quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

To be or not to be?

Outro dia eu estava no taxi voltando da balada, atormentada por pensamentos inglórios – ah... queria tanto ter um namorado, ficar em casa, ar condicionado, vinhozinho, DVD (você sabe do que estou falando, certo?) – e num ímpeto incontrolável eu disse, ao descer da viatura: “moço, se você pegar um passageiro entre 30 e 45 anos, solteiro, pode deixar aqui em casa”. Ou seja: surtei.

Ele e uma amiga que estava comigo quase morreram de rir. Eu, mais vaidosa do que nunca por conta dessa tirada sagaz na madrugada, já me animei de colocar o pensamento no Facebook pra alegrar os internautas de plantão. Subitamente fui acometida por uma paranóia total... mas o que será que vão pensar de mim, blá blá blá, ti ti ti – e reprimi. Tudo bem, agora estou fazendo bem pior escrevendo isso aqui, mas tem um contexto, um propósito, uma discussão (charme de intelectual):

E-MAIL:

Você teve um encontro, ou melhor, um desencontro com o gato. Já no trajeto de casa você começa a elaborar aquele email: frases de efeito, figuras, hyperlinks. Você resgata o passado, traz conceitos, revive diálogos, propõe um caminho e registra tudo no digital. Você deu um tapa na cara dele, mas não quer terminar. O email tá pronto. To send or not to send?

Você apresenta o projeto para o cliente e pensa: foi sucesso, arrebentei! Todo mundo sorriu, fez cara de que gostou e você já se prepara para redigir a renovação do contrato. No escritório, atualizando o “enviar e receber” cai aquela mensagem: agradecemos a entrega do projeto. Entraremos – ou melhor – estaremos entrando em contato caso haja uma nova oportunidade de trabalho. Você não agüenta. Clica no reply e freneticamente digita: VOCÊS SÓ PODEM SER BIPOLARES. Você precisa decidir entre perder o cliente para sempre ou manter a saúde do seu estômago: To send or not to send?

Você chega no trabalho feliz e contente e corre pro inbox. Tem uma mensagem de um sujeito mal amado, de outro departamento, para o seu chefe, com cópia pra torcida do Flamengo, esculachando o seu projeto. Você recorre a emails anteriores, busca todas as datas, pessoas e elementos incoerentes pra provar que o seu trabalho é simplesmente o máximo. Monta, então, aquele email-dossiê, com cópia pra torcida do Fluminense, que é mais selecionada. To send or not to send?

FACEBOOK:

Você conhece um carinha super legal. Conversa a noite toda, carinhos, olhares, histórias da infância, sonhos profissionais. Você dá pra ele. Naquele instante você: quer casar, mudar, ter filhos e cachorros correndo pela casa, café da manhã Doriana (vocês são ricos e trabalham pouco). Vão embora “tão apaixonados que esquecem” de trocar telefone. Você chega em casa e corre... Pra onde? Pra onde?... Pro Facebook. Ele tem perfil. Passa um dia e ele não te cutuca, não te deixa massagem no seu inbox e muito menos te add. Você quer fazer contato mas ouviu, desde a infância, que é preciso deixar o homem tomar a iniciatva. Você também ouviu que não devia dar na primeira noite, mas isto você esqueceu. Dedinhos coçando, e aí: To add or not to add?

Você entra o Facebook e, na página principal, você encontra o seguinte pensamento: "hoje, às 8:37 da manhã, soltei um pum. Não foi barulhento, mas fedeu. Eu estava no elevador com apenas um amigo meu, sou seja, só poderia ter sido eu". Ah??? O que leva uma pessoa a compartilhar tal experiência com 948 amigos? O que te levou a aceitá-la como amiga tua? Decisão: To comment or not to comment?

BLOG:

Você sai com uma amiga que está NAQUELES dias de reflexão. Ela te conta umas histórias mega esquisitas sobre relacionamento, sexo, amor, energia vital. Você pensa: ela pirou. Só que as paradas que ela te contou são cômicas de tão doidas. Você não agüenta e escreve um post pro seu blog moderninho – absolutamente baseado em fatos reais. Do jeito que ela está surtada a amizade pode ficar abalada. Então, To post or not to post?

MSN:

O seu relacionamento está uma droga (sendo super conservadora na palavra). Aquele lindo, gostoso, inteligente e sagaz rapaz está online. De vez em sempre ele te dá aquela scaneada, mas você é fiel, jamais faria isso. Mas naquele dia, justo naquele dia que ele está de jeans, camiseta branca e All Star azul, você pegou um SMS super esquisito no celular do maridão. E agora: To talk or not to talk?

Uma parada que eu custo a acreditar, mas tem gente que jura que é possível. Você está há meses teclando com ele. Neste processo vocês flertaram, namoraram, casaram, tiveram cinco filhos, se divorciaram e agora estão se reconciliando (um com o outro), sem nunca terem se visto. Um dia você acorda e diz: ENOUGH! To block or not to block?

TWITTER:

Vixi! Ainda não conheço está ferramenta a ponto de criar ou reproduzir histórias sobre ela, mas que tal pensar que: você vai pro sambinha, dá de cara com o Jesus traindo a Madonna e deseja, soberanamente, jogar este furo de reportagem no global – com link pro videozinho que você fez via celular, e colocou no YouTube? Viagem essa historinha, mas dá um desconto e considera a questão, vai. To twit or not to twit?

