quinta-feira, 29 de abril de 2010

João Caetano Pimentel Vargas

João é um querido cuja historia de amizade comigo tenho orgulho de contar.

Na simplicidade de um chorinho de praça, onde adoro lindas manhãs, vi este rapaz num banco, em si, tecendo ao violão.

Num convite imediato e sem receios
dei meu telefone e e-mail
com dia e hora marcada.

Foi então que sua viola - dona de espaços - habitou a minha sala.
Foi então que sua voz - senhora dos tempos - conquistou meu coração.

Mas a surpresa ainda me aguardava
Com ares de um vento bom
Cantando pelas palavras
Veio um Sopro de inspiração

Cores, formas, gostos e sonhos
Tudo toma vida em suas palavras
O sopro vira vento e a gota vira mar
É nesse mar que me lanço sem medo
Mar de água clara, onde Carla navega
Suas velas são levadas pelo sopro da poesia
Do lampejo fugidio da inspiração
Surge em forma de palavras
Essa estranha forma de prazer
É nesse mar que eu quero morrer
Um dia desses, sem pressa, dormindo
Depois do sonho acordar sorrindo
Na sua poesia me perder.


João Caetano Pimentel Vargas

João dedica palavras como quem ama sem desespero
Constrói castelos com seus versos, nos quais eu posso habitar
João me agrada por inteiro com este poema sincero
Trafego em suas palavras, qual nado em ondas de mar.

Obrigada, João.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Merda!

Confesso que batizar este post me causou certa timidez.
Não que eu não use esta palavra no meu dia-a-dia: eu uso, mas com certa precaução.
Penso que hoje tenho os motivos por fazer anúncios lindos. Explico:
Desejar MERDA no teatro é o mesmo que desejar boa sorte às estréias que virão.

“Esta expressão, que pode ser considerada um mantra, uma espécie de ritual usado pelos atores antes de suas apresentações. A expressão “merda” usada no teatro surgiu na França. Um ator iria apresentar a peça mais importante de sua vida, estava nervosíssimo, pois na platéia estariam os mais importantes críticos da cidade. No percurso de sua casa ao teatro encontrou muitos obstáculos. Primeiro, deparou-se com um incêndio, teve que desviar e acabou se perdendo. Como quem tem “boca vai a Roma”, conseguiu chegar ao teatro. Na porta do teatro para completar suas asneiras, pisou em um cocô. Entrou, atuou e saiu muito feliz com a melhor atuação de sua vida.” (Fonte: http://recantodasletras.uol.com.br/artigos/953424).

ENTÃO, VOALÁ!

Merda para Elisa e Geo!
Minhas queridas mestras da poesia que trarão Fernando Pessoa aos palcos cariocas. A NATUREZA DO OLHAR é desses momentos de se ver para dentro ao se desbravar as alegrias e tormentos deste incrível poeta português.




Merda ao Cadu e sua tropa tecelã - os Tapetes Contadores de Histórias!
Anseio para ver estes 3 HORIZONTES romperem a minha paisagem pelas lindas imagens das suas palavras teatrais.


Queridos amigos trazendo a essência da vida pela sua profissão.
Maio é o mês desta gente brilhar outra vez .
Vibra o meu coração.

BOA SORTE PRA VOCÊS!

Serviço:

A Natureza do Olhar
De 08 de maio a 25 de julho
Teatro SESI (Rua Graça Aranha, 1 – centro – RJ)
De sexta a domingo as 19:30

3 horizontes
Espetáculo adulto dos Tapetes Contadores de História – contos de Marqueritte Yourcenar
Maio
Teatro do Jockey
Sexta e sábado 21:30h – Dom 21h


PS: consultem diretamente as fontes de informaçõa sobre estes espetáculos:
http://www.escolalucinda.com.br/
http://www.tapetescontadores.com.br/

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Com licença poética

"Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou."

Adélia Prado

Com licença poética, Adélia,
Hoje cada palavra tua saiu da minha boca, do mesmo modo com que crio os meus poemas: um tanto tonta, de tão lúcida.
Andam juntas uma mulher forte e uma menina delicada como que fazendo o ciclo da vida, o cio feminino: giro para iluminar, acendendo estrelas à quem se põe ante o céu; choro despetalando a rosa, desejando "o bem me quer" no final - Quanta vida há em mim.
Reviro o rosto contorcendo o corpo sem perder o ritmo: a musica não pára e vive linda em sua cadência.
O céu é mar, mas transcendendo em capricórnio, bato as patas sobre a terra como quem exige o que é seu.
Falta fogo, falta ar. A caminhada está longe de acabar, mas a lua é farta, a água sobra e os recursos do planeta sabem trilhar as necessidades.
Oh, Adélia, me confesso como quem pede conselhos a uma velha sábia. Converso contigo de modo tão íntimo que me sinto dona de ti! Tomo este poema pondo tua assinatura na minha, tua sina na minha dor!
E desdobrada a cada dia, como em toda fase que se inicia - eu amo a tua poesia e declaro aqui este amor.

