domingo, 31 de outubro de 2010

Dançantes por natureza

Movimento da vida:
Palavra que transita livre
Inscrita no corpo
Escrita na poesia.

Estão nascendo os primeiros escritos da minha vivência na Escola e Faculdade Angel Vianna.

A turma tem um blog com o mesmo nome deste post: DANÇANTES POR NATUREZA. Lindo, não?

Sigamos dançando.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Revelação

Uma mulher inteira, interna, sem centro.
Uma mulher que vive no sentimento.
Eu vi Deus em mim:
Dentro.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Peguei no blog do Bê

“Flor que primavera sempre,
brota imaginada,
imagem e nada,
tudo possível,
encantada,
vem cá ver,
pra acreditar...”
Bê Sant Anna


O Bê é um amigo mineiro + poeta + músico + profissional de comunicação e agora + pai que me chamou esta semana no skype pra contar como tinha sido bom sentir a sua Beatriz mexer na barriga da mãe.

Conheço o Bê:
+ no virtual do que no real
+ no coração do que na aparência
E muito + no íntimo do que um tanto de gente que eu vejo todo dia, porque a gente se comunica pela língua sagrada da poesia.

É uma experiência
É bom
Tem amor

Foi por isso que quando ele me contou este fato tão cotidiano da realidade gestacional que eu disse essas coisas:

"Gostaria de ter sido dita assim,
desde pequena,
desde barriga,
desde antes concebida...
será que fui?

Se não fui, agora vou dizendo,
pra ver se eu me lembro,
pra ver se a memória criada tem a mesma validade.

Adoro ser uma flor desse jeito germinada.

Quando eu estiver sem água, me rego de você.
Quando eu estiver linda, te enfeito, me faço um buquê."


É A POESIA PURA E MAIS NADA.

É TÃO BONITO QUE SÓ PODE SER VERDADE!

E foi por isso que preparei este texto mesmo antes dele postar,
porque eu sabia que ele ia escrever ISSO,
eu sabia que ele não ia perder ISSO,

ESTE ACONTECIMENTO LINDO QUE A POESIA É.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Estréia do meu cantor


CORAÇÃO, CORAÇÃO, CORAÇÃO!

Meses de ensaio, idas e vindas, desejo, preguiça, compromisso, medo, sono, foco, persistência, displicência, disciplina... quantas coisas a gente aprende numa aula de música, hein? Quantas a gente aprende sendo mãe?

É chegada a hora:
Foto, filmagem, família, ansiedade
Ele acelerado e eu ali, cara a cara para se ele esquecesse a letra.
Qual nada...
Primeiros acordes
Entrada perfeita
Tudo melódico naqueles olhos brilhando
Sorriso de canto
Corpo pouco a pouco balançando.

CORAÇÃO, CORAÇÃO, CORAÇÃO!

Uma alegria na qual não caibo
Aplausos, vibrações
Abraços, emoções
Ser mãe é merecer o paraíso!

A música?
Vilarejo, Marisa Monte.
Dá pra segurar?
Foi lindo demais!

terça-feira, 26 de outubro de 2010

A gente estava lá

Via SMS:

25 out, 2010 6:25:05 PM (de Karla Natal para Carla Vergara)
Adélia tá soltinha aqui no meio da livraria. Esta ela e seu amor feinho! Mto fofo! Vc vem? Vou guardar seu lugar até qdo der

25 out, 2010 6:25:54 PM (de Carla Vergara para Karla Natal)
Já tô aqui dentro garantindo o meu lugar e o seu. Vem logo! Bjs


Este post não é só meu, é também da Karla Natal, que estava comigo na Travessa do Leblon para o lançamento de A DURAÇÃO DO DIA, novo livro da Adélia Prado. Combinamos de escrever juntas sobre a delícia que foi escutar esta linda poeta falar.

Minha primeira idéia era fazer um início e um final e, deixar o meio para a Karla rechear. Só que este formato não deu tão certo porque a Adélia é poética demais pra chegar na gente do mesmo jeito. O texto da Karla e o meu estavam inteiros em si, porque a poesia dela nos completa de modo particular, fez uma gestalt nas nossas almas, dá pra entender?

