sexta-feira, 30 de novembro de 2012

A noiva dourada

Seus braços aspiravam asas.
Seus sonhos varriam areia
ao som e baile do mar.

Não era casta, alva, domada.
Aquela noiva dourada
tinha cavalos na garganta.

Seu homem-montaria
lançava seu corpo na relva
sem medo ou hipocrisia,
amava um bicho-mulher.

Saciada em sua alegria
cantava mundo novo
paria filho forte
seguia em nome da paz.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

O fio da minha vida




Esta foto representa o fio da minha vida. Eu me reconheço neste corpo de menina, hoje mulher, mas ainda menina. Olhando esta imagem esses dias, vi a minha mão direita dobrada, bem dobrada, quase fechada. Há algum tempo, nas minhas investigações corporais, reparei que frequentemente tenciono esta mão, e este braço, e este ombro. Eu sempre disse que sofria de uma tendinite causada pelo uso intensivo do computador, e que ela, esta tendinite, era também a responsável pelas dores de cabeça que às vezes sinto, uma dor que começa pelo lado direito do pescoço, e que na semana passada me apertou o coração. Mas hoje, agora, observando esta foto, tive a certeza de que não, de que esta é uma dor cuja história se inicia muito antes de eu saber digitar. Pois bem, este cabelo, aí estou com ele, desarrumado, despenteado, e me acho linda neste desformato. É a moldura mais perfeita para este olhar fundo da minha alma. A menina desta foto tem um olhar maduro, um olhar com alma que eu tive desde menina. Então este corpo e este olhar são a minha composição mais essencial, por isso chamei esta foto de “fio da minha vida”. As pernas firmes, os cabelos soltos, aliás, meio presos meio soltos, e este olhar, e esta mão, e este corpo exposto para a vida, em pé, ereto, com curvas e meus trajetos pessoais. Eu amo esta foto como amo o meu passado a ponto que querer ser criadora de futuros, do meu. E ter este olhar amoroso para tudo que existe em mim é o que firma o meu lugar na existência. 

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Escrever
até que as palavras dissipem
os sítios.
Nada estático
vida tempo
memória do futuro.

Cílios pintados
boca, beijo
encontro
desejo.

Passeio enfeitada
lua quase inteira,
alada.
A vida é inventar!

Corpo -
rimas e desencontros
luz no ventre e no verso
avesso que expresso.

Escondo palavras nas dobras que a pele faz. 

Escorro para viver
sangue novo,
Nascer.

Acordar e lamber pelos
histórias de pernas e de olhos,
Ver.

Desenho linhas livres.

domingo, 29 de julho de 2012

Fiz uma fogueira pra queimar as fantasias. 
Está tudo queimando,
menos o desejo de fantasiar.

domingo, 1 de julho de 2012

Raio Junino

Fogueira, barraca, bandeirinha
Crianças apanhadas de alegria
É São João!
A saia dança na espera do correio
O amor falseia sua chegada
Dorme enquanto doce
Quente meu coração.
Cometa, lua, constelação
Meu pé sangra abrasado de forró.
O corpo sanfona
O sorriso convida
A roda gira.
Caminho, roça, menina
Cabelo solto
Laço de fita
Mão na cintura
Mundo-grande-quadrilha
Viver é brincar.

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Quarto Crescente

A lua,
na sua metade de baixo,
sorri repleta de futuro.

Na noite,
seu resto de rosto,
surgem olhos de desejo

o nariz de um homem honrado
e os meus cabelos alados.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Segunda carta

Meu amor,

De novo te escrevo. Quero me contar nua. Tenho vivido intensamente. Liberdade.

Mora em mim esta criança sobre a relva. Corre bicho solto. Rosto alegrado de flores. Sobe balão. Céu alado meu peito, esta criança voa observando horizonte. Olha pra tudo. Ri de si. Sente a pele beijada. Transforma tudo em mundo seu. Baú de brincar.

Criança minha varias idades, as escolhe cada momento. Sabe tempo. Sabe desejo. Deixa-se ir, solta ar.

Era véu, mas tu viste olhos. Alma. Estrelas na escuridão. E nada te deteve cavalo. Montaria. Bailarino. Futuro. Mãos fortes na minha face mulher. Deu-me terra. Cabelos longos. Seios grandes. Útero, sangue, defeitos. Medo, vazio, distância. E líquidos, procriação. E agora sou ciclo, movimento, invenção.

Te amo por isso: transmutar-me encontro. Saber-me beleza mulher menina pequena. Vibração.

Vives ao meu lado agora. Moldamo-nos pares: também me vês em ti.

Agradeço meu corpo. Louvo imaginação. Danço vida festa, Dionísio, religião. Cumpro as rotinas. Planto as horas todas. Já tenho coragem. Vivo tua ausência. Interna em mim. E não temo as minhas vontades. Estendo partes, recolho insignificâncias, escrevo, choro de rir. E depois fico séria. Sisuda. Rígida. Dói. Mas gosto variâncias.