terça-feira, 20 de abril de 2010

A-dor-essência

"Quase entendo a razão da minha falta de ar
Ao escolher palavras com que narrar minha angústia,
eu já respiro melhor.
A uns, Deus os quer doentes,
a outros quer escrevendo."
Adélia Prado.

A missão:
SABER O QUE É HUMANO NESTE TERREIRO.
Bicho que urra, uiva, arde
E ainda diz que o amor é possível – a paz.
Caminho leve pelas manhãs
O sol invade
Cheia de responsabilidades, cumpro a suposta função
Enquanto a doida grita
Rebela, alucina.
Cadê a força da camisa?
A delicadeza?
Uma voz grita: PÁRA!
Te acalmas!
O tempo não é remédio santo?
Os segundos viram gotas na minha testa:
Uma a uma.
Um buraco me atropela no meio da simples alegria,
Me arrasta das belezas vividas
E do que posso e desejo ser:
Uma inteira em si.
Onde está a pequena que brincava nas flores de bom dia e,
Seria capaz de deixar pegadas na areia ao fim da tarde?
As ondas batem me tecendo aos poucos
Me rompendo o rosto sem voz e sem cor.
Em que caminho há de desaguar toda esta fumaça que me impede de olhar às claras o óbvio desta identidade infantil?
Alguém poderá suportar?
Perguntas destemidas,
Respostas descabidas,
Sonhos, imagens e passagens são a minha bagagem
Soterrada por uma violência
De noite vazia e sã.
Rios, navios pelos quais insisto navegar
Nesta vida-mar de frutos, filho, concreto
Verdade, dignidade -
Questionando se existe o abraço maior
Um certo Deus a mais que eu.
Sentir é fim ou meio?
Morrer é triste ou ato contínuo?
Sou esta russa-montanha
De mulher que ama
Nos becos da rua
Prestes a tornar-se grande menina
Nascendo de si por parto de sentir-se farta e aberta
De uma vida incerta do outro que já me vê adulta:
Velha ou antiga demais.
A pomba voa
A roda gira
Eu tonta e escrevendo sobre cada relevo
Apinhando os trevos
Os quadrados
As quinas
Numa saia branca e vermelha
A desenhar o trajeto.
Canto, conto
Historias sem sentido
Caminhos sem setas
Redemoinhos
Sopros de ar.
Perco-me no incerto
De mãos dadas à poesia
Ao colo deste enredo
Só possível nas palavras ditas ao pé do ouvido
Toda nua
Soletrando as digitais.

Poesia viva

Há histórias que merecem ser contadas. Pois sim:

Certo dia,
virei toda poesia -
para casar de vestido branco
com um poema varão.

Surgi delicada pelo meio das palavras
Rompendo a arte com a vida
Por uma varinha mágica
Numa lente de condão.

Neste meu retrato, de fato
Eu me casei pontual
Livre feito um vento lírico
Viva como um coração.

CLICK:

CASAMENTO
(Para Carla Vergara)

A poesia é a mulher do poema!
Lhe dirão os meninos
Que de ti nascem e crescem todos os dias.

Essa mulher lírica,
Num incesto profundo,
É amiga, amante e mãe do mundo.
Ama
Seduz
E nutri
O sentimento.
E para não arrebentar
O seio
O sexo
O coração
O útero
Faz versos e vento,
Como quem promete vida e sorte
Aos meninos do mundo.
Que um dia se chamarão poema
Só para casarem com ela.


Lengenda:
Mulher casando por imaginação.

(Fotógrafa: Jacqueline Gagliardi: http://anjonodiva.blogspot.com/)

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Paz e amor

Paz é uma sensação de leveza acompanhando todos os meus sentimentos,
até mesmo os de profunda tristeza.
Amor é inclusão o inteiro do outro
no centro da minha inteireza.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Gratas surpresas

"Risco", o suplemento de poesia lançado no último sábado no Prosa & Verso*, que será editado uma vez por mês por Calixto Azevedo.
A página inteira do Segundo Caderno* de hoje anunciado a Poesia Completa de Manoel de Barros.

