terça-feira, 6 de abril de 2010

Refiro-me à chuva

Hoje o Rio fechou, sucumbiu, desmaiou nas águas de abril. Ainda hoje teremos mais chuvas, choros, atrasos que retardam a vida e o nosso pão de cada dia - escondem a alegria de ser carioca revelando lixos, becos, morros e tristes enredos.

O Rio está sem palavras, sem luz, sem calçadas. O povo sem casa, colchão, quentura, candura - sem dignidade.

A Natureza?
Sim, a natureza humana – que constrói, assola, aterra e não vê mais a cor da água, do verde, da terra – está cega, surda e muda de si.
Precisa o absurdo para ver?
Precisa gritar para ouvir?

A minha palavra é sincera: mexeu com o Rio, mexeu comigo
O desabrigo me incomoda
O caos me toma as lágrimas, me soma as forças – fazer o quê?

Criança em sinal é problema meu
Nariz escorrendo é problema meu
Moleque com cola é problema meu
Essa água toda jorrando podre o descaso humano me pergunta – fazer o quê?

Dói em raiva gente inteligente que vê o seu trabalho sem implicação
Dói triste, agudo, pequeno.
Não é sereno ver o barco afundar, a banca desbancar, as cores fechadas varrendo as almas para longe das próprias estradas.

Em matéria de poesia,
Que não serve para absolutamente nada (salve esta parte de Gullar!),
Dever cumprido.
E agora: fazer o quê?

13 comentários:

  1. Gostei muito...adoro suas palavras,tudo que escreve..
    e infelizmente a realidade é essa!

    Culpa de todos..q não fazem nada p ajudar!

    Bjuuussss
    aline

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  2. Adorei!
    Seguindo essas ondas urbanas que comovem a cidade desde ontem, meus olhos também marejaram.
    Obigado!
    Bjs

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  3. triste!!
    q bom q vc consegue traduzir em palavras, pq eu nao consigo.

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  4. Realidade que corta a alma.Desabafo de quem sofre e se preocupa ...Daqui da serra lamento por tudo.
    Beijos pra te aquecer e confortar.

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  5. É Carla.. é!
    bonito desaguar de uma triste situação, aguada pelo céu e mais aguada ainda pelo poder que muito pode e pouco faz.
    bjs
    Sávio

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  6. Ilhados artistas escrevem, pintam,compõem... Transformam uma enchurrada de dor na arte mais bela. Um dia para parar e pensar, ler, escrever, comer, parar e pensar.
    beijo, João

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  7. Ontem cheguei em casa à noite recamando do trânsito, do cabelo espigado e dos pés molhados. Hoje, ao chegar ao trabalho (tenho o privilégio de morar perto e poder ir a pé), descubro que as duas sobrinhas - gêmeas de 14 anos - do mensageiro do meu trabalho, estavam soterradas no Morro dos Guararapes, no Cosme Velho. À tarde, encontraram um corpo. E até agora não tenho notícias sobre a outra menina e como a família está.
    Agora estou na minha casa, com meus filhos, todos secos, alimentados e seguros. Mas quantas e quantas famílias não têm a mesma sorte!
    Não, não é nem um pouco sereno ver o barco afundar. E agora, repito a sua pergunta: nós vamos fazer o quê?

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  8. Caros amigos,

    Recebi por email e facebook muitos comentários sobre o post “Refiro-me à Chuva”. Acho que ficamos todos consternados com o que está ocorrendo com o nosso querido Rio. Alguns deles compartilham aqui:

    @Paula Salomão
    É, amiga, só com poesia mesmo…

    @Claudia Fenerich:
    bonita a poesia, Carla, é muito estranha a sensação dessa água correndo sem trégua, que impotência!... meu deus, aonde vamos parar?

    @Heitor Werneck
    Carlinha,
    Sou solidário a sua tristeza e enternecimento.
    É um problema de desenvolvimento urbano e atraso civilizatório.
    A sociedade precisa debater a questão e comprometer-se com as propostas de solução, que serão custosas a todos.
    Provocar a discussão é uma grande medida de iniciativa individual.