Respeito. Silêncio. Tudo cala este amor vivo. Caminhemos naves. Saberemos sonhos. Prever o que?

Vivendo confirmo, a todo o momento, que o amor e real.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Identidade

Era forte a tempestade
muito vento
mar batendo nas pedras
folhas rangendo seus dentes.
À cadeira, na calma de uma grama verde,
a mulher intacta me olhava revirar as entranhas:
“Um homem que me salve, um homem!” -
era a busca de uma força mais bruta que a natureza.
O desespero de acordar
o desejo de dormir
acordar e dormir,
acordar e dormir.
As lágrimas no travesseiro transbordam as fronteiras
Vontade de sentir a bacia, as pernas,
o pé, a terra.
Ereta, braços levantados
‘Sou Eu, sou Eu esta mulher
um corpo em profusa imaginação’.
Não morro disso
Não mato,
Eu vivo.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Há no meu corpo uma urgência de descoberta
Fonte inesgotável de saudade e de futuro
Poema mudo
Palavra aberta
A vida pulsa em descontrole contornando mais que forma:
Um modo de ser.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Crescer

A gente perde:
O peito
O dente
As roupas
Os brinquedos
O olhar generoso
O riso de graça
O perdão das falhas
A crença nas fadas.
Crescer é uma árvore de tronco grosso brotando no peito por dentro:
Vai sugando a água, rompendo as vigas
Quer vento, sombra, comida
Traz rumo e quer que a gente siga.
Crescer não é linear:
Tem vontade de brincar
Medo inesperado
Cantiga no chão em roda
Massinha
Tem a gente deitando de conchinha
Alma entrelaçada
Lágrima enxugada.
Crescer é eterno processo:
O ganho da razão
O trabalho
A diferença entre o certo e o errado
A emoção vibrando, mantendo o seu espaço
A largura do abraço
A vitória da criação.
A escolha: nossa vida em nossas mãos
Corpo, mente, coração
Essência, natureza, aquisição
Tudo numa roda-gira-mundo
Dentro- fora
Simples - profundo
Neste diálogo multidimensional.
Crescer é o inteiro da gente ganhando a terra, o sol, a lua, o ar.
É continuar sonhando
Mas ter o passo de realizar.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

passar os poros
chegar à dor
sentir a força
mover a crença
chorar a perda
fechar o ciclo
abrir espaço
dançar a vida.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Sensorial

Seio, colo, contorno
centro, eixo, contenção.
Cala
Sente
Desmancha, escorre, espalha
Longe, as partes do todo,
cada uma delas, o todo tem.
Junta, une, cola
Retoma a face
Preenche o peito
Respira
Detém.
Solta os sonhos que a terra é fértil quando o corpo é a presença de todo universo.

sexta-feira, 23 de março de 2012

Tudo pulsa



Aquele que escreve é também aquele que é escrito
A potência de nadar no tempo
A existência de sentir o fio
A querência de brotar no acaso
Continua inventar o instante continuo
Mantenho os meus sentidos alertas, desperto
Imagino um mundo que não acaba, destaco
e não acontecerá mais coisa alguma
que não se possa inventar
e não esqueceremos absolutamente o que se pode esquecer
e não poderemos ficar parados diante deste imenso centro sol
as mudanças são encontros de mundos que se movem
tudo pulsa
é necessário fazer missas intermináveis, cruzar linhas infindáveis
tecer sonhos inimagináveis
é necessário cozer a roupa e parte o dia da noite
a luva que colhe o pavio do sol
a calça que cobre o rubro do céu
é necessário criar no peito o grito
o grito para alinhar os fios
o grito frio do calor que queima
o grito que pulsa de todos os gritos, de todas as paixões, de todos os anseios, de todas as medidas, o grito de todos, todos, os que traem, os que sujam, os que mudam, os que lutam, os que secam, os que escapam, os que traçam, os que podem, os que partem, os que primam, os que saem, os que sentem, os que gozam
é necessário devorar leão
ser leão
ter a juba leão
correr na pata leão
rugir leão
quando rugi leão, cheirar como cheira leão
atacar leão, atacar leão
gritar
uma supernova a cada minuto
o amor brilha.

ERICSON PIRES

sexta-feira, 16 de março de 2012

Avante

Ela despe, ele veste, corpos secos, custou. Cortes nas veias, falta de ar, noites, sangue, seiva, sono, vertigem. Transtorno e tempestade. Deserto e areia, não se vê. A finitude lança a sua estrela. Uma música de fundo azul. Um sorriso no canto da boca. O tempo é pouco para amanhecer. Silêncio rascante, ação desordenada, triste a tristeza do ser, funda a tristeza do ser, dói o amor. Alma, sonho, descanso, tudo contorce. Nada a dizer que não seja este ponto final com um fio de saudade. Ele some no horizonte. Ela deita no poente. É uma despedida. Os olhos água. A cor não brilha. A vida parece errada. Sombra mareia a caminhada e o nascimento de um filho. O parto é lento. O braço rompe um sopro de esperança. É uma mãe esta mulher. O leite escorre consolando a fome. O ventre volta ajustando o corpo. Ela já pode viver.