A poesia está de volta ao diário
Nos nossos jornais
Vibrando altiva no noticiário.
Cotidiana, ela mostra sua serventia
Sai da coxia e diz: vive a alma humana
Corre sangue por entre a matéria.
Poesia também é coisa séria!

* Porsa & Verso e Segundo Caderno pertencem ao Jornal O Globo.

sábado, 10 de abril de 2010

Feliz aniversário

Há um ano acordei repentina com o desejo de realizar um blog. 10 de abril de 2009.

Fato precedente: encontrei uma amiga no samba do Centro Cultural Carioca. Pelo meio da conversa ela me perguntou:
- Você leu o meu texto sobre as mulheres?
- Não, você me manda por email?
- Não será preciso. Ele está publicado no meu blog. Dá um Google no meu nome que será fácil achar.
Ao chegar a casa: fiz a busca, li o texto e, logo em seguida, escrevi para ela já encantada pela facilidade deste encontro.

Coisa mais precedente ainda, além de constante e fruto dos falatórios de poesia em rodas, festas, reuniões de trabalho, casamentos, aniversários etc.. Muitos amigos me sugerindo publicar um livro e eu, pisciana e preguiçosa, me perdia elaborando todas as etapas necessárias a esta realização.

Uma origem: há cerca de cinco ou seis anos fui assistir ao espetáculo “Parem de Falar Mal da Rotina”. Ao final, Elisa Lucinda, poeta e atriz do monólogo, comunica que possui uma escola de se aprender a “falar poesia sem ser chato”. Saindo do teatro, procurei sua produtora, anotei telefone e endereço e, logo no dia seguinte estava ao encontro do meu primeiro poema decorado, o ENSINAMENTO, de Adélia Prado:

“Minha mãe achava estudo
a coisa mais fina do mundo.
Não é.
A coisa mais fina do mundo é o sentimento.
Aquele dia de noite, o pai fazendo serão,
ela falou comigo:
"Coitado, até essa hora no serviço pesado".
Arrumou pão e café, deixou tacho no fogo com água quente,
Não me falou em amor.
Essa palavra de luxo.”


Aprendi que sim, a poesia é a linguagem do sentimento, a única capaz de expressar como eu vivo – já que o ascendente também é peixes – e minha matéria é sonho, imagem, paisagem, imaginação. É água que derrama sem freio, sem receio e espalha a minha palavra me fazendo andar.

Outro dia uma grande amiga me disse: “você está inaugurando uma nova forma de ser uma mulher livre”, frase que muito me marcou. É verdade que vivo poeticamente, sem fronteiras entre o corpo, a alma e a mente, com um feminino vibrante e uma garra pungente. Sei lá o que há de novo nisso. Sei que sentir às vezes é dolorido, agudo, sofrido, mas eu não abro mão. Há uma beleza nisso, um gozo, algo que esgarça as minhas possibilidades humanas, engrossa a minha espessura de acolher a mim e ao outro nas vivências cotidianas.

Escrever não é minha escolha, é uma obrigação. A minha causa é ver um mundo mais humano, pessoas olhando-se mutuamente, respeitando as suas diferenças e encontrando-se nas suas essências.

Publicar rotineiramente é também uma exposição. Um poeta sabe que todo poema é autoral. (Neste ponto relato uma falsidade: nem sempre o poema do dia é o poema daquele dia – querendo dizer com isso que misturo poemas velhos e novos, despistando um pouco a minha vida cronológica). Um poeta também sabe que nem tudo que é autoral não é inventado – pois a fronteira entre a realidade e a fantasia, pelo menos na poesia, está longe de existir.

Confesso que há algo muito prazeiroso em escrever sempre. Trata-se da não linearidade na produção poética, isto é, criar poemas bons alternandos com poemas "ruins" - o que me absolve de ter que ser uma boa poeta e apenas ser poeta - como deve ser na arte e na vida.

Recebo os comentários no blog como prova de amor e respeito. Como um carinho que eu adoro.

Sobre dizer as minhas poesias, o silêncio de depois é das coisas mais gostosas que existem - são mergulhos profundos dos quais não se pode, rapidamente, retornar.

Um resgate do meu primeiro post: “Carrego no ventre uma humanidade inteira: engravidei de visões e não posso abandonar os filhos na travessia – este Homem haverá de mudar e este mundo será outro. Perdi os contornos, desmancho sem controlar, justo eu que careço de limites. Benditas as palavras que me cercam, se não eu ia evaporar... De tudo que insiste em ser relevante, só uma coisa importa: viver exatamente o agora e tecer o amanhã com fios de amor.”

http://misticasfemininas.blogspot.com/2009/04/eu-quero-viver-exatamente-o-agora-e.html

Um futuro, agora mais confiante e sendo ajudada pelas pessoas queridas: vou aprumar dois livros, um adulto e um “infantil”.

