade do mundo.
Quando eu era pequeno eu queria ser um livro”
Por isso poeta amiga te digo
WWW . VOCE TEM QUE PUBLICAR OS SEUS POEMAS.COM .BR"

Nelson Kestenberg

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Amigo Nelson, eles estão chegando.