Respira larga e livre
Justa com sua vontade
Venta vestido novo
Nave de si.

quinta-feira, 15 de março de 2012

Transmutação

Quando penso
que o aperto
vai matar o peito,
o nó virá laço
e eu borboleta.

terça-feira, 13 de março de 2012

Submersa

No peito
flechas de silêncio
viram lágrimas de agonia.
Uma flor insinua nascer
mas não há ar na superfície.
Quisera voltar no tempo
atravessar o tempo
sair dali.
Ondas de um mar descontrolado
devastam corpo, alma e sonhos.

sábado, 10 de março de 2012

Da violência do abandono

Saiu, bebeu, comeu, fumou
desejava sentir, desejava vencer, desejava ser salva.
Desejava acordar de manhã com um homem lhe trazendo o café.
Desejava amar este homem e lhe fazer café.
Desejava de novo e sempre e velozmente
que nada se rompesse
que nada lhe rasgasse
que o peito permanecesse intacto aos tapas, tiros e perfurações.
Desejava tudo e desejava nada.
Traia, batia, xingava
era culpada, culpada,
CULPADA!
Pelo desejo violada, violentada, estuprada,
engravidava e paria um filho
que morria
a cada manhã.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Navegação

Turbulência forte nas águas,
Constrição.
Minha boca quer vencer e fica rígida.
Deita-te, 
relaxa,
deixa o fio te levar desde as margens.
Quando nego ergue-se ainda mais margem:
uma casca que não se descasca,
mas quebra espalhando estilhaços.
Quando aceito o rio corre
o tempo vive
e eu escrevo.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Solidificação

Era cedo? Era tarde?
Era só sentimento.
Tempo é o trabalho de transformar
água em cimento.

terça-feira, 6 de março de 2012

Sagração

Os dois ajoelhados
peito de fronte um para o outro
respiração.
Nenhum músculo na face move
quando dizem olhos fundos:
Eu te amo. Eu te amo.
Sem rastro de som ou desejo
deitam-se alma vazia
até de manhã.

segunda-feira, 5 de março de 2012

"O esplendor da manhã não se abre com faca"*

Hoje é segunda depois da tempestade
cheiro de chuva no mato
sol raiando sem pressa
flores mais vivas.
Os pássaros cantam rastreando a manhã
o primeiro homem da terra vai começar a arar.
Tudo é calmo e respeita a natureza.
Ela se recompõe de sua fúria, que também é a sua natureza.
A digestão
nutrição e excreto.
No corpo só que ele precisa:
afeto.

*Manoel de Barros, teu brinquedo batizou o meu poema. Com licença de brincar.

sábado, 3 de março de 2012

Pulos de frente pro mar

Menina eu tinha os olhos puxados
os dentes pra frente
os cabelos rente ao couro,
encaracolados.
Menina eu tinha a vida toda pela frente
mas não sabia disso.
Acontecimentos eram curtos
desejos eram corpo
eram agora
já.
Hoje com cabelos e dentes cuidados
olhos pintados
e ideia de futuro
as causas parecem mais longas que os caminhos podem arquitetar.
Aperto no peito.
Saudade daquela menina
que pulava ondas olhando pro mar.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Desejo

Um poema- amor
coração macio
novas vigas
esse dia de sol raiando o meu peito e rasgando as minhas dores no meio.
Uma poesia adorando a minha pele
Uma poesia infiltrando meus cabelos e escorrendo o corpo inteiro.
Um poema me cubra e me revele
com a calma que é preciso para acolher e enxergar.
Um poema-mar
solta
livre
longa
calda
ondas
sem fim de amar.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Enquanto eu viver
quero ser água.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

O tempo decanta uma outra natureza.
Quando as respostas vêm sem maturar
elas repetem, repetem, repetem.

Sonho com a poeta

“Eu só ascendo os fósforos” - quando me pus a chorar.
A boléia prenha de crianças farrapas,
ameaça de tempestade.
Por dentro de dentro da casca,
indivisível escuro.
Água soterrada com enxada
que só a poesia molha,
e vaza.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

SARAUZINHO E MÚSICA PARA MANOEL no Clark Art Center - 15/01

Sarauzinho e Música para Manoel voltam ao Clark Art Center este Domingo, 15/01.

Sarauzinho as 17h. Música para Manoel as 20h.

O Clark Art Center fica na Rua Tereza Guimarães, 35 - Botafogo. É uma transversal da Mena Barreto, pertinho do Metrô.

Aqui estão as algumas fotos do último Sarauzinho, que aconteceu no Instituto Moreira Salles. Lindo de viver!





Até!