sábado, 11 de setembro de 2010

Influência, amor e outras divagações sobre o Caio

“Venha quando quiser, ligue, chame, escreva - tem espaço na casa e no coração, só não se perca de mim. O que tem me mantido vivo hoje é a ilusão ou a esperança dessa coisa, "esse lugar confuso", o amor um dia.”
Caio Fernando Abreu


Caio Fernando Abreu me dá grande liberdade. Tão íntimo ele se torna, tanto me entorna que, por vezes, penso que fui eu que escrevi seus textos numa tarde clara de mim, quando posso ver o que só haveria de ser visto sem lucidez. Ele AMA - e amor é o que sinto gota a gota no espreguiçar das horas em que não consigo me expressar de tanto que amo sem cessar.

É justo com o amor que se estarreça sobre ele. Que para ele exista um caminho direto de ser dito, vivido, experimentado. É certo que a vida se amplie em seu nome, por tudo que ele é de profético na vida do homem.

Eu não acredito na não capacidade de um homem amar. Ou não aceito. Amar é tão humano quanto nascer com o sangue correndo nas veias. É essencial, existencial, fundamental, natural feito acordar, comer, movimentar, respirar.

O amor tem muitas formas e é preciso que nenhuma delas seja respeitada para que se ame sobremaneira, sobre todas as coisas, sobretudo.

É de uma nudez assustadora o que Caio fala. Cada palavra vai encontrando uma espécie de casa na nossa alma. É doido porque ele chega num nível de esclarecimento da própria dor sem perder um tico de garra de ser feliz. Sabe o peso de transgredir, mas não arreda o pé.

Está certo: cada texto segue o seu caminho no leitor que lhe dá uma chance. Quanto a mim, eu tenho esta imagem do Caio conversando comigo, acolhendo as minhas inquietações, segurando a minha mão para juntos cantarmos nas estradas da vida.

E tem mais: toda vez que eu leio o Caio me toma uma gana de escrever feito ele: frases longas e pouca pontuação para não atenuar a angústia de se confessar. A poética dele se agarra na minha, abocanha os sentimentos que estavam adormecidos nos cantos e os arranha de palavras, os beija com força.

Há muita paixão no jeito que viveu a vida. Só de saber que ele existiu eu me sinto menos só neste século XXI, nesta casa, neste corpo, nas minhas escolhas. Eu acho a minha loucura saudável e deixo de ter saudade da minha ignorância pessoal. Liberto sonhos. Fico verborrágica, pluri, intra. Fico EU, aproximando o que por vezes quero cegar.

A vida é quente no Caio. É hot. O frisson que ele me causa sempre que eu derramo os seus textos sem ressalva é o que desejo e realizo.

domingo, 5 de setembro de 2010

Construção do amor

"Cada olhar que cruzo, cruza em mim um arrepio e um pensamento “será você?”. Mas como saberei te reconhecer? Há dias que eu nem me reconheço... faltará uma metade, um terço? O quanto de mim carregaste com você? Falta um quarto, um quintal com certeza! Ainda falta nossa casa e quanta beleza por reviver... Ajustamos nossos relógios invisíveis e penso às vezes que meu ponteiro me desapontou. Chegarei atrasado, ao nosso encontro marcado meu amor?

Passo dias a pensar como serás. Não existirá passa-tempo mais desejoso, mais ansioso do que a construção do amor. Serás filha de Iemanjá? Te encontrarei na beira-do-mar? Me encontrarei na beira de chorar? Com que roupa estarás? Como serás que te vestes? Com que olhar te despes? Com que imã me imanta? Serás doida? Serás santa? Como investes o teu tempo? Para quem chega os teus tormentos?

Minha alma se lança, meu olhar de tanto rodar fica sem fôlego e sem sossego.
Ainda terás muitos anos para se esconder? Ainda terei muito engano por me deter?"

Este poema não é meu. Aliás, ele é meu, mas foi escrito pela minha grande amiga Jacqueline Gagliardi. Eu ando com muita preguiça de escrever, então, sigo lendo, conversando e, vez ou outra, sinto minha alma capturada, como se outros proferissem as minhas próprias palavras.
Visitem este ANJO NO DIVÃ.