
Tenho na minha memória que meu avô era amigo do palhaço Carequinha. Não sei se a história procede. Fato é que, por muitos Domingos da minha infância, assisti Carequinha apresentar-se no Rincão Gaúcho, churrascaria que ficava de fronte a casa dele, na Zona Norte do Rio. Uni os dois, por fato real ou invenção, e me pergunto o sentido desta doce lembrança viva no meu coração.
O que recordo do meu avô é a sua dança espalhada na sala. Também suas roupas sempre brancas e perfumadas pelo sabonete Lux. O queijo coalho frito cheirando no café da manhã. A minha irmã mais nova, ainda bebê, subindo e descendo da sua enorme barriga, por conta da respiração.
Ocorre que a dança do meu avô, a despeito do seu peso farto por conta da comilança, era leve. Seu sapato branco flutuava, e eu, respirava no corpo duro que eu tinha.
Sim, o meu corpo era duro. Foi um corpo anteparo das angústias que eu desconhecia. Envolvia uma mente pisciana de sonhos, que transformava a matéria bruta da vida em matéria prima de arte. Uma mente que transgredia a realidade e inventava. Criou uma pedra pra ficar de pé.
Na adolescência, a dança me compreendeu. Aprendi, por inconsciência feliz, a dançar. Salsa, bolero, samba de gafieira e até o zouk, lambada importada da França. Sem nenhuma técnica ou qualquer aula, eu deslizava. De segunda a segunda, entre suor e sorrisos, eu só queria saber de dançar. Até hoje a dança representa uma condição de saúde, uma cura, uma realidade suprema. Uma música dançada, para mim, é Deus.
O palhaço, que delicado:
Freud e seu Édipo explica,
Jung e seu arquétipo explica,
O palhaço e a bailarina.
O palhaço descobre, desde sempre, a minha criança alegre dos Domingos do Carequinha. A minha menina que desejou aprender a dançar, e conseguiu.
O que recordo do meu avô é a sua dança espalhada na sala. Também suas roupas sempre brancas e perfumadas pelo sabonete Lux. O queijo coalho frito cheirando no café da manhã. A minha irmã mais nova, ainda bebê, subindo e descendo da sua enorme barriga, por conta da respiração.
Ocorre que a dança do meu avô, a despeito do seu peso farto por conta da comilança, era leve. Seu sapato branco flutuava, e eu, respirava no corpo duro que eu tinha.
Sim, o meu corpo era duro. Foi um corpo anteparo das angústias que eu desconhecia. Envolvia uma mente pisciana de sonhos, que transformava a matéria bruta da vida em matéria prima de arte. Uma mente que transgredia a realidade e inventava. Criou uma pedra pra ficar de pé.
Na adolescência, a dança me compreendeu. Aprendi, por inconsciência feliz, a dançar. Salsa, bolero, samba de gafieira e até o zouk, lambada importada da França. Sem nenhuma técnica ou qualquer aula, eu deslizava. De segunda a segunda, entre suor e sorrisos, eu só queria saber de dançar. Até hoje a dança representa uma condição de saúde, uma cura, uma realidade suprema. Uma música dançada, para mim, é Deus.
O palhaço, que delicado:
Freud e seu Édipo explica,
Jung e seu arquétipo explica,
O palhaço e a bailarina.
O palhaço descobre, desde sempre, a minha criança alegre dos Domingos do Carequinha. A minha menina que desejou aprender a dançar, e conseguiu.
Ele é o macho da poeta que a minha mulher é. De quem as sapatilhas são, hoje, as palavras.
E ainda traz meu avô por dentro, rodopiando entre as nuvens do céu.