AGORA:

Vamos resgatar algumas perguntinhas básicas. Peguei umas da Laure Guy, educadora infantil que as coloca pro Grégoire Bouillier – o cara que terminou com a Sophie Calle por email e gerou aquela exposição animal que ta rodando o mundo (uau, esbanjando cultura!):

1. Dê um título para essa história.
2. Quem é o herói da história?
3. Qual é o elemento perturbador?
4. Como o herói quebra o pacto?
5. Como ele decide resolver seu problema?
6. Dê outro final para a história.

Tá bom, vou simplificar: QUAL O ELEMENTO COMUM DESSA COISA TODA?

Do jeito que a nossa cabeça está a mil, ações frenéticas nessa cibernética, tenho certeza que haverá uma infinidade de elementos comuns que vão brotar na mente brilhante de cada um que resolver refletir a partir deste singelo texto. Vou deixar o meu registro aqui, porque gente que é pessoa não pode faltar com opinião (retornando ao propósito e resgatando o charme intelectual):

As redes sociais vêm provocando uma transformação significativa o nosso jeito de se relacionar, em várias dimensões. A partir delas, as formas de comunicação se ampliaram, cresceu o número de conexões entre indivíduos e grupos, abriram-se novas possibilidades para que a nossa identidade cresça e apareça.

Entretanto, as questões humanas permanecem absolutamente fundamentais. Desejo de pertencer, encontrar um amor, conhecer um amigo legal, dialogar; sonho de ter um trabalho sendo desenvolvido, visto e reconhecido; possibilidade de criar, copiar, recriar. Necessidade de SER.

Os sentimentos de medo, dificuldade de entendimento, alegria, ansiedade e apaixonamento - entre outros mais - são os mais essenciais possíveis.

Muita gente tem propagado a ideia de que as redes sociais tornam as relações mais frias e distantes. Eu prefiro que elas seja vistas como POSSIBILIDADE e não como defesa, assim como as N outras coisas mais na vida que podem ser usadas como escudo pra gente não entrar em contato com a gente mesmo e com o outro.

As máscaras sempre existiram. Até quando se olha olho no olho, elas podem estar lá.

O coração pulsa constante, mesmo em frente do computador.

Existe sangue nas veias daquele que digita, navega, checa mensagens, entra nos sites, viaja na conexão.

A internet pode vir por uma máquina, mas está cheia de emoção.

8 comentários:

  1. Carla,
    FANTÁSTICO DEMAIS!!! O quanto de criatividade advém de uma incerteza simples! Impressionante, amiga.

    Uma mistura de texto bem-humorado com reflexões valiosíssimas.

    Vou divulgar no Facebook, pra aproveitar o embalo cibernético.

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  2. Comentar ou não comentar, eis a questão! Mas como bem disse você "gente que é pessoa não pode faltar com opinião", a minha é: qualquer forma de expressão vale a pena. O que não vale é reprimir o sentimento... isso sim dá enjôo, dor de barriga e faz mal pra saúde, pra paz de espírito, pra felicidade, e pro amor! Liberta geral! Libera geral! E abaixa a repressão, repreensão, wharever...!!! Vamos nos expressar mesmo, sempre com afeto e com jeitinho, e vamos plantando e colhendo amigos e carinhos por aí! Com carinho pra vc, Mel.

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  3. Meu Deus! Quequiéisso! Morri de rir lendo aqui! Criatividade bombou! E o mais legal é que os exemplos são tão claros que podem levar até alguém mt tapado a refletir sobre essas "formas contemporaneas". Bauman, em "Amores Líquidos", diz que nesse tempo de conexões, o que vale é o movimento "conecta-desconecta" e que não desconectar-se, não estar preparado para esse ato é visto como fraqueza do indivíduo... Só sei que parei de ler o tal livro aí pra não deprimir rs rs e encontrei uma pessoas (dessas que tem opinião) e me conectei e sem desconexão rs rs e descobri que o Bauman... bem, o Bauman nao tem taaaaanta razão assim rs rs rs
    Bjs

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  4. Já mandei em forward para quem AINDA não te acompanha nesse mundo de reflexões e ações que és tu, teu blog, tuas veias e tua vida. Adorei a lembrança simples (e o que é mais elegante e sofisticado do que a simplicidade?) para algo tão esquecido: há vida, emoção e pulsação nos dedos que teclam e que tocam, extensões de fibra ótica da nossa alma. Amei! Bjs.

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  5. My friend, que texto delicioso...
    Vc está demais...
    Amei, amei, amei.

    Beijos, Dani

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  6. Por vezes já me peguei sendo a personagem destas situações. Atualizações no Orkut (To comment or not to comment?); Um ex-affair que entra no MSN quando você está em crise (To talk or not to talk); Um ex-namorado que te passa um daqueles e-mails de corrente (to respond or not to respond). São as oportunidades de se (re) viver ou por vezes, de confimar as escolhas feitas, as palavras ditas, o tempo que se passou. Por outras é a chance de se recomeçar, de se reinventar, de se refazer...
    Anyway, é o mundo girando, mas não retornando ao ponto de origem. São as águas do rio que daqui a um segundo já não mais são as mesmas.
    Filosofei demais já! Foi o meu momento de mosntrar meu charme intelectual! rsrs
    Beijos,
    Kel

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  7. arrasou, td mto real e atual! a gente ta pirando e se divertindo mto com td isso, né?
    Adoooooro td aqui!
    mtos bjos
    karla

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