sábado, 2 de outubro de 2010

A ambiquidade organizacional

Publico aqui o prefácio do livro A AMBIGUIDADE ORGANIZACIONAL, do grande mestre da psico-sócio-análise italiana GIUSEPPE VARCHETTA.

Quem me apresentou o Pino, que é o Varchetta dos mais chegados, foi o Marco Dalpozzo, com quem venho tendo trocas profissionais profundas relacionadas à vida das pessoas no mundo do trabalho, além de uma amizade muito bacana.

É um prazer e um sinal dos novos tempos que este livro esteja chegando no Brasil. Pino trata os temas organizacionais com a poesia necessária para que o ser humano seja visto da forma apropriada: com sangue, suor, amor, beleza, angústia e toda a sua ambiguidade.

O lançamento deste livro será no dia 04/10 (segunda-feira) no Instituto Italiano de Cultura do Rio de Janeiro, 18h, na Sala Italia, Av. Antônio Carlos, 40 4º Andar - Centro, Rio de Janeiro.

No mesmo dia será realizado um encontro aberto a todos os interessados entre ele e a professora Sylvia Vergara, minha avó com todo orgulho! As informações para quem quiser participar deste encontro são:

Data: 04/10
Horário: das 10h às 12h
Local: UFRJ – Campus Praia Vermelha – Salão Moniz Aragão do Fórum de Ciência e Cultura (av Pasteur, 250)
Realização: Human Focus e Instituto de Psicologia da UFRJ
Entrada Franca!

Va benne! Ao prefácio escrito pelo Marco Dalpozzo:

A Fronteira da Autorrealização

É com honra que escrevo estas palavras para apresentar a última obra de Giuseppe Varchetta. Ele representa uma importante escola de estudos, pesquisa e contribuição no estudo das organizações modernas. G. Varchetta foi diretor de Desenvolvimento Organizacional e Diretor de Recursos Humanso na Unilever Itália ao longo de 30 anos até o início de 2000, para depois dedicar-se plenamente ao estudo e pesquisa organizacional. Cofundador da escola de psicossocioanálise italiana (Ariele), Varchetta se aprofunda vocacionalmente em interpretar, de forma inovadora, como a realidade e a vivência do ser humano e das organizações evoluem no tempo. Pouco conhecido aqui no Brasil e de relevante importância na Itália, apoiar a publicação deste último trabalho de G. Varchetta representa a mínima contribuição pessoal em testemunhar no Brasil esta experiência com a esperança de aproximar ulteriormente duas realidades, a italiana/europeia e a brasileira, que seguramente têm muito em comum e a aprender uma com a outra.

G. Varchetta é um denso e generoso pesquisador que desfruta da rara capacidade de estudar, se aprofundar em uma ideia e vivê-la no dia a dia organizacional seja como executivo e hoje como consultor. Sua perspectiva traz sempre um rico esforço de inovação na pouco explorada vivência emocional das pessoas nas organizações. Seus estudos e aplicações trazem novidades na relação indivíduo–organização, uma leitura pioneirística e visionária do que acontece. Ele enxerga a estética e a heurística do ser humano trabalhando. Quem teve a oportunidade de acompanhar a evolução de sua pesquisa ao longo de sua experiência humana no trabalho (veja bibliografia do autor), teve a possibilidade de adquirir uma leitura evolucionista das angústias humanas e seus impactos em nossa mais ampla realidade social. G. Varchetta encontra uma intuição ao percorrer a realidade organizacional. Com ela concebeu ao longo de anos de pesquisa teórico-prática sempre extremamente generosa um filho conceitual, originário e original, que nasce e transforma o pensar e a perspectiva organizacional.

Neste último trabalho G. Varchetta prospecta a definição e o conteúdo de uma possibilidade da existência humana da autorrealização. Após um complexo caminho evolutivo, estamos experimentando a escolha do por que somos o que somos e fazemos o que fazemos. Organizações defensivamente utilizadas hoje nos deixam impotentes frente às máquinas inteligentes que fragilizam as paredes burocrático-culturais das instituições. Seres humanos despreparados em sentir com os próprios corações são chamados a interpretar a realidade com sentimentos próprios, podendo libertar-se dos trilhos de um percurso educacional moral, pouco cientifico e imposto, podendo enxergar-se humanamente e criativamente ambíguos. A experiência da ambiguidade retomando os clássicos da escola latino-americana (José Bleger) representa uma experiência primordial como nos mostra e explica G. Varchetta. Uma experiência natural e biológica do ser humano, que nos ajuda a reaproximar nosso mundo interno com o externo e podendo assim descobrir-se muito mais tortuosos e complexos, amplos e misturados com infinitas possibilidades de caminho a escolher. O autor nos mostra como o ser em busca de sua natural expansão requer um trabalho composto de saber fazer, uma dor e esforço de parir e de querer ser deste mundo com uma presença única e original: a autoria.

Temos o desafio de nos transformarmos em seres humanitários, conscientes da experiência global em um planeta finito e nosso. A contribuição do autor é marcante em expor intensamente mais uma fronteira existente, mas não ainda claramente enxergada: de como nós indivíduos componentes desta humanidade, habitantes da mesma casa e detentores dos mesmos direitos e deveres, precisamos, em primeiro, transformar a nós mesmos e as organiza-ções nas quais atuamos, em ambientes mais conscientes de nossos mistérios, originalidades e ambiguidades.

Após a leitura desta sofisticada obra, experimentei a vontade de narrar mais uma estética da realidade organizacional que acontece densa e não ouvida e que pode mover ou bloquear as pessoas fazendo. Os resultados das empresas são feitos de olhares, sorrisos, sofrimentos, medos, desejos, vidas vivas, únicas e belas. Aprender a contá-las com a coragem desta ambiguidade admissível é uma oportunidade de dar um salto na compreensão de nós mesmos e construir organizações mais saudáveis e sustentáveis.

É fundamental, ao terminar esta introdução, agradecer as pessoas que traduziram e contribuíram na releitura desta obra não fácil. São elas: Bruno De Nicola, que tem curado a tradução do italiano; e Carla Vergara e Daniel Karrer, que com sua aprofundada releitura em busca do efetivo sentido e significado das palavras, conseguiram dar a exata dimensão de quanto o autor se esforça em comunicar e que a barreira linguística, às vezes, pode comprometer a qualidade.

Rio de Janeiro, Outubro de 2010.
Marco Dalpozzo

Um comentário:

  1. Que emoção ler as palavras do nosso querido cappo! Parabéns, my friend, por mais esta realização: apoiar a existência desta obra em terras brasileiras! Beijos...

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