Então vai ser assim: o meu texto e depois o dela. Vai ficar enorme, mas é o tamanho que a gente precisa pra se expressar.

Primeiro eu:

Ela (Adélia) estava muito simples quando a vi da primeira vez, muito sentadinha no café, cotidiana. Carregava a vida nas ancas, os olhos cheios de rugas e poesia. Observava uma coisa que lhe mostravam, uma coisa que eu não vi o que era. Estava atenta, fazendo bem o que disse minutos depois:

“A poesia é maior que o poeta
A obra é maior que o artista
É melhor mesmo nem conhecê-lo, é sempre uma decepção
O meu cotidiano?
Eu tenho que falar isso? O meu cotidiano não interessa...”

O que mais ela disse? Coisas de uma sabedoria ancestral:

“Eu tive uma experiência poética: a beleza através da palavra. Algo assim: É TÃO BONITO QUE SÓ PODE SER VERDADE! É uma convicção interna de que algo que é maior que você existe. Mas não é isso que eu estou falando aqui, é uma experiência, é vital, é sangue e ossos.”

“Jung teve a coragem de dizer que religiosidade é um instinto, uma vontade de descansar em algo maior, deitar no seguro. A poesia é religiosa neste aspecto, ela religa a um centro de significação e sentido, à transcendência.”

“O poema verdadeiro é sempre novo. A experiência com a beleza é sempre nova. A arte faz isso e, se você dá um passo a mais, cai na mística.”

Então ela lembrou um poema de Augusto dos Anjos que eu não me lembro qual é. Vamos ver se a Karla, que vai escrever este post comigo, anotou. E citou um trecho do poema Tarde de Maio, do Drummond, que a deixou neste estado de “NOSSA, COMO É BONITO ISSO!” :

“Como esses primitivos que carregam por toda parte o maxilar inferior
de seus mortos,
assim te levo comigo, tarde de maio”


Disse ainda:

“A poesia é a linguagem por excelência, é a síntese. Diz-se num poema o que numa prosa pode levar páginas e páginas.”

“O poeta expressa o que cada um sente mas não consegue articular. Se o poeta sofre? O sofrimento do poeta é negar-se a isso.”

“O poeta é o cavalo do santo.”
ISSO É UM POEMA, NÃO É ADÉLIA?

“A pessoa é tocada pela poesia onde a humanidade dela é confirmada. A poesia humaniza pela beleza.”

Entre essas palavras, alguns poemas foram lidos por ela, pela atriz Cassia Kiss e pelo poeta Ramon Mello. Eu vou colocar aqui o poema com o qual ela concluiu a conversa:

Mulheres
Ainda me restam coisas
mais potentes que os hormônios.
Tenho um teclado e cito com elegância
Os Maias, A Civilização Asteca.
Falo alto, às vezes, para testar a potência,
afastar as línguas de trapo me avisando a velhice: “Como estás bem!”
Aos trinta anos tinha vergonha de parecer jovenzinha,
idade hoje em que as mulheres ainda maravilhosas se processam
ácidas e perfeitas como legumes no vinagre

De qualquer modo se o mundo acabar a culpa é nossa.

E depois, quando eu fui pegar o autógrafo no meu A DURAÇÃO DO DIA e no do Lucas QUANDO EU ERA MENINA, ela ainda dedicou! Perguntou a idade dele e afirmou a saudades no neto. Tão avó, tão feliz da vida quando eu disse que o primeiro poema que eu decorei foi ENSINAMENTO! Pode isso? Ela feliz? Imagina eu?!

“Carla, que a poesia seja sempre sua fiel companheira. Com carinho, Adélia Prado”
- SERÁ!

“Para o Lucas ficar amigo da Carmela e do Alberto. Muitos beijos da Adélia Prado”
- JÁ É!

Concordo com você, Adélia: “Meu bem supremo é o lugar onde sonhar é a máxima vigília”. Sonhei te conhecer e realizei.

