terça-feira, 27 de agosto de 2013

Não sumi da poesia, muito pelo contrário

Voltei de Paraty tomada por um estado de criação cotidiana. Era esta a proposta e eu nem sabia, não sabia no que iria resultar este Fazer Poético Cotidiano que concebi com a Morgana. Para além do que escrevemos, que não foi pouco, o nosso registro diário não cronológico mas onírico, restou, ainda resta, este desejo que já existia - inventar a vida.
Já existia mas agora tem uma dimensão que me abraça e embala. Quase não penso das minhas ações, e é como se me coubesse apenas aceitar convites. Chegaram alguns:

Babette, parceria com o Coletivo Gourmet, onde Ayran Nicodemo me acompanhou com seu violino em poemas para celebrar o amor num jantar gourmet no dia dos namorados. O que eu gostei? Que ao invés de ter sido um jantarzinho naquele clima romântico meio batido, os poemas criaram uma liga gostosa entre quem estava lá. Deliciaram-se não só com a comida incrível da chef Ana Salles, mas também com o erotismo que Manoel de Barros, Adélia Prado, Elisa Lucinda e outros poetas escreveram tão bem. Além disso eu servi poesias, então alguns mais corajosos leram os poemas em voz alta ou para o seu par. Foi lindo de ver e viver! 










Mais com o Coletivo Gourmet - Rio Gastronomia

Criei um roteiro de músicas e poesias cruzando gastronomia, amor e arte com o Marcelo China. Ensaiamos, deliramos, saímos até na revista de Domingo do Jornal o Globo. Por motivo de força maior, a vontade de São Pedro, não conseguimos apresentar. Justo nos nossos dias, um Domingo na Lagoa e um sábado em Madureira, choveu, choveu, choveu. Estamos com essa vontade reprimida e já armando uma oportunidade para apresentar este trabalho. 


Bom, tem mais coisa, mas acho que vou dedicar este post à parceria, que tem sido bem gostosa. Publiquei um poema meu no blog do coletivo que replico aqui. Cada vez mais convencida de que viver em rede é a forma mais bacana de existir.

Fragmentos da cozinha amorosa

Degustar fragmentos
Pedaços de amor
Em texturas-gema
Aromas-baco
Caldo-sentimentos
Que tal como um poema
Invadem corpo a dentro
Despertando palavra
Sentidos-verbo
Versos de pele arrepiada.
Casamento: comida e afeto
Gesto de incluir no fazer da cozinha
A alegria de viver
De proporcionar
E pôr a alma no alimento.
Arte no ofício de misturar:
Gente com gente
Cada ingrediente na sua melhor essência
Cadência de tempero
De conversa
Cheiro na quantidade prefeita
E pra finalizar a receita
Carinho no exagero.
Adorável experiência de sentir passo a passo
Que toda dedicação se encolhe pra caber numa mordida
Num só garfo
Que entre um e outro gole
Recorre à memória por imagens:
Refeição em família
Merenda de colégio
Jantar de despedida
Almoço de aniversario
E busca cada estrato do percurso
Que nos traz até aqui
Neste agora
Que a refeição comemora.