Este ano nascerá.

MÍSTICAS FEMININAS,
10 de abril de 2010

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Constituição

(Escrever é um desejo se realizando secretamente pelo meu inconsciente,
pois a palavra ela chega lá bem mais fácil do que eu.)

A poesia me pega pelas mãos
Vai me guiando pelas entranhas
Vasculhando minhas heranças.

Uma mulher mora lá
Uma mãe mora lá
Uma garra mora lá.

Uma fome, um choro, uma vontade
Uma espera difícil de se morar.

Velas brilhando, cheiros, dança
Brincadeiras de criança
E alguma estupidez.

Sonhos, lembranças
O que eu sei e o que eu não sei
O colo de Deus mora lá
E o mais profundo abandono.

Clarice Lispector mora lá
Adélia Prado mora lá
Manoel de Barros, Pessoa e Gullar.

Moram tantos amigos,
amores, paixões
Dias de festa,
tempestades e trovões
Que a minha paz não sossega:
Tece, borda, se entrega
Contrai, se assusta e não se nega a formar as minhas místicas:
As minhas místicas femininas.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Refiro-me à chuva

Hoje o Rio fechou, sucumbiu, desmaiou nas águas de abril. Ainda hoje teremos mais chuvas, choros, atrasos que retardam a vida e o nosso pão de cada dia - escondem a alegria de ser carioca revelando lixos, becos, morros e tristes enredos.

O Rio está sem palavras, sem luz, sem calçadas. O povo sem casa, colchão, quentura, candura - sem dignidade.

A Natureza?
Sim, a natureza humana – que constrói, assola, aterra e não vê mais a cor da água, do verde, da terra – está cega, surda e muda de si.
Precisa o absurdo para ver?
Precisa gritar para ouvir?

A minha palavra é sincera: mexeu com o Rio, mexeu comigo
O desabrigo me incomoda
O caos me toma as lágrimas, me soma as forças – fazer o quê?

Criança em sinal é problema meu
Nariz escorrendo é problema meu
Moleque com cola é problema meu
Essa água toda jorrando podre o descaso humano me pergunta – fazer o quê?

Dói em raiva gente inteligente que vê o seu trabalho sem implicação
Dói triste, agudo, pequeno.
Não é sereno ver o barco afundar, a banca desbancar, as cores fechadas varrendo as almas para longe das próprias estradas.

Em matéria de poesia,
Que não serve para absolutamente nada (salve esta parte de Gullar!),
Dever cumprido.
E agora: fazer o quê?

sábado, 3 de abril de 2010

Alegrias recentes

Ver a obra completa de Manoel de Barros decorando as livrarias. Possuir o caderno de anotações I e aprender que “o homem civilizado quer retardar o primitivo”, porque o “beijo de língua é um sinal de volta ao bicho, que lambe antes de fazer”.

Viajar para São Paulo com tempo bom e sem atrasos.

O sorriso da Paloma visitando a minha casa.

Confirmar comicamente a teoria Freudiana, na Casa dos Budas Ditosos.

Trabalhar com prazer de dever cumprido, de desejo se realizando.

Desejar, secretamente, ter mais um filho.

Ser abraçada pela minha varanda durante as refeições.

Receber notícias de um amigo que retorna ao lugar onde vivemos as emoções do nosso início bonito.

Saber que no domingo de páscoa almoçarei com a Jac, a minha experiência mais livre de dizer como eu sinto. O meu colo mais distante e unido.

Dançar uma salsa bem calliente com um cubano desconhecido– sem pudor. Descobrir um lugar escondido: no andar debaixo de uma casa amarela, um estúdio do mais puro rock´n roll - e cantar.

Viver, cotidianamente, a beleza de ser mãe do Lucas.

Ler no blog da Dani Torres maravilhas sobre o meu blog. Saber que a saudade da Dani Dantas é do mesmo tamanho minha: gigante.

Escutar o que o silêncio tem me ensinado a casa instante.

Tomar um banho, pegar minha bolsa e, partir para horas a fio dentro dos cinemas do Rio.

Conversar sem hora marcada.

Acordar de um sono tranqüilo.

Ser beijada.

Amar e ter dito.

O prazer do texto chegando, pedido para ser escrito.