segunda-feira, 1 de novembro de 2010

O toque

Houve um dia, um silêncio. Observei movimentos. Um corpo entregue a outro corpo pelas mãos, deixando que estas lhe imprimam força e direção.

É preciso estar delicado para ouvir um toque: não um empurrão, não uma forte pressão, mas um toque. Mãos leves, simples, precisas num contato que deve falar: comunicação.

Corpo com corpo: em si e no outro.

Não há no mundo cena mais bonita de ser vista. Os corpos em relação dançam ritmos, sensações, sentimentos, formas diversas. Eles se sabem sem palavras e ensinam caminhos. Livres, os corpos são a expressão do universo.

O toque me disse ser esta unidade mínima do encontro. O primeiro suspiro, a primeira respiração que se funde com o outro. Está certo, há um passo antes: o olhar, que pode até ser mais intenso do que o toque. Mas aqui não falo de intensidade, falo de toque: sua temperatura, pressão, textura e outras qualidades que ele pode adquirir.

O encontro humano é um campo infindável de possibilidades. Ao entregarmo-nos a ele na dinâmica dos corpos, tudo se transforma. Quero dizer com isto que é preciso responsabilidade. Perceber contornos, sinais de acolhimento e pedidos de socorro é a consciência que todos devemos desenvolver para entrar no contato com outro corpo.

Num exagero profundo e comprometido afirmo: a nossa responsabilidade conosco e com o mundo começa na nossa maneira de tocar e ser tocado. O corpo é a casa da alma. Toda renovação se inicia por ele: nossa carne. Se de pele somos feitos dentro e fora, se este é o tecido que a tudo costura, devemos tomá-lo como quem respeita a vida humana e acredita no amor.

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