    @Sonia Araripe
    querida
    amei o blog!
    não sabia deste teu lado poeta!
    já postei em nossos dois blog.
    http://revistaplurale.blogspot.com/
    http://inteirativa.blogspot.com/

    @Anne Vasconcellos
    Sensacional!!!!!!

    @Rozalia Delgaudio
    Oi, Carla,
    realmente, uma tristeza ver a Cidade Maravilhosa nessa situação...
    Espero que o sol volte logo.
    Um beijo
    Rozália

    @Silvina Ramal
    Adorei! Muito bacana mesmo.

    @Juliana Bonomo:
    Desejo
    Que a chuva traga coisas boas do céu
    Esperança, compaixão, união
    Gente que acredita em gente
    Gente que cuida, se importa, escuta
    Gente que faça a diferença.

    Estes foram alguns de tantos, entre os quais estavam também vários amigos da minha mãe Tânia Vergara.

    Aline, Duda, Tati Pasquali, Flavia, Sávio, João, Vanessa, Paula, Claudia, Heitor, Anne, Soninha, Rozália, Silvina, Juliana, Andréia Gama, Marquito, Danilo – e todos os outros também queridos - vamos que vamos!

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  9. fodaaaaaaaaaaaa!!!
    que bom! ao menos escrever e produzir acalma um pouco o coração!!
    vc, profunda e como sempre brilhante!!
    o blog que compartilha e traz um pouco de calma ao perceber que o sentimento de angústia e revolta é comum...
    mas a situação APAVORAAAAAAAAAA!!!

    bjo carlota e obrigada por compartilhar seus pensamentos !!

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  10. Lindo! Você descreve , nos sensibiliza e revela nossa alma. Beijos Ana Lúcia

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  11. De Maravilhosa a cidade não manteve nada!
    Ruas alagadas, casas sem luz, pessoas ilhadas, famílias dilaceradas.
    À Deus, nos resta agradecer por estarmos secos, aquecidos, alimentados e acomodados em nossas casas que mantiveram-se em pé.
    À Ele, devemos agradecer por nossas vidas e rezar pela dos demais que não têm a mesma sorte que nós de sermos parte integrante da sociedade e não marginais (no sentido de estar à margem) dela.
    Do céu cai a água da chuva que parou nossa cidade, do meu rosto, lágrimas de decepção de uma carioca amante e orgulhosa de suas origens!

    Beijos,
    Kel

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  12. Descrição verídica do que nos deixou pasmo.
    Até agora estamos estarrecidos do que a natureza pode fazer.
    Graças a Deus estamos todos salvos.
    Linda sua poesia!

    Bjs,
    Tia Sylvinha

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  13. Caros amigos, mais mensagens chegando por email e outros meios... compartilho mais algumas, confirmando a sensibilidade de todos para o tema:

    @Sonia Castro
    Oi Querida Carlota!...
    O teu desabafo é emocionante e deveras oportuno neste momento de dor e sofrimento para tantos irmãos nossos.
    Que Deus sempre te ilumine e que as palavras sejam as tuas armas que bem manejadas certamente como nesses versos atinjam os alvos que desejas.

    @Marcia Rocha
    Carla, tentei postar um comentário, mas não consegui... Deu erro na página... Mas queria apenas te dizer que compartilho cada palavra, indignação, dor e angústia da sua poesia. Sem palavras, assino embaixo das suas.

    @Suely Povoa
    Oi Carla, valeu!
    Obrigada por transformar em palavras sentimentos tão
    semelhantes aos meus.

    @Lara Pereira
    Bom dia Carla,
    Também estou penalizada com o sofrimento da nossa querida Cidade e seus moradores.
    Obrigada pela poesia.
    Abs. Lara

    @Marcia Castro
    Estou muito triste também com todos os
    acontencimentos e vejo que você sempre atuante consegue em palavras
    expressar sua dor diante dos acontecimentos de forma muito sensível, poética
    nos chamando à mais pura realidade.

    @Jaqueline Teixeira
    Carla,
    Gostei muito do texto escrito em poesia. Parabéns!
    Que o sol que esta aparecendo hoje, acalente um pouco as pessoas que tanto estão sofrendo.
    Beijos

    @Marina Matos
    Oi querida
    Está lindo!Mande publicar no Gobo. Bjs, Marina

    Bjs, Carla

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