Agora a Karla:

A Carla enviou por email aos amigos o tal evento de lançamento na segunda. Eu li logo pela manhã e torci pro dia durar pouco e me colocar logo de frente pro espetáculo lindo e simples que é ouvir Adélia Prado.

Eu tinha terapia no horário marcado, mas não senti culpa em desmarcar...tinha certeza do que estava fazendo, já que já tinha tido meus momentos de ‘tietisse’ em outras oportunidades.

Meu vô, de quem eu sinto saudade há quase 2 anos, me deu embrulhado pra presente a coleção inteirinha da poeta – eu estudava sua obra na escola da Lucinda e eu cheguei em casa tão maravilhada, que ele quis que eu não deixasse de ter por perto nenhuma linha assinada por ela.

Ele me deu um tesouro e se referia tão docemente a dona dos livros que me comprou, como D. Adélia – que podia ser uma vizinha, uma amiga da família...foi então que contei a Carla que esse foi o primeiro livro que meu vô não me deu, mas não tinha tristeza nisso, tinha poesia, a tal da experiência poética, arrebatadora e que eu soube entender.

D. Adélia é simples e eu me peguei desejando muito ser assim também. Eu já não me lembro o que foi que ela citou sobre Augusto dos Anjos, porque especialmente ontem, estava mais atenta ao que é ingênuo, puro e cotidiano. Ela disse: ‘eu só falo português e não leio em outras línguas’. ‘Eu não tenho muita habilidade com computador, escrevo a lápis e o Zé passa pra mim’...

Perto dela todos os outros parecem sobrar, gritam em seu exagero, é excesso. Aos 27 anos e eu querendo cuidar pra envelhecer na medida do necessário, ser bonita e dona, como a minha D. Adélia.

Eu de novo:

Agora é depois do almoço quando eu estava com duas amigas contando: como é que a gente finge que o mundo continua igual depois de encontrar Adélia Prado, hein?

A gente não finge
O mundo não volta
A gente fica com ela dentro da alma
Cheia de poesia e beleza
Com muita vontade de ser melhor.

domingo, 24 de outubro de 2010

Devoção

Amanhã tem Adélia Prado autografando seu novo livro A DURAÇÃO DO DIA, na Travessa do Leblon.

Eu não devia dizer isso aqui porque a verdade é que eu queria que não fosse ninguém. Queria que estivéssemos lá apenas ela e eu, íntimas, numa prosa de fim da tarde com cafezinho, sem hora, sem pudor, desejo presente, toda entrega possível.

Não, mentira, queria ficar com ela em silêncio, olhando. Observar como ela se move, as expressões do seu rosto, a roupa que ela usa, os modos como mexe no cabelo e come.

Pensando bem, gostaria que Adélia não me visse. Talvez eu não consiga ficar diante dela, me sinta estranha, pensamento vazio. Eu não saberia o que dizer diante da sua sabedoria, da essência poética que ela produz.

É melhor mesmo que vá muita gente e eu fique anônima. Publico este post torcendo para que um monte de gente que gosta dela leia e esteja lá pedindo a assinatura, para que a minha vez passe sem ela me perceber.

Não preciso que ela diga nada olhando pra mim. Ela já diz muito quando estou em silêncio e com dor.

"Não há culpados para a dor que eu sinto. É Ele, Deus, quem me dói pedindo amor como se fosse para eu ser Sua mãe e O rejeitasse.
Se me ajudar um remédio a respirar melhor, obteremos clemência, Ele e eu.
Jungidos como estamos em formidável parelha, enquanto Ele não dorme eu não descanso".
Consanguíneos, Adélia Prado em A duração do dia.

É a companhia de Deus está mulher.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Ressurreição

Aboliu-se do direito de exercer-se mãe.
O dever, que nasceu quando o filho lhe rompeu o ventre,
era fardo, forte demais.
Mais fácil abandonar as dores soltas
deixá-las trôpegas pelo caminho em busca da própria cura.
Um filho,
por primeiro e para toda a vida,
te vasculha as entranhas: não tem jeito.
Não são todas que conseguem carregar pela vida as imagens partidas de si.
Suas lentes tontas não juntam
não tocam
não cuidam.

