sexta-feira, 10 de abril de 2009

Eu quero viver exatamente o agora e tecer o amanhã com fios de amor

“A Criança Nova que habita onde vivo
Dá-me uma mão a mim
E a outra a tudo que existe
E assim vamos os três pelo caminho que houver,
Saltando e rindo
E gozando do nosso segredo comum
Que é o de saber por toda parte
Que não há mistério no mundo
E que tudo vale a pena. “
Alberto Caeiro / Fernando Pessoa

Enquanto não há o que dizer de tanto sentir, conto que muito aprendi. Respeito a hora matutina, ainda escuro, quando não avisto o ponto de chegada. Carrego no ventre uma humanidade inteira: engravidei de visões e não posso abandonar os filhos na travessia – este Homem haverá de mudar e este mundo será outro. Perdi os contornos, desmancho sem controlar, justo eu que careço de limites. Benditas as palavras que me cercam, se não eu ia evaporar...
Eu quero viver exatamente o agora e tecer o amanhã com fios de amor. Me achei de ser tecelã de uma teia forte e fluida. Aprumei de incluir na batalha cada lágrima, toda angústia das coisas inomináveis e os apertos no coração. Os sorrisos são meus guias pelo gosto da essência que tem – de criança. Eu concentro, olho dentro: tanta coisa! Carrego em mim toda confusão de um fato perto da morte: um filme que passa, sem início e sem final, mas pleno de sentidos para um aprendizado súbito.
Com as pessoas que costurei e emprestei meu estampado, com aquelas que cozinhei e alimentei o meu trajeto, está no peito alguma marca, uma lembrança, uma força de continuar a entregar todo meu tesouro a cada instante. Descobri que a presença é um presente raro que eu sei dar - depois de muito me esquivar entendi, e por isso sou capaz de passar horas a fio a conhecer universos e sabendo de mim.
Desejo uma gente que se reconhece por apenas olhar: nenhuma palavra traduz seu valor a não ser a palavra amor, que não se pode reduzir.
Cada poema: uma flor nascida inesperadamente num seio de pedras. Um milagre que não se entende e se confia como amuleto. Um poema com palavras, sem palavras, feito abraços, leitos ou lares de abrigar os sonhos altos. Eu quero sonhar sonhos altos pra voar em balões.
É hoje o dia, é esta a hora, o que é preciso está dentro: os encontros são de minha responsabilidade e fruto da minha coragem pra ir além dos alicerces. O meu coração pulsa e posso sentir a curva de transmutar logo adiante em mim. É triste o instante de respirar, mas há esperança por unir-me ao Deus criança que passeia naquela aldeia por onde Caeiro andou. De tudo que existe, as coisas concretas de me apegar são: meu filho me chamando pra brincar, mate gelado na geladeira, chorinho na praça e tapioca, desejo de viagem e alguma fome. De tudo que insiste em ser relevante, só uma coisa importa: viver exatamente o agora e tecer o amanhã com fios de amor.

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