terça-feira, 20 de abril de 2010

A-dor-essência

"Quase entendo a razão da minha falta de ar
Ao escolher palavras com que narrar minha angústia,
eu já respiro melhor.
A uns, Deus os quer doentes,
a outros quer escrevendo."
Adélia Prado.

A missão:
SABER O QUE É HUMANO NESTE TERREIRO.
Bicho que urra, uiva, arde
E ainda diz que o amor é possível – a paz.
Caminho leve pelas manhãs
O sol invade
Cheia de responsabilidades, cumpro a suposta função
Enquanto a doida grita
Rebela, alucina.
Cadê a força da camisa?
A delicadeza?
Uma voz grita: PÁRA!
Te acalmas!
O tempo não é remédio santo?
Os segundos viram gotas na minha testa:
Uma a uma.
Um buraco me atropela no meio da simples alegria,
Me arrasta das belezas vividas
E do que posso e desejo ser:
Uma inteira em si.
Onde está a pequena que brincava nas flores de bom dia e,
Seria capaz de deixar pegadas na areia ao fim da tarde?
As ondas batem me tecendo aos poucos
Me rompendo o rosto sem voz e sem cor.
Em que caminho há de desaguar toda esta fumaça que me impede de olhar às claras o óbvio desta identidade infantil?
Alguém poderá suportar?
Perguntas destemidas,
Respostas descabidas,
Sonhos, imagens e passagens são a minha bagagem
Soterrada por uma violência
De noite vazia e sã.
Rios, navios pelos quais insisto navegar
Nesta vida-mar de frutos, filho, concreto
Verdade, dignidade -
Questionando se existe o abraço maior
Um certo Deus a mais que eu.
Sentir é fim ou meio?
Morrer é triste ou ato contínuo?
Sou esta russa-montanha
De mulher que ama
Nos becos da rua
Prestes a tornar-se grande menina
Nascendo de si por parto de sentir-se farta e aberta
De uma vida incerta do outro que já me vê adulta:
Velha ou antiga demais.
A pomba voa
A roda gira
Eu tonta e escrevendo sobre cada relevo
Apinhando os trevos
Os quadrados
As quinas
Numa saia branca e vermelha
A desenhar o trajeto.
Canto, conto
Historias sem sentido
Caminhos sem setas
Redemoinhos
Sopros de ar.
Perco-me no incerto
De mãos dadas à poesia
Ao colo deste enredo
Só possível nas palavras ditas ao pé do ouvido
Toda nua
Soletrando as digitais.

3 comentários:

  1. Te vejo andando na trilha da poesia como quem dita caminhos de mulher sábia e, ao mesmo tempo, os descobre com um coração de menina. Lindo! Beijos saudosos da sua fã número 1 (xii, vou comprar briga! rs rs)

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  2. Querida amiga,
    Em meio a poeira e ao deserto (e a falta de acentos nesse teclado estrangeiro) leio o sopro de vida da sua poesia. Ela e rica e me ajudou a dar contorno ao que estou vivendo nessa viagem interior, cheia de mares, montanhas, desertos e florestas. Cheia de vento e poeira e cabelo embolotado. Cheia de silencio, de lagrima e de amor pela vida. Obrigada sempre. Beijos!

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  3. Queridas Dani e Chris,
    Este caminho só é possível porque estou de mãos dadas à vcs, tão importantes na minha vida como cada palavra é para o poema. Esta menina e está mulher andam unidas como que formando o ciclo da vida e o cio feminino. Juntas percorrem tais montanhas, mares, desertos e tantas paisagens cruas pretegendo-se de chuva e do vento por serem juntas um amuleto de sorte. Obrigada pelo carinho.

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