Mas a vida é esta possibilidade viva de se ter outra mãe
Nascer de novo sem morrer, tantas vezes
até que se tenha alegria.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Dorotéia, a centopéia

Por dias mais criança no dia das crianças, e nos outros também


Dorotéia, a centopéia, nasceu num livro de Ana Maria, foi assunto da hora de dormir com meu filho por alguns dias e, ontem ganhou formas coloridas de cartolina unindo três gerações. Vó Sônia, Lucas e eu, muito intensos na tarefa, recortamos corpo, pernas e sapatinhos, colamos, pintamos e desenhamos até que tivesse vida esta personagem de ficção.

Foi tão alegre a sua feitura, tão comemorada a sua chegada, que Dorotéia não se furtou de se exibir para as visitas que chegavam pelo dia das crianças. O bolo de chocolate na mesa e lá estava ela se provando nascida, me mostrando mãe. Era uma testemunha não ocular da nossa viagem, pois que seus ângulos estavam fartos em traduzir os olhos que se debruçaram para a sua produção.

Eu mais uma vez alfabetizada no brincar-vocabulário que se aprende no cotidiano da maternidade e me torna íntima da menina que deixei de ser por força da idade, mas não da imaginação.

Hoje, logo depois do almoço, recebi a seguinte ligação:
- Mãe, posso levar a Dorotéia dobradinha na mochila pra casa do meu pai?

Pensam que eu disse sim? Mas é claro que não! Como eu poderia cortar a nossa ligação sem ao menos uma despedida? Um aceno de mão? Mas achei fofo que meu filho tenha reconhecido o nosso umbigo, mesmo sem registro de certidão.

Veio a inspiração: não há melhor poesia do que a vivência onírica de um filho. Nada é melhor do que um livro, um brinquedo construído, as cores espalhadas na mesa da sala e a força da criação.

Dorotéia vai ficar exposta na feira de livro da escola: nós unidos a ela, em eterna gratidão.

Dorotéia, a centopéia
Ana Maria Machado
Coleção Batutinha

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

É tanta coisa boa que resolvi fazer um post!

Não é raro abrir aqui no blog um post para recomendações de trabalhos bacanas dos amigos.
Cada coisa boa acontecendo! Muito bem:

1) Sexta agora, dia 08/10, 20h, show do Mauro Aguiar na Sala Baden Powell (Av. Nossa Senhora de Copacabana, 360)


Conheci o Mauro de uma forma muito moderna: ele me adicionou no facebook por ter visto poesia nas minhas aparecências na Internet. Depois de aceitar, descobri que ele é um grande compositor e cantautor! Comprei o seu disco Transeunte e vi que a coisa era muito mais séria do que eu pensava.... Quando ele me perguntou o que eu tinha achado o melhor do CD, escrevi uma coisa que depois foi para sua página no myspace sob o título "Opiniões sobre o transeunte que me deixaram nas nuvens":

"O melhor do CD é o CD todo. Quero dizer com isso que a sequencia de músicas, a mudança dos ritmos e temas dá uma cadência deliciosa de se escutar. Existem surpresas: você não espera que de repente apareça um fox!
O que sinto é que você respeita muito o ritmo que a ideia vem, como se a poética viesse primeiro e se vestisse de palavras e melodias. Daí você fica transparente e honra o nome dado ao trabalho.
A tua poesia é linda, vasta e farta. Dá vontade de ficar por perto pra se aquecer nas dobras e aproveitar as sobras! Passear pelos tantos universos que você apresenta.
As vozes femininas escolhidas se casam perfeitamente com as músicas... e se você pede que eu eleja uma, não farei apenas pela beleza explícita, mas por ter me caído justa e certa, na medida do que eu sinto: "os olhos da cara" é demais!!"


Pra completar, o show de sexta vai ter participação de Guinga, Paula Santoro e Cecília Stanzione. Imperdível!


2) Sexta que vem, dia 15/10, Gallo Absurdo, as 22h no Calabolço, em Vila Isabel (Felipe Camarão, 130).


