sexta-feira, 14 de maio de 2010

Composição

Ainda estou sem palavras
Tem momentos em que a poesia apenas paira
As sensações no entorno, esvoaçantes.
Quem me dera um fogo de terra pra ancorar meu barco agora
Pra chegar sem queimar a largada.
Todo dia, recriada
No eterno parto de partir pro fato
Eu sinto dor e lastro.
Como é lento desenvolver
Os membros rompendo
O tronco
A mente
A alma sendo maior que a gente
Mais forte que o coração pode bater.
Gritos, sussurros
Uma flor no meio de tudo
Sem pai, sem mãe, sozinha
Exalando sua essência criança pequenininha
Na esperança de florescer mais, mais forte, mais colorida
Perfumar a vida com suas variâncias de pétala nascida,
Uma flor que precisa de água, comida, carinho, futuro
Seguro pra morrer tranqüila.
Sobra - tudo me sobra.
Sobretudo a coragem.
Sobretudo o medo.
Equilibrar-me tênue neste enredo
Tornou-se o diário desafio
Desfiladeiro da vida
O fio que me une a mim, a Deus e ao meu filho
Por onde passam todos os líquidos
E todos os segredos.

Certo que sou poeta e esta é a única segurança
Neste sendo tenho ofício, propósito
Fim, meio, início
Processo, ritmo, forma, conteúdo - tenho tudo.
Tenho nada porque nada é meu
Cada palavra é de si e segue rumo ao coração de alguém que tem ofício, propósito, fim, meio, início, processo, ritmo, forma, conteúdo
Que tem tudo - e nada, feito eu.
Nada temos sozinhos
Temos nada se ficamos escondidinhos atrás da porta
Vivendo vida morta
Sentindo pavor.

Na alegria ou na dor eu canto
Preenchendo os espaços de espanto
Com os meus projetos de amor.

3 comentários:

  1. Linda, li e reli, vontade de me transbordar...

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  2. Muito lindo este poema!

    Em vários versos me senti descrita, ou melhor, escrita por alguém que não me conhece mas me sabe.

    Fatinha

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