terça-feira, 14 de abril de 2009

O peito às voltas e um coração que não descansa pela floresta da madrugada

“Só a alma atormentada pode trazer para a voz o formato de pássaro”
Manuel de Barros

O peito às voltas e um coração que não descansa pela floresta da madrugada. Desejo uma queda de 25 metros para a vida sorrir pra mim: uma queda em água seguida de cachoeira e meu corpo passear sem esforço. Sou vasta de palavras que buscam preencher o espaço entre minha fantasia e eu. Existem fatos: sorrio mais do que a maioria - ser alegre é uma referência. Vivo a pele, o peso e o líquido com intensidade. Gosto de sexo pela manhã, de noite e de tarde, sendo capaz de passar horas nesta ocupação (me enrosco no corpo do outro e desfruto do seu universo e do meu – amplidão). Adoro conhecer o mundo mas me apego demais ao meu leito e, mesmo sem leite, continuo amamentando, então quase não saio daqui. Tenho medo, choro verdadeiramente com dificuldade e não sei o que pode acontecer se estabeleço limites.
Vim à vida para a maternidade e tenho a ilusão de que tudo nela segue o processo de concepção, geração, parto, desenvolvimento, maturidade e morte. Tive várias mortes que não controlei, algumas delas por suicídio. Nasci algumas vezes por querer e cresci de forma natural ou forçada, outras vezes sequer percebi e já estava com desenvoltura e espanto. Tenho vontade de que a noite seja um útero de me refazer, o que poucas vezes atinjo. Há mentiras que me servem, caem bem no meu repertório de sobreviver dentre as verdades que descarto. Há verdades que eu adoro e me apego. Ambas (mentiras e verdades) compõem um eixo de eu navegar e me sustentam num caos em equilíbrio sem concentração. Quando a escrita me acontece nada interrompe, nem o que há por fazer: é uma ordem.
Sinto-me sozinha demais: por dificuldade de saber quem eu sou, quem são os outros, e que podemos conviver sem sermos uns os outros - isto é só uma hipótese que há tempos investigo, ainda sem conclusão. Nas horas em que divago: procuro mensagens no celular, leio textos na Internet, vejo fotos de momentos que de amar, tudo muito rápido e sem profundidade. Temo fortemente a hora de ver grande e de perto, vôo alto ou passo rente às trevas, me queimando só na superfície... e eu odeio a superfície porque ela não me satisfaz.
Me visto colorida e na moda, como desordenadamente, durmo mal se estou ansiosa, falo de forma descompensada e vou na paralela. Sonho com freqüência e me lembro: uma dádiva. Não avisto o ponto de chegada, e É CHEGADA A HORA, eu sinto! Eu sinto e vejo, tudo em volta me diz. Que diabos será quem eu sou? Que anjo me dará a mão? Este ano até na igreja fui e orei, mesmo sem fé. Invejo a crença alheia e só confio na poesia: só nela e nem em mim. Estou com vontade de parar a vida e desfrutar de um ócio profundo e terno: virar caramujo, hibernar e, então, feito caule, crescer pro futuro numa diferente tonalidade. Eu quero ser um sol e amanhecer bem de tarde, só depois de espreguiçar. Desejo preocupar só com as coisas que valem à pena. Mas o que vale à pena? Qual a essência? Repito a pergunta com a um mantra, no sentido de decifrar. Eu penso que só respondo se relaxar, eu penso sem relaxar, eu penso e não respondo, eu penso só, eu penso, penso.. e o peito às voltas, um coração que não descansa pela floresta da madrugada onde me acho nitidamente acordada, a procurar o amor.

2 comentários:

  1. Lindo, um dos seus textos mais belos. Poesia derramada!

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  2. Carlinha,sua poesia inebria e preenche o tempo que nos distanciou.Me orgulho de vc e da sua sensibilidade.A vida nos reserva muitas alegrias , quero ouvi-la e abraçá-la em toda sua plenitude e possibilidades.
    Com amor.
    Flávia.

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