Gallo absurdo é uma banda de rock instrumental realmente surpreendente. Foi surpreendente ainda mais porque conheci o Lula Washington tocando MPB no violão e, só depois, ouvi o que ele era capaz de fazer com uma guitarra junto com os outros gallos: um absurdo!


3) Larissa Sarmento é uma das Mulheres de Caio, peça em cartaz no IBAM de quinta à sábado as 21h, no Humaitá (Largo do IBAM, n.01, Rua Visconde Silva)


Mulheres de Caio é uma adaptação de 4 contos de Caio Fernando Abreu: O Príncipe Sapo, Creme de Alface, Os Sobreviventes e Dama da Noite. Tem poesia, delicadeza, humor e apresenta uma visão dramática do mundo moderno através do olhar do autor gaúcho, considerado por muitos como um “fotógrafo da fragmentação contemporânea".

Larissa, além de atriz, é uma grande poeta. Quem a viu dizendo poesias em uma roda aqui em casa, ou em recitais na Casa Poema, sabe do que eu estou falando...


4) A exposição "Volte Sempre" da Julia Miranda fica em cartaz até 31 de outubro no Paço Imperial, Sala 8b, pátio interno, Praça XV de Novembro, Centro.

Como eu conheci a Julia? A Ana Carneiro, que está trabalhando nos projetos gráficos dos meus livros, nos apresentou por skype - porque ela mora em Londres - e agora ela está fazendo as ilustrações do meu livro O PALHAÇO E A BAILARINA.


5) E para quem estiver em Salvador, tem 3 HORIZONTES na Caixa Cultural

3 HORIZONTES é um espetáculo do meu querido Cadu Cinelli e seu grupo OS TAPETES CONTADORES DE HISTÓRIA: lindo, delicado, emocionante!



"Temos a arte para não morrer da verdade."


Friedrich Nietzsche

sábado, 2 de outubro de 2010

A ambiquidade organizacional

Publico aqui o prefácio do livro A AMBIGUIDADE ORGANIZACIONAL, do grande mestre da psico-sócio-análise italiana GIUSEPPE VARCHETTA.

Quem me apresentou o Pino, que é o Varchetta dos mais chegados, foi o Marco Dalpozzo, com quem venho tendo trocas profissionais profundas relacionadas à vida das pessoas no mundo do trabalho, além de uma amizade muito bacana.

É um prazer e um sinal dos novos tempos que este livro esteja chegando no Brasil. Pino trata os temas organizacionais com a poesia necessária para que o ser humano seja visto da forma apropriada: com sangue, suor, amor, beleza, angústia e toda a sua ambiguidade.

O lançamento deste livro será no dia 04/10 (segunda-feira) no Instituto Italiano de Cultura do Rio de Janeiro, 18h, na Sala Italia, Av. Antônio Carlos, 40 4º Andar - Centro, Rio de Janeiro.

No mesmo dia será realizado um encontro aberto a todos os interessados entre ele e a professora Sylvia Vergara, minha avó com todo orgulho! As informações para quem quiser participar deste encontro são:

Data: 04/10
Horário: das 10h às 12h
Local: UFRJ – Campus Praia Vermelha – Salão Moniz Aragão do Fórum de Ciência e Cultura (av Pasteur, 250)
Realização: Human Focus e Instituto de Psicologia da UFRJ
Entrada Franca!

Va benne! Ao prefácio escrito pelo Marco Dalpozzo:

A Fronteira da Autorrealização

É com honra que escrevo estas palavras para apresentar a última obra de Giuseppe Varchetta. Ele representa uma importante escola de estudos, pesquisa e contribuição no estudo das organizações modernas. G. Varchetta foi diretor de Desenvolvimento Organizacional e Diretor de Recursos Humanso na Unilever Itália ao longo de 30 anos até o início de 2000, para depois dedicar-se plenamente ao estudo e pesquisa organizacional. Cofundador da escola de psicossocioanálise italiana (Ariele), Varchetta se aprofunda vocacionalmente em interpretar, de forma inovadora, como a realidade e a vivência do ser humano e das organizações evoluem no tempo. Pouco conhecido aqui no Brasil e de relevante importância na Itália, apoiar a publicação deste último trabalho de G. Varchetta representa a mínima contribuição pessoal em testemunhar no Brasil esta experiência com a esperança de aproximar ulteriormente duas realidades, a italiana/europeia e a brasileira, que seguramente têm muito em comum e a aprender uma com a outra.

