quinta-feira, 22 de abril de 2010

Com licença poética

"Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou."

Adélia Prado

Com licença poética, Adélia,
Hoje cada palavra tua saiu da minha boca, do mesmo modo com que crio os meus poemas: um tanto tonta, de tão lúcida.
Andam juntas uma mulher forte e uma menina delicada como que fazendo o ciclo da vida, o cio feminino: giro para iluminar, acendendo estrelas à quem se põe ante o céu; choro despetalando a rosa, desejando "o bem me quer" no final - Quanta vida há em mim.
Reviro o rosto contorcendo o corpo sem perder o ritmo: a musica não pára e vive linda em sua cadência.
O céu é mar, mas transcendendo em capricórnio, bato as patas sobre a terra como quem exige o que é seu.
Falta fogo, falta ar. A caminhada está longe de acabar, mas a lua é farta, a água sobra e os recursos do planeta sabem trilhar as necessidades.
Oh, Adélia, me confesso como quem pede conselhos a uma velha sábia. Converso contigo de modo tão íntimo que me sinto dona de ti! Tomo este poema pondo tua assinatura na minha, tua sina na minha dor!
E desdobrada a cada dia, como em toda fase que se inicia - eu amo a tua poesia e declaro aqui este amor.

3 comentários:

  1. Querida Carla,
    Adélia vai fundo na dor, com ela aprendi que a poesia diz da sombra lindamente. As palavras dela põe nossa mão no escuro e, depois de um arrepio, a gente sente a mão da nossa sombra segurando a nossa mão. A luz não se acende prontamente, mas o medo vai embora. Incorporar a Adélia é se encontrar nesse breu luminoso e se conectar com a sua própria velha sábia. I see you.

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  2. Mais do que desdobrável, queridinha! Sorte a
    minha ter entrado agora no seu blog. Chego a me arrepiar. Faz tempo que estou na estrada. Foi uma grata surpresa me deparar com nossa querida Adélia. Quando voltar, poderei ler o que perdi esses dias, mas fique certa de que ... " desdobrada a cada dia eu amo também e muito a sua poesia".Beijoca com saudades.Tchia

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  3. Minhas queridas: nos unimos rezando esta biblia, rumo à essência da vida. Bjs mil.

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