G. Varchetta é um denso e generoso pesquisador que desfruta da rara capacidade de estudar, se aprofundar em uma ideia e vivê-la no dia a dia organizacional seja como executivo e hoje como consultor. Sua perspectiva traz sempre um rico esforço de inovação na pouco explorada vivência emocional das pessoas nas organizações. Seus estudos e aplicações trazem novidades na relação indivíduo–organização, uma leitura pioneirística e visionária do que acontece. Ele enxerga a estética e a heurística do ser humano trabalhando. Quem teve a oportunidade de acompanhar a evolução de sua pesquisa ao longo de sua experiência humana no trabalho (veja bibliografia do autor), teve a possibilidade de adquirir uma leitura evolucionista das angústias humanas e seus impactos em nossa mais ampla realidade social. G. Varchetta encontra uma intuição ao percorrer a realidade organizacional. Com ela concebeu ao longo de anos de pesquisa teórico-prática sempre extremamente generosa um filho conceitual, originário e original, que nasce e transforma o pensar e a perspectiva organizacional.

Neste último trabalho G. Varchetta prospecta a definição e o conteúdo de uma possibilidade da existência humana da autorrealização. Após um complexo caminho evolutivo, estamos experimentando a escolha do por que somos o que somos e fazemos o que fazemos. Organizações defensivamente utilizadas hoje nos deixam impotentes frente às máquinas inteligentes que fragilizam as paredes burocrático-culturais das instituições. Seres humanos despreparados em sentir com os próprios corações são chamados a interpretar a realidade com sentimentos próprios, podendo libertar-se dos trilhos de um percurso educacional moral, pouco cientifico e imposto, podendo enxergar-se humanamente e criativamente ambíguos. A experiência da ambiguidade retomando os clássicos da escola latino-americana (José Bleger) representa uma experiência primordial como nos mostra e explica G. Varchetta. Uma experiência natural e biológica do ser humano, que nos ajuda a reaproximar nosso mundo interno com o externo e podendo assim descobrir-se muito mais tortuosos e complexos, amplos e misturados com infinitas possibilidades de caminho a escolher. O autor nos mostra como o ser em busca de sua natural expansão requer um trabalho composto de saber fazer, uma dor e esforço de parir e de querer ser deste mundo com uma presença única e original: a autoria.

Temos o desafio de nos transformarmos em seres humanitários, conscientes da experiência global em um planeta finito e nosso. A contribuição do autor é marcante em expor intensamente mais uma fronteira existente, mas não ainda claramente enxergada: de como nós indivíduos componentes desta humanidade, habitantes da mesma casa e detentores dos mesmos direitos e deveres, precisamos, em primeiro, transformar a nós mesmos e as organiza-ções nas quais atuamos, em ambientes mais conscientes de nossos mistérios, originalidades e ambiguidades.

Após a leitura desta sofisticada obra, experimentei a vontade de narrar mais uma estética da realidade organizacional que acontece densa e não ouvida e que pode mover ou bloquear as pessoas fazendo. Os resultados das empresas são feitos de olhares, sorrisos, sofrimentos, medos, desejos, vidas vivas, únicas e belas. Aprender a contá-las com a coragem desta ambiguidade admissível é uma oportunidade de dar um salto na compreensão de nós mesmos e construir organizações mais saudáveis e sustentáveis.

É fundamental, ao terminar esta introdução, agradecer as pessoas que traduziram e contribuíram na releitura desta obra não fácil. São elas: Bruno De Nicola, que tem curado a tradução do italiano; e Carla Vergara e Daniel Karrer, que com sua aprofundada releitura em busca do efetivo sentido e significado das palavras, conseguiram dar a exata dimensão de quanto o autor se esforça em comunicar e que a barreira linguística, às vezes, pode comprometer a qualidade.

Rio de Janeiro, Outubro de 2010.
Marco Dalpozzo